OS MILAGRES SÃO UM DOM DE DEUS
Os milagres são acontecimentos extraordinários que não podem ser conseguidos pelos homens. Jesus fez muitos milagres para revelar que era o Messias, o Filho de Deus. Foi o caso da transformação da água em vinho, nas bodas de Caná. Aí os discípulos acreditaram n’Ele. Foram também muitos os momentos em que Jesus curou os cegos, os coxos, os paralíticos, os surdos, que motivavam que as multidões O reconhecessem como o Messias. Foi ainda a surpresa da ressurreição de Lázaro, reveladora de que Jesus era o Senhor da vida e que ressuscitaria para além da morte. Jesus Filho de Deus tinha o poder de fazer milagres. Aos Apóstolos também foram atribuídos milagres – é o caso do coxo sentado à porta do templo a pedir esmola. Pedro disse-lhe: «Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho dou-to. Por Cristo Ressuscitado, levanta-te e anda» (At., 3,6). Pedro evocou Jesus Ressuscitado para que o milagre acontecesse. Desde os primeiros séculos até aos nossos dias, a Igreja reconh ece alguns milagres que são a intervenção de Deus em favor de crentes que na sua aflição a Deus recorrem.
Os santos não fazem milagres; são apenas intercessores junto de Deus para apoiarem os homens nas suas dificuldades. Tantas e tantas pessoas encontram-se em situações de vida que reclamam uma especial protecção de Deus. Então, procura-se a melhor maneira de falar com Deus através de alguém que esteja mais próximo d’Ele. É por isso que se pede a Maria ou aos santos que intercedam junto de Deus para aquela extraordinária graça que nem a ciência, nem a técnica, nem a bondade e nem o poder humanos conseguem resolver. Na linguagem comum, atribui-se a Nossa Senhora ou aos santos essa graça extraordinária que se chama milagre. Mas é sempre Deus, na sua misericórdia, que atende a súplica que na fragilidade humana constitui uma oração de esperança. Agora, cada um dos crentes tem especiais devoções e privilegia os santos que se identificam mais consigo. Quantas pessoas têm Francisco de Assis como seu protector? Hoje em dia muitos crentes recorrem a São João XXIII, ou a São Paulo VI, ou a São João Paulo II porque estes Papas marcaram as suas vidas. Os santos, antigos ou recentes, constituem uma ponte entre a misericórdia de Deus e a fragilidade humana. Por isso mesmo há graças extraordinárias que numa grande simplicidade se chamam o milagre. Os verdadeiros milagres, porém, como por exemplo a cura de uma doença, têm de ser confirmados face à impossibilidade da ciência e da assistência médica resolverem aquela crise humana. No processo de beatificação e de canonização de um santo tem de haver um milagre reconhecido, pela incapacidade dos meios humanos em resolver o problema em causa. Os milagres são sempre um dom de Deus: O que é necessário e ter um coração bom, para que Maria ou o santo a quem se recorre peça a Deus para ouvir a súplica do crente.
Os crentes, ao pedirem um milagre a Deus, deverão ser coerentes, merecendo-o pela sua vida de profunda comunhão com o Senhor Ressuscitado. Um milagre é sempre uma Ressurreição. Só em Cristo, na sua comunhão com o Pai, pode acontecer. Depois, a graça recebida deverá agradecer-se. E toda esta relação com o Senhor exige não banalizar o milagre, que é sempre um sinal do grande amor de Deus. A súplica do crente deverá ser íntima, responsável e comprometida. Às vezes na linguagem popular pedem-se milagres para coisas muito simples, é o caso dos pedidos dos milagres a Santo António – é célebre o responso para as coisas perdidas. No entanto, a espiritualidade popular tem orações que Deus atende. Por isso, a serenidade com que se faz a oração permite que o que se perdeu também se encontre. As devoções dos simples são um sinal de uma profunda fé e Deus tem em conta as suas súplicas. Foi Jesus que o disse: «Eu Te bendigo, ó Pai, porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes e as revelastes aos pequeninos» (Mt., 11,25-30). Deus ouve com a sua ternura aqueles que sem condições n’Ele confiam.
MONSENHOR FEYTOR PINTO
Sacerdote da paróquia do Campo Grande, em Lisboa. In Família Cristã