Padre Franz Gassner aborda resistência à “Maximum Illud”

Padre Franz Gassner aborda resistência à “Maximum Illud”

RETOMADO CICLO DE CONFERÊNCIAS SOBRE A CARTA APOSTÓLICA NA PRÓXIMA QUARTA-FEIRA

O Seminário de São José acolhe na próxima quarta-feira, pelas 18 horas e 30, a quinta e antepenúltima palestra do ciclo de conferências dedicado pela Faculdade de Estudos Religiosos da Universidade de São José à “Maximum Illud”, a carta apostólica publicada há um século pelo Papa Bento XV com a qual o então Pontífice quis dar um novo impulso à prerrogativa da missionação.

Um dos aspectos fundamentais da “Maximum Illud” foi o impulso à “formação e organização de um clero indígena”, de forma a permitir que os esforços de evangelização fossem conduzidos por missionários locais. O esforço empreendido pelo Vaticano e pelas diferentes congregações religiosas com o propósito de acelerar a formação de sacerdotes locais dá o mote à conferência de quarta-feira, da responsabilidade do padre Franz Gassner, coordenador do Departamento de Teologia Católica da Universidade de São José (USJ).

Na palestra “Maximum Illud e as congregações religiosas: a luta pelos primeiros seminários indígenas”, o sacerdote austríaco vai abordar a resistência que a carta apostólica promulgada há cem anos por Bento XV suscitou junto de algumas comunidades católicas, nomeadamente nos Estados Unidos. «Houve pessoas no seio da Igreja, nos Estados Unidos – bispos e sacerdotes inclusive –, que não compreenderam ou não quiseram compreender e seguir uma decisão papal bem fundamentada. Algum clero norte-americano argumentou que o Papa não tinha promulgado a encíclica “Maximum Illud” a pensar nos Estados Unidos», disse o padre Franz Gassner, em declarações a’O CLARIM, tendo acrescentado: «Uma tal cisão ou sentimento de exclusividade está nos antípodas da perspectiva “católica” da Igreja, conceito que pode ser traduzido como “abrangente” e “inclusivo”. A única explicação que consigo avançar para uma tal atitude é ausência de uma formação filosófica e teológica profunda ou a resistência à mudança, com as pessoas a preferiram salvaguardar os seus interesses e as suas próprias agendas em detrimento do bem comum e de uma identidade católica genuína e frutífera».

O coordenador do Departamento de Teologia Católica da USJ exemplificou com o tratamento de que foram alvo os primeiros sacerdotes afro-americanos formados nos Estados Unidos pela congregação à qual pertence, a Sociedade do Verbo Divino: «Um dos primeiros padres foi incumbido da missão de ajudar numa paróquia na Luisiana, mas a paróquia não o aceitou pelo facto de ele ser negro. O bispo interditou a paróquia, proibindo que a Eucaristia lá fosse celebrada. Só uma medida tão severa conseguiu alterar a mentalidade vigente, abrindo caminho à aceitação de um padre afro-americano por parte da comunidade».

Segundo o sacerdote, «para ultrapassar estes desafios foi necessária uma grande coragem e o apoio total do Sumo Pontífice e dos bispos. Foi o caso com o Papa Bento XV e o Papa Pio XII, que escreveu, em Abril de 1923, uma carta pessoal em que transmitia o seu forte apoio ao Superior Geral da Sociedade do Verbo Divino, o padre William Gier, aquando da abertura do primeiro Seminário direcionado a afro-americanos dos Estados Unidos, em Bay St. Louis, nas imediações de Nova Orleães».

Um século depois de ter sido promulgada, o padre Franz Gassner considera que a “Maximum Illud” assume uma preponderância central na dinâmica da Igreja Católica, sendo que a formação de clero local adquire uma importância estrutural para a Igreja. No seu entender, Macau tem desempenhado um papel muito importante nesse âmbito. «A “Maximum Illud” é extremamente importante em termos teológicos, dado que abre caminho aos desenvolvimentos formulados no Concílio Vaticano II. Mas também é muito relevante em termos práticos, uma vez que a formação de um clero indígena local continua a ter uma importância central para a Igreja», admitiu, concluindo: «Felizmente, Macau está de novo em boa posição para ajudar a Igreja na Ásia neste desígnio. Neste momento, há sessenta estudantes do Sudeste Asiático a estudar Filosofia e Teologia na Faculdade de Estudos Religiosos da Universidade de São José e a prepararem-se para o seu Ministério na Igreja e na sociedade, na Ásia e mais além».

Marco Carvalho

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