João Clímaco: trinta passos para o Céu
Um dos últimos Padres (Pais) do Oriente é João Clímaco. O nome “Clímaco” é-lhe atribuído devido à sua obra “O Clímax” (do Grego klimax, que significa “escada”). Este livro é conhecido no Ocidente como “Escada da Ascensão Divina”, sendo um tratado abrangente sobre a vida espiritual.
O Papa Bento XVI descreve, assim, a época em que João viveu: “Nasceu por volta de 575. Portanto, a sua vida desenvolveu-se nos anos em que Bizâncio, capital do império romano do Oriente, conheceu a maior crise da sua história. Repentinamente, o quadro geográfico do império mudou e a torrente das invasões barbáricas fez desabar todas as suas estruturas. Sustentou sozinho a estrutura da Igreja, que nestes tempos difíceis continuou a desempenhar a sua acção missionária, humana e sociocultural, especialmente através da rede de mosteiros, em que trabalhavam grandes personalidades religiosas, como precisamente João Clímaco” (Audiência Geral de 11 de Fevereiro de 2009).
Com dezasseis anos de idade, João tornou-se monge no que hoje é conhecido como Mosteiro de Santa Catarina, sob a tutela de Abba Martyrius. Após a morte de Martírio, João mudou-se para um eremitério mais abaixo na montanha. Viveu em silêncio e esforçou-se por exercer a humildade e a obediência. “Nunca contradizia, nunca discutia com ninguém. Tão perfeita era a sua submissão que parecia não ter vontade própria” (Alban Butler, “The Lives or the Fathers, Martyrs and Other Principal Saints” vol. 3, D & J Sadlier, & Company, 1864).
Isto não significa que João não se preocupasse com mais ninguém: “A solidão não lhe impediu de encontrar pessoas desejosas de ter uma direcção espiritual, assim como de ir visitar alguns mosteiros nos arredores de Alexandria. Com efeito, o seu retiro eremítico, longe de ser uma fuga do mundo e da realidade humana, desabrochou num amor ardente pelo próximo (Vida 5) e a Deus (Vida 7)” (Audiência Geral de 11 de Fevereiro de 2009).
“Deus concedeu a São João a graça extraordinária de curar as doenças espirituais das almas. Entre outros, um monge chamado Isaac foi levado quase à beira do desespero pelas mais violentas tentações da carne. Dirigiu-se a São João, que percebeu, pelas suas lágrimas, o quanto ele sofria com o conflito e a luta que sentia dentro de si. O servo de Deus elogiou a sua fé e disse: ‘Meu filho, recorramos a Deus pela oração’. Assim, prostraram-se juntos no chão em fervorosa súplica por uma libertação, e desde então a serpente infernal deixou Isaac em paz” (Alban Butler, “The Lives or the Fathers, Martyrs and Other Principal Saints” vol. 3, D & J Sadlier, & Company, 1864).
Depois de viver como eremita durante quarenta anos, foi nomeado abade – a convite dos monges – do grande mosteiro do Monte Sinai. Exerceu as suas funções “com a maior sabedoria, e a sua reputação espalhou-se de tal modo que o Papa (São Gregório Magno) escreveu para se recomendar às suas orações e enviou-lhe uma soma de dinheiro para o hospital do Sinai, onde os peregrinos costumavam alojar-se. Quatro anos mais tarde, renunciou ao seu cargo e regressou ao seu eremitério para se preparar para a morte” (Clugnet, Léon. “São João Clímaco”. The Catholic Encyclopedia Vol. 8, Nova Iorque: Robert Appleton Company, 1910. http://www.newadvent.org/cathen/08457a.htm).
Quanto à sua famosa obra “O Clímax”, esta “descreve o caminho do monge, desde a renúncia ao mundo até à perfeição do amor. É um caminho que segundo este livro se desenvolve através de trinta etapas” (Audiência Geral de 11 de Fevereiro de 2009). O Papa Bento XVI indica que estes passos podem ser divididos em três etapas.
O primeiro passo é renunciar ao mundo e voltar a ser como uma criança, sobretudo através da obediência. João escreveu: “Bem-aventurado aquele que mortificou a sua vontade até ao fim e que confiou o cuidado da própria pessoa ao seu mestre no Senhor: efectivamente, ele será colocado à direita do Crucificado!”.
O segundo passo é a luta contra as paixões e os vícios. Ele sublinha que, em si mesmas, as paixões não são más, mas é o mau uso que fazemos delas que as torna pecaminosas. João ensinava que “Todos aqueles que empreendem este bom combate (cf. 1 Tm., 6, 12), duro e árduo […] saibam que vieram lançar-se num fogo, se verdadeiramente desejam que o fogo imaterial habite neles”.
Na última etapa, alcança-se a “hesychia” (paz da alma) e a indiferença perante as aflições e os sofrimentos. A última etapa é coroada pelas três virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade. O Papa Bento XVI acrescenta que não se deve pensar que estes passos são apenas para os monges que vivem separados dos outros. A renúncia, a luta contra as paixões e a prática da virtude são necessárias para todos aqueles que seguem Cristo, incluindo os cristãos comuns.
João Clímaco morreu por volta do ano 650 no Egipto.
Pe. José Mario Mandía