PAIS DA IGREJA (12)

PAIS DA IGREJA (12)

Enfrentando as primeiras heresias

Já vimos anteriormente como os primeiros Padres da Igreja se esforçaram por explicar a Fé aos crentes, ao mesmo tempo que enfrentavam duas ameaças externas vindas do Judaísmo e do Paganismo.

Mas surgiram também duas ameaças internas, duas heresias totalmente opostas: a saber, o Gnosticismo e o Montanismo. Ambas as escolas de pensamento ganharam muitos seguidores. O Gnosticismo era o mais perigoso dos dois.

O Gnosticismo queria um Cristianismo que se conformasse com o mundo, se adaptasse à cultura da época, absorvesse os mitos e a filosofia grega e desse pouco espaço para a Revelação. Ignorava a declaração do Senhor diante de Pilatos: «O meu reinado não é deste mundo» (João 18, 36). Foi, portanto, uma ameaça à natureza espiritual da Igreja.

O Montanismo, por outro lado, ensinava que os cristãos deviam fugir do mundo. Os montanistas acreditavam que o mundo iria acabar em breve e, para se prepararem para tal, os cristãos deviam dissociar-se de tudo o que é mundano. Isto é muito diferente daquilo que o cristão acredita: que o mundo é bom (cf. Génesis 1, 4) e que é tarefa do homem «cultivá-lo e guardá-lo» (Génesis 2, 15). Podemos ver que o Montanismo era uma ameaça à missão da Igreja de purificar e santificar todas as realidades terrenas.

O Gnosticismo, na verdade, data dos tempos pré-cristãos. Surgiu como uma mistura de religião oriental e filosofia grega durante a época de Alexandre, o Grande (356-323 a.C.). “Das religiões orientais, o gnosticismo herdou a crença num dualismo absoluto entre Deus e o mundo, entre a alma e o corpo, a derivação do bem e do mal a partir de dois princípios e substâncias fundamentalmente diferentes, e o desejo de redenção e imortalidade. Da filosofia grega o gnosticismo recebeu o seu elemento especulativo. Assim, as especulações sobre os mediadores entre Deus e o mundo foram incorporadas do Neoplatonismo; um tipo naturalista de misticismo do Neopitagorismo; e a valorização do indivíduo e da sua tarefa ética a partir do Neo-estoicismo” (Quasten, I, págs. 254-255). Simão, o Mago, sobre quem lemos nos Actos dos Apóstolos (8, 9-24), é o último representante deste gnosticismo pré-cristão.

Quando gnósticos pré-cristãos altamente instruídos se converteram à Fé, trouxeram consigo a sua crença, acrescentando doutrinas cristãs às suas visões gnósticas.

Acreditavam em um bom Deus transcendente que tudo criou. Mas havia também uma figura divina menor – o “Demiurgo” – que moldou (não criou) a realidade material. O Demiurgo era mau e, portanto, a criação material que ele moldou também é má. A palavra Demiurgo (“demiurgus” em Latim, do Grego “dēmiurgós”) significava “artesão”, mas passou a significar “produtor”. A palavra nunca significou, estritamente, “criador” ou “aquele que produz de nada”.

Cristo foi enviado pelo bom Deus transcendente para resgatar o homem do poder do Demiurgo. Ao ter um conhecimento esotérico (Grego “Gnosis”, “conhecimento”; “Gnostikos”, “bom de conhecimento”) de Cristo, que apenas algumas pessoas poderiam alcançar, alguém era redimido. Observe-se que eles ensinavam que a salvação vinha através do conhecimento (e não através da obediência do intelecto e da vontade a Deus).

A Igreja abordou estas heresias de duas formas: em primeiro lugar, as autoridades eclesiásticas excomungaram os hereges e aqueles que os seguiam. Também alertaram os fiéis sobre os erros através de cartas pastorais. Em segundo lugar, os escritores teológicos apoiaram o movimento das autoridades da Igreja, mostrando os erros dos hereges e explicando a Doutrina da Igreja recorrendo às Escrituras e à Tradição. Os seus escritos compreendem o que chamamos de literatura anti-herética. Infelizmente, poucos desses escritos sobreviveram até aos nossos dias.

Pe. José Mario Mandía

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