O Rosário (de rosarium, ou “jardim de rosas”) foi parcialmente fundado e muito promovido por São Domingos (1170-1221), a quem se atribui o Rosário como o “Saltério Angélico”: 150 Avé Marias. Lembro-me da história da tradição dominicana: São Domingos estava um pouco abatido: a sua aventura de pregação contra os hereges não estava a correr bem naquele momento. Maria apareceu-lhe e disse-lhe: Por que não experimentas a saudação angélica Avé Maria? Ela tornará férteis as almas dos crentes. Ele tentou… e conseguiu!
No início do Século XIV, as 150 Avé Marias estavam divididas em quinze dezenas de dez, cada uma precedida por um Pai Nosso. O Papa Pio V acrescentou às 150 Avé Marias, 150 Santas Marias e aprovou oficialmente o Rosário como devoção mariana, recomendando vivamente a sua recitação a todos os católicos. O Papa Leão XIII declarou que o mês de Outubro seria dedicado ao Santo Rosário (Encíclica Supremi Apostolatus).
O Rosário é a forma clássica de devoção a Maria. Foi descrito como uma “excelente oração” por Leão XIII, um “compêndio de todo o Evangelho” por Pio XII, e um “belo jardim de flores” por São João XXIII. Convidando-nos a rezar o Rosário, o Papa Francisco diz-nos que “o Rosário é uma oração simples e eficaz”.
Todos os santos têm grande devoção ao Rosário de Maria, incluindo os santos Francisco, Teresa de Ávila, Inácio de Loyola, Afonso Maria Ligório, Luís Grignion de Montfort e Santa Teresa de Calcutá. Perguntaram a São Padre Pio: Como é que se aprende a rezar? A sua resposta: “Reza sempre o Terço”. O padre Marie-Joseph Lagrange, o famoso biblista, fazia três coisas todos os dias: estudar a Bíblia, ler o jornal e rezar o Terço.
Nossa Senhora apareceu à pastorinha Bernadete, em Lourdes, vestida de branco e com o Terço nas mãos. A própria Maria rezou o Terço com ela numa das suas aparições. Da mesma forma, Nossa Senhora de Fátima, que apareceu aos três pastorinhos, Lúcia, Francisco e Jacinta, lhes pediu que rezassem o Terço. A Mãe Maria disse-lhes: Fazei-me companhia durante quinze minutos, meditando os mistérios do Rosário com a intenção de me reparar. Na sua admirável Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae RVM (“O Rosário da Virgem Maria”, datada de 16 de Outubro de 2002), São João Paulo II propôs a iniciativa de acrescentar os cinco mistérios luminosos para fazer a ponte entre os mistérios gozosos da infância de Jesus e os mistérios dolorosos da sua paixão e morte, seguidos pelos mistérios gloriosos (cf. RVM, 19). Foi uma iniciativa muito frutuosa.
Através das contas, passamos às orações – o Pai Nosso, a Avé Maria e a Santa Maria, e o Glória –, e através das orações, aos vinte mistérios, que nos levam ao encontro de Maria e de Jesus: O nosso Rosário é uma escada e nós subimo-la para nos encontrarmos com Nossa Senhora – e com Jesus. Não é apenas uma oração oral (embora nenhuma verdadeira oração oral seja apenas oral!), mas também uma oração contemplativa. Sem contemplação, o Rosário é um corpo sem alma (cf. São Paulo VI, Marialis Cultus, 1974). Bento XVI disse (a 12 de Maio de 2010) que Fátima é “um cenáculo da fé”. É maravilhoso rezar o Rosário e meditar os seus mistérios como se estivéssemos no cenáculo de Jesus e dos Seus apóstolos.
Podemos rezar o Rosário concentrando-nos, em geral, no mistério divino que estamos a contemplar; por vezes, no significado das orações orais que estamos a recitar; outras vezes, limitando-nos a escutar a voz do silêncio, a voz de Deus. Nalguns lugares e comunidades, as pausas de silêncio ou a leitura do texto bíblico apropriado iniciam cada mistério (cf. RVM, 30-31).
Qual o objectivo da nossa devoção ao Rosário de Maria? Jesus, o Filho de Deus, que é o fim de todas as nossas devoções (cf. Vaticano II, LG, 66). O objectivo da nossa recitação do Rosário é, portanto, Jesus. São Luís Maria Grignion de Montfort escreveu: “Se a devoção a Nossa Senhora nos distraísse de Nosso Senhor, teríamos de a rejeitar como uma ilusão do demónio” (“Verdadeira devoção à Virgem Maria”). O objectivo da oração do Rosário, portanto, não é apenas aprender o que Jesus nos ensinou, mas “aprendê-lo”, aprender com Maria a “ler” Cristo, a descobrir os seus segredos e a compreender a sua mensagem (cf. RVM, 14). O Rosário leva-nos à contemplação do mistério da salvação, no qual a Virgem Maria está intimamente associada à obra do seu Filho. De facto, o Rosário, como modo de contemplar os mistérios de Cristo, é uma escola para o desenvolvimento da vida evangélica. (“Constituições”, OP).
Como cristãos, a Mãe Igreja pede-nos que rezemos o Terço, especialmente nos nossos tempos perigosos, imensamente feridos por guerras mortíferas que continuam a matar milhares de crianças inocentes e muitos outros civis inocentes – e em que o mundo continua a acumular armas no meio da pobreza crescente de muitos. É pedido que “redobremos, durante o mês de Outubro, a recitação devota do Santo Rosário, para que, por intercessão de Nossa Senhora, ‘possa raiar para todos a luz da verdadeira paz’” (Pio XI). Que Nossa Senhora do Rosário nos livre dos pecados contra a Paz.
Como é a nossa devoção ao Rosário de Maria? Certamente, rezar bem o Rosário é uma experiência maravilhosa, como se vê na vida dos nossos santos, e produz bons frutos, os frutos da santidade: o amor a Deus e ao próximo, a humildade, o amor à cruz, o perdão aos outros e a compaixão.
Dizem-nos que Santo Alberto Magno, que teve uma vida longa e produtiva, quando idoso perguntava muitas vezes a Deus Nunquid durabo? “Será que vou aguentar até ao fim?” Antes de morrer, Alberto Magno só podia rezar a Avé Maria. Este facto impressionou muito o teólogo Karl Rahner, que também era devoto do Rosário e o considerava uma grande bênção. O leigo São Bartolo Longo (1841-1926), “Apóstolo do Rosário”, dedicou a sua vida a difundir a devoção do Rosário e a servir os pobres – um ramo da sua devoção mariana (cf. RVM, 8).
Lembro-me de um missionário devoto nas ilhas Batanes, nas Filipinas (nos anos sessenta). Depois da sua ordenação sacerdotal, tinha sempre consigo, no seu quarto: a Bíblia, o Breviário do Ofício Divino, a Summa Theologiae (Suma Teológica) de São Tomás de Aquino e o Rosário. À medida que foi envelhecendo e a vista lhe começou a falhar, abandonou primeiro a Summa, depois a Bíblia e, por fim, o Ofício Divino. Só o Rosário o acompanhou até ao seu último suspiro.
Nossa Senhora do Rosário: rogai por nós!
Pe. Fausto Gomez, OP