PADRE AIDAN CONROY

PADRE AIDAN CONROY CELEBRA ESTE SÁBADO 50 ANOS DE ORDENAÇÃO SACERDOTAL

«Foi o amor de Deus que me trouxe a Macau»

Nasceu na Irlanda, mas foi em Macau que encontrou a sua casa. O padre Aiden Conroy celebra, amanhã, as bodas de ouro da sua ordenação sacerdotal. Radicado no território há 47 anos, o missionário salesiano confessa que ser enviado em missão para a então “colónia” portuguesa foi o melhor que lhe aconteceu.

Sacerdote, educador e um instrumento de Deus para chegar ao coração dos homens. Aidan Patrick Conroy foi ordenado padre a 17 de Dezembro de 1972, vinte anos depois de ter tido contacto, pela primeira vez, com a congregação salesiana. Nos Salesianos de Dom Bosco encontrou uma segunda casa e a confirmação de que pela via do Sacerdócio e pela obediência à voz de Deus passava também a sua felicidade pessoal. «Vivia numa localidade no Sul da Irlanda e do outro lado da estrada havia um campo de golfe. Todos os dias, ao final da tarde, quando voltava da escola, encontrava lá padres a jogar golfe. E disse para mim mesmo: “Se eu me tornar sacerdote posso jogar golfe todos os dias”. Esta foi uma das razões pelas quais eu me quis tornar padre. A outra era o facto do meu irmão mais velho estar a estudar para padre», explicou o missionário irlandês, em declarações a’O CLARIM. «É claro que estes aspectos eram meras atracções circunstanciais. Só descobri mais tarde qual era o meu verdadeiro propósito e ao descobrir nunca tive qualquer dúvida. Não duvidei por uma única vez», assumiu.

O jovem Aidan, então com treze anos de idade, iniciou em 1952, na Escola Secundária Salesiana de Pallaskenry, em Limerick, um percurso de fé e de intimidade com Deus que o acabaria por empurrar, anos depois, para o longínquo Oriente. Se a entrega à carreira eclesiástica era já o desígnio pelo qual aspirava, a filosofia educativa adoptada pelos Salesianos e o princípio de que o trabalho educativo deve ser baseado numa relação de amor, ajudaram a eliminar qualquer centelha de hesitação que eventualmente pudesse restar. «Alguém falou aos meus pais nos Salesianos. Eu nunca tinha ouvido falar dos Salesianos antes. Adorei. Aliás, todos nós adorámos. Cheguei a ver padres com lágrimas nos olhos quando deixávamos a escola para ir de férias. Era esse o tipo de escola para onde fui. Havia muito poucas queixas e aqueles que se queixavam, habitualmente, não ficavam muito tempo», recordou, acrescentando: «No quinto ano havia 28 na minha turma e 24 acabaram por optar pela missão. Foi quase a turma inteira. Mas a escola era mesmo para isso, para alunos cuja intenção era tornarem-se sacerdotes. Era um estágio intermédio para que testássemos a nossa vocação. Desses 24, catorze acabaram por ser ordenados irmãos, seis anos mais tarde».

Terminado o Ensino Secundário, Aidan Conroy rumou a um novo estabelecimento salesiano para aprofundar os estudos filosóficos e teológicos, e ingressou no Noviciado propriamente dito. Na recta final do período de formação religiosa, surge o convite para rumar ao Oriente e ensinar Inglês em Hong Kong. «Quando vim para Hong Kong, vim ensinar numa escola em Kowloon, onde acabei por ficar durante oito anos. Ao fim desse tempo, tive de regressar à Irlanda para terminar os meus estudos de teologia e para ser ordenado. É por isso que só fui ordenado sacerdote em 1972, em vez de o ter sido sete anos antes, em 1965», sublinhou. «Inicialmente isso era algo que me incomodava, mas deixou de o ser quando vim para Hong Kong. Adorei o tempo que passei em Hong Kong. As pessoas professam, primeiro, os seus votos por um período de dois anos, e depois podem renovar os votos por mais dois anos e, a seguir, perpetuamente. O modo de vida dos Salesianos sempre me agradou. Tão simples quanto isso. Sempre gostei do modo de vida da Congregação. Não era demasiadamente contemplativa e nós até podíamos ser apenas indivíduos, mas trabalhando através de uma comunidade», lembrou também.

Ordenado sacerdote a 17 de Dezembro de 1972, regressou à então colónia britânica de Hong Kong em 1973, dois anos antes de ser destacado para o outro lado do delta do Rio das Pérolas. Radicado em Macau desde 1975, foi até Maio último capelão da comunidade católica anglófona do território, tendo acompanhado, com particular ênfase, os fiéis filipinos que trabalham e vivem em Macau. Nascido a 1 de Fevereiro de 1939 na segunda maior cidade da Irlanda, Cork, o padre Conroy foi também, até 2015, um dos membros mais destacados do corpo docente do Instituto Salesiano, entidade de ensino à qual dedicou quatro décadas de vida. «Nessa altura foi nomeado um novo provincial, que acabaria por abandonar o cargo pouco depois, e foi ele quem me pediu para vir para Macau. Posso dizer-lhe que na altura fiquei bastante melindrado com a decisão, porque Macau era um território português com população chinesa e eu nem sabia falar Português, nem sabia falar Chinês. O que vinha eu fazer para Macau? O que me disseram foi que vinha para ensinar Inglês. Foi a melhor coisa que me aconteceu», acentuou.

O padre Conroy ensinou as primeiras palavras no idioma de Shakespeare a incontáveis gerações, tornando-se um dos sacerdotes mais respeitados e mais conhecidos pela população local. Mas essa não é a única razão pela qual Macau se tornou uma segunda casa. «Amo Macau. Amo mesmo. Adoro Macau. Sempre me senti de bem com a vida onde quer que estivesse, mas Macau sempre foi muito generoso. Foi em Macau que me foi dada, pela primeira vez, a oportunidade de fazer trabalho pastoral na minha própria paróquia», disse o sacerdote, hoje com 83 anos de idade. «O aspecto mais importante para alguém que está a tentar perceber qual é a sua vocação? O amor que sente por Deus. Foi o amor de Deus que me trouxe a Macau», concluiu o nosso entrevistado.

Marco Carvalho com Jasmin Yiu

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