Dois jovens da rede comboniana dão o seu testemunho a’O CLARIM
Cerca de 25 mil voluntários vão estar no Domingo reunidos com o Papa Francisco, no Passeio Marítimo de Algés, sendo este o último dos eventos da Jornada Mundial da Juventude em Portugal. Ao longo das últimas semanas foram milhares os jovens, e menos jovens, que abriram a porta de casa e o coração aos participantes na maior peregrinação juvenil do planeta. O CLARIM falou com dois deles.
Os casacos amarelos – com um inequívoco “V” estampado nas costas – não passam despercebidos nas ruas de Lisboa. Na aguarela de cores que por estes dias pintam a capital portuguesa com os tons universais da fé e da fraternidade, uma há que simboliza entrega, disponibilidade e serviço. Foram milhares os voluntários que ao longo das últimas semanas, de Norte a Sul de Portugal, ao nível das paróquias ou através de movimentos e organizações religiosas, colaboraram com a organização da Jornada Mundial da Juventude.
A maior peregrinação juvenil do mundo encerra, tradicionalmente, com um encontro entre o Santo Papa e os voluntários que trabalharam antes e durante a JMJ. O encontro entre o Papa Francisco e os cerca de 25 mil voluntários desta edição está agendado para o final da tarde de Domingo, no Passeio Marítimo de Algés, e servirá para que o Pontífice agradeça o trabalho, o empenho e a dedicação demonstrados por voluntários como Pedro e Cândida no acolhimento às centenas de milhares de jovens que ao longo dos últimos dias ajudaram a projectar Lisboa como um laboratório de fé e partilha.
Pedro e Cândida integram a Rede de Voluntariado Missionário da Família Comboniana e foram dois dos interlocutores da delegação de jovens católicos de língua chinesa que a diocese de Macau enviou a Portugal. Constituído por 39 peregrinos, o grupo, coordenado pela Comissão Diocesana da Juventude, viveu os dias da “Pré-Jornada” no Centro Missionário Comboniano da Maia e foi lá, como pedras fundamentais da “World Youth Comboni Gathering” – o evento de pré-jornada dinamizado pelos Missionários Combonianos – que O CLARIM os foi encontrar.
«O objectivo da Jornada é chegar até todos os jovens do mundo e trazer o máximo número de jovens possível, para que troquem experiências e possam beber, de forma mais profunda, dos ensinamentos do Catolicismo. A presença destes jovens num evento desta natureza prova que apesar das adversidades eles estão no bom caminho; estão a seguir o projecto que delinearam para si. Se tal não bastasse, é também uma oportunidade para fazer novas amizades. Muitas vezes é um aspecto importante e eu, como voluntário, ajudo um bocadinho nisso», começou por referir Pedro Cadeia. «A maior parte dos voluntários também já foram apenas peregrinos e percebem exactamente aquilo pelo qual estes jovens estão a passar. Apesar de envolver muitas horas de trabalho, de representar um grande esforço e de exigir muita disponibilidade, é algo com o qual convivemos bem, precisamente porque nos sentimos felizes. Sabemos que estamos a contribuir para a felicidade dos jovens, para um maior autoconhecimento por parte deles, para os ajudar a construir uma relação mais próxima com Deus e com os outros», acrescentou o jovem voluntário, que para além de um emprego a tempo inteiro tem ainda em mãos a conclusão da sua dissertação de Mestrado.
PARTILHAR E RETRIBUIR
A Comissão Organizadora da JMJ estima que entre 24 e 25 mil voluntários, provenientes de 140 países, colaborem ou tenham colaborado ao longo dos últimos quatro anos para tornar possível a edição de 2023. A estes acrescem vários outros milhares de jovens, e menos jovens, que ao longo dos últimos dias abriram a porta de casa e o coração a centenas de peregrinos oriundos de paragens tão díspares como Macau, Coreia do Sul ou Guatemala. Para Pedro Cadeia esse é, de resto, um dos grandes proveitos imediatos da JMJ. «A Jornada serve para aliciar, para transmitir energia aos jovens, mas depois é preciso conseguirmos cativá-los para que possam ajudar também nas suas dioceses. É um bocadinho por aí também que este entusiasmo com a Jornada ajuda: ajuda a trazer cada vez mais voluntários, a participar e a dinamizar as actividades que temos aqui», sustentou. «Temos voluntários que são mais novos, que são adolescentes. Mas, ainda assim, vieram, juntaram-se a nós e foram uma grande ajuda. São bastante jovens, mas têm uma energia extraordinária. E eu acho que para eles, que estão a crescer, o envolvimento numa iniciativa como esta pode ser muito bom», acentuou Pedro Cadeia.
NO FEMININO
Para Cândida, a organização em Portugal da JMJ constitui uma oportunidade para partilhar a experiência de fé e para ir ao encontro do outro, mas, de um ponto de vista pessoal, também para retribuir o que lhe foi oferecido. «Estive em Madrid, na altura como peregrina, e o sentimento foi muito bom, muito positivo. Pude sentir e viver a fé, não de uma forma solitária, mas tendo como ponto de partida a partilha e o encontro com tantos jovens diferentes. Tudo na linguagem do amor. Só por amor», recordou. «É na posição de oferecer aquilo que posso aos outros que me revejo. Neste caso, acolhendo os outros jovens, para que possam sentir a alegria, que eu também vivi em 2011, em Madrid, quando outros fizeram isto por mim. Hoje sou eu a retribuir, deste modo; e estar com o Papa, estar com tantos jovens e sentir esta alegria imensa no coração, é algo que me motiva. Mas também é algo que não pode vingar apenas por um dia, apenas por uma semana. Tem que crescer connosco e prolongar pelo resto do tempo. E este é o momento de abanar a Igreja, de reviver a nossa fé, de despertar», disse.
Na casa dos trinta anos de idade, Cândida foi uma das responsáveis pela gestão da logística alimentar durante os dias “pré-jornada” em que as instalações combonianas na Maia receberam o “World Youth Comboni Gathering”. A Rede de Voluntariado Missionário da Família Comboniana, explicou a voluntária, não deixou nada ao acaso. «Organizámos durante muito tempo o acolhimento dos peregrinos e dividimo-nos por equipas. Eu fui colocada na equipa de serviço da cozinha. Estive a trabalhar na aquisição de patrocínios de bens, a falar com empresas que nos pudessem dar o que pudesse ser possível: desde material de limpeza, a carne e a peixe. Tudo. A minha equipa foi ainda responsável por organizar ementas consoante o número de peregrinos, a indagar sobre peregrinos com intolerâncias. Tudo isso foi tido em conta», referiu. Mas há mais: «Estivemos também a organizar a estadia dos peregrinos na Maia em Santarém. Estive, portanto, na organização das ementas, das quantidades, a trabalhar com uma equipa pequena, restrita. Outros colegas ficaram noutras equipas: a equipa da Liturgia, da animação, da preparação dos jogos, das actividades. Outros ficaram na equipa das limpezas. Outros na equipa de acolhimento – são aqueles voluntários que receberam os peregrinos nos vários pontos onde estiveram, uns de avião, outros de comboio. E foi assim que nos dividimos», concluiu.
Marco Carvalho com Jasmin Yiu