Papa Francisco, homem de simplicidade, amante dos pobres, construtor de pontes

Papa Francisco, homem de simplicidade, amante dos pobres, construtor de pontes

Encontrei pela primeira vez o padre Jorge Bergoglio durante o meu noviciado em 1981, em San Miguel, Província de Buenos Aires (Argentina). O nosso noviciado dehoniano estava situado perto do Colégio Máximo, onde os religiosos jesuítas estudavam Teologia. Nessa altura, o padre Bergoglio era o reitor da instituição. Tinha sido mestre de noviços de 1972 a 1973 e, após seis anos como superior provincial, regressou à formação dos jovens jesuítas. O padre Jorge Bergoglio ajudou os jovens a crescer na espiritualidade inaciana como mentor, guiando-os no discernimento da vontade de Deus, promovendo a solidariedade com os pobres, abraçando a simplicidade e vivendo vidas de pobreza e obediência à vontade de Deus.
A segunda vez que o encontrei foi quando regressei das Filipinas à Argentina, no final de 2007, para ajudar na formação dos nossos seminaristas dehonianos. Nessa altura, o cardeal D. Bergoglio era o Arcebispo de Buenos Aires e, portanto, o meu bispo, uma vez que a nossa casa de formação estava situada na cidade, na mesma rua onde o Papa Francisco havia crescido, cerca de quinze quarteirões a Oeste, no seu querido “barrio Flores”. Durante esse período, encontrávamo-nos nas missas crismais, nos encontros diocesanos e noutras celebrações litúrgicas arquidiocesanas.
Quando o bispo de Jujuy, Monsenhor D. Marcelo Pallentini, veio para a nossa casa fazer quimioterapia, fiquei surpreendido por um dia encontrar o cardeal D. Bergoglio na nossa cozinha. Estava a preparar o meu “mate” (uma infusão argentina) quando ele entrou para me cumprimentar. Como sempre, tinha chegado sem avisar, depois de viajar em transportes públicos. A sua humildade e o seu sorriso caloroso cativaram-me nesse dia. Estávamos sozinhos e trocámos algumas palavras. Já não me lembro da nossa conversa, pois o carácter inesperado do encontro fez com que tudo o resto me escapasse da memória. Apesar das suas muitas responsabilidades numa Argentina turbulenta e politicamente polarizada, ele arranjou tempo para visitar o nosso bispo dehoniano Marcelo.
A terceira vez que o encontrei foi em 2013. Nesse ano, recebi o meu envio missionário para Macau e ao mesmo tempo ele foi eleito Papa. Parti da Argentina via Roma, onde me encontrei com o novo Papa na capela de Santa Marta, no final de Outubro de 2013. Foi um reencontro breve, mas profundamente caloroso. Disse-lhe que estava a embarcar numa missão na Ásia e ele deu-me a sua bênção.
Devo dizer, com toda a sinceridade, que o padre Jorge Bergoglio permaneceu inalterado na sua simplicidade, espontaneidade e genuinidade – como arcebispo, como cardeal e como Pontífice. O seu coração bateu sempre em uníssono com o dos mais pobres, dos deslocados, dos excluídos, dos abandonados. Sofreu ao lado das vítimas inocentes das guerras na Síria, na Somália, na Ucrânia, em Gaza, no Líbano e na Terra Santa… A maturidade espiritual do Papa Francisco levou-o a abraçar muçulmanos, patriarcas ortodoxos e rabinos judeus com uma familiaridade surpreendente. Nunca foi pessoa de fingir emoções – é genuíno, um autêntico construtor de pontes, um apóstolo da solidariedade e da fraternidade.
A sua última encíclica, Dilexit nos, sobre o amor generoso do Coração de Jesus, revela a fonte do seu zelo pastoral e do seu amor inabalável pela Igreja e pelos mais pequenos: “Quando nos parece que somos ignorados por todos, que não há quem se interesse pelo que nos acontece, que não temos importância para ninguém, Ele permanece atento a cada um de nós” (DN, n.º 40).
Obrigado, Papa Francisco, por partilhar connosco a Alegria do Evangelho e por nos incitar a ser uma Igreja em saída!

Pe. Eduardo Emilio Agüero, SCJ

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