Santo Agostinho: o pecador que procurou apaixonadamente Cristo
Estudaremos agora o maior Padre da Igreja latina: Santo Agostinho. A sua influência na cultura ocidental foi tal que mesmo aqueles que não conhecem o Cristianismo já ouviram falar dele.
O nosso conhecimento de Agostinho provém, sobretudo, de três obras: “Confissões”, “Retracções” (ou “Retratações”) e a “Vida de Agostinho”. As duas primeiras foram escritas pelo próprio Agostinho, enquanto a terceira foi escrita por seu amigo Possídio.
Nas “Confissões”, Agostinho conta a história do seu retorno à Fé. Nas “Retracções”, revê uma a uma as suas obras anteriores, ajudando-nos, assim, a compreender a história do seu pensamento. Na “Vida de Agostinho”, Possídio descreve a sua acção como Bispo de Hipona.
Agostinho nasceu no seio de uma família respeitável, em Tagaste (província romana da Numídia), a 13 de Novembro de 354. O pai era pagão, mas graças ao exemplo e ao encorajamento da mãe, Mónica, Agostinho foi baptizado e teve uma morte santa por volta de 371. O Papa Bento XVI diz o seguinte sobre Mónica: “Esta mulher apaixonada, venerada como santa, exerceu sobre o filho uma grandíssima influência e educou-o na fé cristã. Agostinho recebeu também o sal, como sinal de acolhimento no catecumenato. E permaneceu sempre fascinado pela figura de Jesus Cristo; aliás, ele diz que amou sempre Jesus, mas que se afastou cada vez mais da fé eclesial, da prática eclesial, como acontece hoje com muitos jovens” (Audiência Geral de 9 de Janeiro de 2008).
Agostinho recebeu uma boa educação, dominava a Gramática e o Latim (mas não o Grego). A leitura de “Hortensius”, obra do estadista e filósofo romano Cícero (106 – 43 a.C.), despertou em Agostinho o amor pela sabedoria. Este facto marcou o início do seu caminho de conversão. “O livro mudou os meus sentimentos (…) todas as esperanças vãs se tornaram vazias para mim, e desejei a imortalidade da sabedoria com um ardor incrível no meu coração” (Confissões III, 4, 7).
Mas havia um problema. Como mencionado anteriormente, a mãe havia gravado nele o amor por Jesus Cristo. Mas Cícero, por não estar familiarizado com a Fé, não falava do Messias. Por isso, Agostinho recorreu às Escrituras. Mas ficou desiludido com elas. “Não só porque o estilo latino da tradução da Sagrada Escritura era insuficiente, mas também porque o próprio conteúdo lhe pareceu insatisfatório. Nas narrações da Escritura sobre guerras e outras vicissitudes humanas não encontrava a altura da filosofia, o esplendor de busca da verdade que lhe é próprio” (Audiência Geral de 9 de Janeiro de 2008).
A sua busca conduziu-o aos maniqueus, que defendiam que o bem e o mal provinham de duas fontes ou princípios distintos. Convencido de que havia encontrado a combinação correcta entre a racionalidade e a procura da verdade, por um lado, e o amor a Jesus Cristo, por outro, Agostinho tornou-se maniqueu.
Sobre este período da vida de Agostinho, o Papa Bento XVI refere: O maniqueísmo oferecia-lhe “também uma vantagem concreta para a sua vida: de facto, a adesão aos maniqueus abria perspectivas fáceis para fazer carreira. Aderir àquela religião que contava muitas personalidades influentes permitia-lhe prosseguir a relação estabelecida com uma mulher e continuar a sua carreira. Desta mulher teve um filho, Adeodato, por ele muito querido, muito inteligente, que estará depois presente na preparação para o baptismo junto do lago de Como, participando naqueles ‘Diálogos’ que Santo Agostinho nos transmitiu. Infelizmente o jovem faleceu prematuramente” (Audiência Geral de 9 de Janeiro de 2008).
Mas, pouco a pouco, Agostinho foi-se desiludindo com os maniqueus. As suas dúvidas permaneceram e mudou-se para Itália. Em Milão, ouve as pregações do bispo Ambrósio, na esperança de aprender com a sua eloquência. Mas aprendeu mais do que retórica. O conteúdo da pregação de Santo Ambrósio tocou-lhe o coração.
Santo Ambrósio mostrou que as coisas, as pessoas e os acontecimentos do Antigo Testamento, apontavam para Jesus Cristo. A isto chama-se a “interpretação tipológica” do Antigo Testamento. Foi através desta abordagem que Santo Agostinho “encontrou a chave para compreender a beleza, a profundidade também filosófica do Antigo Testamento e percebeu toda a unidade do mistério de Cristo na história e também a síntese entre filosofia, racionalidade e fé no Logos, em Cristo Verbo eterno que se fez carne” (Audiência Geral de 9 de Janeiro de 2008).
A sua redescoberta das Escrituras, especialmente das Cartas de São Paulo, levou-o a converter-se ao Cristianismo a 15 de Agosto de 386. Foi baptizado por Santo Ambrósio na Catedral de Milão, a 24 de Abril de 387, durante a Vigília Pascal. Agostinho tinha 32 anos de idade.
Decidiu regressar a África, mas no caminho, quando ainda estavam em Ostial, a mãe adoeceu gravemente e morreu pouco depois. A dor de Agostinho foi muito grande.
Estabelece-se em Hipona (actual Annaba, na costa da Argélia), pensando fundar um mosteiro. Foi ordenado sacerdote em 391 e iniciou a vida monástica com alguns companheiros. Quatro anos mais tarde, em 395, foi nomeado bispo. “Agostinho continuou a aprofundar o estudo das Escrituras e dos textos da tradição cristã e foi um Bispo exemplar no seu incansável compromisso pastoral: pregava várias vezes por semana aos seus fiéis, apoiava os pobres e os órfãos, cuidava da formação do clero e da organização de mosteiros femininos e masculinos” (Audiência Geral de 9 de Janeiro de 2008).
Agostinho adoeceu e Hipona foi sitiada pelos vândalos em 430 d.C. Felizmente, pouparam-lhe a catedral e a biblioteca. O seu amigo Possídio escreveu que Agostinho pediu que os salmos penitenciais (Salmos 6, 32, 38, 51, 102, 130 e 143) fossem escritos em letras grandes “e que as folhas fossem presas à parede, de modo que, enquanto estava acamado durante a sua doença, podia vê-los e lê-los e derramava constantes lágrimas quentes” (“Vida de Agostinho” 31, 2).
Morreu a 28 de Agosto de 430.
Pe. José Mario Mandía