Subindo os degraus da Imaculada Conceição
Este ano voltam a estar expostas as relíquias de São Francisco Xavier na Sé Catedral de Goa, a poucos quilómetros de Panjim, capital do mais pequeno dos Estados indianos. Esta a razão principal para a deslocação d’O CLARIM ao local – uma peregrinação sobre a qual iremos falar na próxima edição. Antes, estivemos à conversa com o padre Walter de Sá, que entre o apoio diário aos fiéis e mais necessitados, e os preparativos para o Natal, acedeu falar com o nosso jornal. No computo geral, o sacerdote faz um retrato positivo da actual situação da Igreja Católica na antiga Índia Portuguesa, tendo apenas lamentado o reduzido número de novas vocações e algum desinteresse dos mais jovens pela vida da Igreja. Um mal universal, na realidade!
A igreja matriz de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, na cidade de Panjim, capital do Estado de Goa, na Índia, é o centro nevrálgico desta urbe, funcionando na prática como ponto geodésico para turistas e visitantes.
Ao aproximarmo-nos das escadas de acesso à igreja dedicada à Imaculada Conceição, logo um segurança vistoria a indumentária – calções e camisolas de alças são incontornavelmente proibidos –, não deixando de nos questionar sobre a razão da visita. No caso d’O CLARIM tratava-se, pura e simplesmente, de prestar cumprimentos ao pároco da igreja, o que foi prontamente autorizado pelo referido segurança.
Ao lado da igreja localiza-se o Cartório paroquial e, claro, o escritório do padre Walter de Sá. Este recebe-nos sem pestanejar, até porque Macau – a par de Portugal – é por estas bandas chave-mestra para aceder a lugares pouco acessíveis ao comum mortal. O que não se aplica ao padre Walter, uma vez que «está sempre no escritório e recebe toda a gente», ouvimos por mais do que uma ocasião durante os dias em que ali estivemos.
Nascido na então aldeia de Santa Cruz (ilhas), o padre Walter é pároco da igreja matriz de Panjim desde 1 de Junho de 2018. De entre uma população de quarenta mil pessoas (censos de 2011), seis mil são católicas, sendo que praticam a fé em diversos locais de culto espalhados pela cidade.
A lista não é exaustiva, pelo que tomamos a liberdade de a partilhar com os nossos leitores: capela de São Francisco Xavier (Bairro de Portais), capela de São Sebastião (Bairro das Fontainhas), capela de São Tomé (Bairro de São Tomé, perto da sede dos Correios), capela da Imaculada Conceição (junto ao Colégio D. Bosco, escola que integra um oratório) e, por último, a capela de Nossa Senhora da Vitória (localizada próximo ao Mercado).
No que respeita à paróquia que lidera, o padre Walter, num Português fluente, capaz de fazer corar muitos “metropolitanos”, diz com orgulho: «Nos dias de feira [i.e. de segunda a sexta] celebramos três missas: às 7:00 horas da manhã, em Konkani; 8:00 horas, em Inglês; e 18:00 horas, em Konkani. Ao sábado, celebramos missa antecipada, também às 18:00 horas, em Konkani. Já ao Domingo, celebramos todas as missas no período da manhã», sendo que os horários pouco alteram em relação aos dias da semana. Contudo, o destaque vai para duas missas: «Todos os Domingos, celebramos missa especial para as crianças. Num Domingo fazemo-lo em Konkani, e no seguinte fazemo-lo em Inglês. Às 10 horas e 30 é celebrada a missa em Português. Muitas vezes participam a cônsul de Portugal, o delegado da Fundação Oriente e outras personalidades, para além de muitos turistas que vêm da Europa, particularmente de Portugal, França e Espanha».
No passado Domingo, dia 15 de Dezembro, O CLARIM participou na missa em Português, tendo testemunhado o empenho da comunidade, que dias antes o padre Walter nos havia sublinhado: «Perto de cem pessoas participam na missa, havendo mesmo quem não saiba falar Português, mas dá a sua ajuda. Alguns deles até cantam no coro…».
Mas o retrato não fica por aqui! Segundo o pároco, «igualmente importante são as escolas católicas, em que os alunos se podem inscrever na disciplina de Português». São estabelecimentos de Ensino geridos pela arquidiocese de Goa e Damão, ou por ordens e congregações religiosas. Uns quantos funcionam em Panjim e os restantes em cidades como Mapuçá, Navelim e Cortalim. «Há crianças que estudam nas escolas católicas e que frequentam a nossa Catequese», refere o sacerdote.
Quanto a novas vocações, o padre Walter vai directo ao assunto: «Os jovens não apresentam grande interesse na vida da Igreja; em participar nos actos litúrgicos. Os adultos e mais idosos estão sempre interessados em ajudar na Liturgia, na Catequese e nas obras sociais. Também temos aqui dois ramos (um feminino e outro masculino) da Conferência Vicentina».
[N.d.R.: neste preciso momento da nossa conversa com o padre Walter, irrompe no escritório um ajudante que o alerta para a presença do bispo Aldo Berardi, OSsT, vigário apostólico da Arábia do Norte, no adro da igreja. Somos convidados a também prestar cumprimentos ao epíscopo, que reuniu por breves instantes com o seu cicerone].
Finda a interrupção, o nosso entrevistado continua: «Há dois Seminários no Estado de Goa: o Seminário (menor) Diocesano de Nossa Senhora, em Saligão – Pilerne; e o Seminário (maior) Patriarcal de Rachol. O primeiro tem perto de cinquenta seminaristas e o segundo entre quarenta a cinquenta. Estes números revelam que vivemos uma crise de vocações. Em 1963, quando entrei para o Seminário, éramos cerca de trezentos seminaristas».
A concluir o retrato à paróquia da Imaculada Conceição e à pastoral educativa e social da arquidiocese de Goa e Damão, questionámos o padre Walter sobre a convivência entre cristãos e hindus, cuja coabitação se tem vindo a deteriorar em alguns Estados da Índia.
«Como em todo o lado, há episódios aqui e ali. Até aos dias de hoje, temos tido toda a liberdade. Não temos problemas no que respeita à religião. Celebramos as festas religiosas com toda a liberdade. Veja-se, por exemplo, o que está a acontecer neste momento com a exposição das relíquias de São Francisco Xavier [N.d.R.: ler edição d’O CLARIM de 10 de Janeiro de 2025]. Desde o início que recebemos todo o apoio do Governo do Estado de Goa. Os governantes entendem a importância que este acontecimento tem para os fiéis, para a população e para o turismo», respondeu.
Mesmo a finalizar, o sacerdote quis prestar um agradecimento: «A todas as pessoas generosas, quero agradecer o apoio financeiro que nos permite ir avante».
Na mochila, O CLARIM trouxe um exemplar da revista “Paundde Nixkollonk Marie-che” (“Degraus da Imaculada Conceição”), publicada pelos serviços paroquiais.
PREPARAÇÃO PARA O NATAL
À semelhança do que acontece em todo o mundo, os católicos de Goa já preparam o Natal, estando agendadas várias actividades para os próximos dias.
No dia 22 de Dezembro, 4.º Domingo do Advento, há reunião de leigos na paróquia da Imaculada Conceição e em todo o País será realizada a acção “Communio Sunday”, uma iniciativa de solidariedade social organizada pela Conferência dos Bispos Católicos da Índia.
No dia 24 serão celebradas as tradicionais missas ao ar livre, de preparação para o Dia de Natal, 25 de Dezembro. Para a mesma terça-feira está agendada a abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro, no Vaticano.
O ano de 2024 fecha com missa na meia-noite do dia 31 de Dezembro e 2025 inicia com a missa de Ano Novo. Na Santa Sé, o Papa irá ler a Mensagem do Santo Padre para o Dia Mundial da Paz.
Embora não haja dados fidedignos, é mais ou menos consensual que vinte por cento da população do Estado de Goa seja católica; 65 por cento hindu; e quinze por cento muçulmana e de outros credos.
A diocese de Goa e Damão (inclui também Diu) é governada actualmente pelo arcebispo D. Filipe Neri Ferrão, que ostenta os títulos de Patriarca das Índias Orientais, Primaz do Oriente e Arcebispo de Cranganore. Foi elevado a cardeal pelo Papa Francisco no Consistório de 27 de Agosto de 2022.
José Miguel Encarnação com a colaboração da Fundação Oriente
em Panjim (Goa)