Palavras Secretas

Orações que os padres sussurram a Jesus

No Rito Extraordinário há uma oração chamada “Oratio Secreta”, o que significa literalmente “a oração secreta”. Reza-se no final do Ofertório, e no Rito Ordinário é chamada de “Oração sobre as Oferendas.” Em Latim a palavra “secreta” deriva do verbo “secernere” que significa separar ou desligar. E, algo que é desligado, fica escondido. E porque é que se chama a “oração secreta”? Porque é rezada em voz baixa.

Na realidade, há outras orações que durante a missa são pronunciadas em voz baixa. Há orações que a Igreja Mãe incluiu apenas para o celebrante, para lembrar ao padre que «ele próprio é fraco» segundo diz a Carta aos Hebreus (5:2), e por isso – ainda segundo a Carta – «o sacerdote tem que oferecer sacrifícios em seu próprio nome, assim como no de outras pessoas». Como disse Henri Nouwen, «curandeiros feridos».

Todos os Cristãos devem rezar não apenas de vez em quando, ou quando se sentem com vontade para isso, mas, como Jesus disse 24/7 (24 horas por dia, 7 dias por semana): «oportet semper orare» – “devemos rezar sempre” (Lucas 18:1). S. Paulo faz eco destas palavras quando diz «sine intermissione orate» (I Tessalónicos 5:17). Uuups! Mas… estão sempre presentes o WhatsApp, o WeChat e o FaceBook Mensenger, SMS’s e Angry Birds…tantas distracções, hem?

No Livro de Leviticus os sacerdotes são instruídos desta forma: «O fogo sobre o altar deve aí ser mantido aceso, nunca se deve apagar; o sacerdote deve queimar madeira no altar todas as manhãs» (Levitícos 6:12). O fogo é, obviamente, apenas um símbolo da oração que deverá estar no coração do sacerdote, assim como no coração de cada crente, uma oração que nós devemos alimentar com as nossas próprias palavras e com palavras das Escrituras.

Assim, deixem-nos examinar algumas destas orações secretas, nem seja só para aprendermos algo sobre o como deveríamos rezar.

Antes do Evangelho o celebrante curva-se perante o Tabernáculo ou do Crucifixo, e sussurra: “Deus, todo poderoso, limpa o meu coração e os meus lábios, de forma que possa proclamar proveitosamente o Vosso Evangelho Sagrado”. Esta oração ensina-nos muita coisa. Uma delas é a pureza de coração e de dissertação necessária para podermos proclamar o Evangelho. Sem isso, as pessoas apenas ouviriam o padre e não a Cristo.

Nós, padres, somos os canais da Graça de Deus, mas podemos transformarmo-nos em obstáculos, através de egoísmo, arrogância, impureza, raiva, luxúria, avareza, ambição ou apatia.

Depois de oferecer Pão e Vinho, o padre curva-se novamente e diz : “Com espírito humilde e coração contrito possamos nós ser aceites por vós, Senhor, e que o nosso sacrifício de hoje possa agradar-vos, Senhor Deus”.

De novo, uma admissão de culpa. Uma vez mais uma confissão de que estamos manchados e feridos e que precisamos de ajuda. Só então apreciaremos o valor infinito do que está para acontecer sobre o altar.

Então, enquanto lava as suas mãos, o padre sussurra: “Lavai-me, Senhor, da minha iniquidade e limpai-me dos meus pecados”. Mais um “lembrete” poucos momentos antes de dizer em surdina a palavras : “Isto é o meu Corpo”, e “Isto é o Meu Sangue”. Nem mesmo a Virgem Maria possui o poder de convocar Deus agora e sempre, com apenas umas poucas palavras. Assim que essas palavras forem ditas, Deus obedece ao seu servo pecador, e desce ao Altar – Verdadeiramente, Realmente e Substancialmente.

Agora, muito perto do início da Comunhão, há duas orações que ajudam o padre a preparar-se para receber Jesus.

A primeira é assim: “Senhor Jesus Cristo, filho do Deus vivo, que pela vontade do Pai e Obra do Espírito Santo, pela Vossa morte deu vida ao Mundo; liberta-me através destes Vossos Sacratíssimos Corpo e Sangue, de todos os meus pecados e de todo o mal; mantém-me sempre fiel aos vossos mandamentos, e não me deixeis afastar de vós”.

Mantém-me sempre fiel… Quão bela é a fidelidade – no casamento e no sacerdócio. Nunca me deixes afastar-me de Ti, mantém-me perto de Ti (mas, isto significa pedir-Lhe para também nos manter perto da sua Cruz).

Nos actuais ritos da missa a oração que se segue é uma alternativa à oração anterior (ambas são recitadas no formato extraordinário): “possa-o receber do Vosso Corpo e Sangue, Senhor Jesus Cristo, não me levar ao julgamento e condenação, mas através da vossa Amorosa Misericórdia seja para a minha protecção da mente e do corpo e um remédio curador”.

Como poderá este facto levar ao “julgamento e condenação”? Porque ao recebê-Lo significa estarmos livres de pecados graves. Se o recebermos em estado de pecado mortal significa que ainda não nos decidimos a reconciliarmo-nos com Ele. Num artigo anterior, lembro-me ter citado o Papa Bento XVI, que disse que há um sacramento para a Reconciliação (Confissão) e um outro sacramento para os que já se reconciliaram (Comunhão).

Receber a Comunhão (sem a Confissão) será um acto de hipocrisia, e “levará a ao Julgamento e à Condenação”. Ai é? A Bíblia diz algo sobre este assunto? Bem…sim!

S. Paulo escreveu: «Quem quer que coma o Pão ou beba a Taça do Senhor, de forma indevida, será culpado de profanação do Corpo e do Sangue do Senhor. Deixemos uma pessoa examinar-se a si própria, e depois coma o Pão e beba da Taça. Porque cada um que coma e beba sem entender o que faz come e bebe o seu julgamento» (Coríntios 11:27-29).

A Oração também diz que a Comunhão é um “Remédio que Cura”, por ela nos curar dos pecados venais, curar as nossas imperfeições, acender em nós a caridade que apenas Deus nos pode conceder.

Finalmente, quando o padre está prestes a receber a Comunhão, sussurra ao seu Senhor e Salvador: “Possa o Corpo de Cristo manter-me salvo para a vida eterna. Possa o Sangue de Cristo manter-me salvo para a vida eterna”. A Eucaristia também é uma garantia, um penhor e uma promessa. Aos que O recebem devidamente, Jesus promete felicidade infinita. «Em verdade vos digo, a menos que comam a Carne do Filho do Homem, e bebam o Seu Sangue, vós não tereis vida em vós: aquele que comer a minha Carne e beber do meu Sangue terá a vida eterna, e eu o levantarei no ultimo dia» (João 6:53).

Ainda havia mais coisas a aprender destas orações, mas deixo isso com o leitor, para lê-las com calma, pensativamente, orando profundamente… com ou sem interrupções.

Pe. José Mario Mandía

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