Os Reis Magos

Os Reis Magos

CELEBRADOS A 6 DE JANEIRO

O episódio relativo aos Reis Magos ganhou, ao longo dos séculos, uma plasticidade que o tornou, não só numa realidade teológica e iconográfica de uma riqueza muito além do que o texto bíblico indica, como o catapultou para um lugar único na cultura popular cristã.

«E, tendo nascido Jesus, em Belém de Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram, do oriente, a Jerusalém, dizendo: Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no oriente e viemos a adorá-lo» (Mateus 2, 1 2).

Os nomes foram consignados por Beda, o Venerável (673-735), que deve ter sistematizado várias tradições, afirmando que Belchior era velho de setenta anos, de cabelos e barbas brancas, oriundo de Ur, tal como Abraão; 
que Gaspar era um jovem, robusto, que partira de uma distante região montanhosa junto ao Mar Cáspio; e que Baltazar era oriundo do Golfo Pérsico, tinha barba cerrada e teria quarenta anos. A escassa iconografia desta época ainda não os apresenta como Reis.

A passagem de Magos a Reis terá tido lugar após 
o reinado de Otto II (955-983), Imperador Romano-Germânico, já depois do treslado das suas relíquias para a Europa e, possivelmente, da sua canonização.

A posição de adoração, típica nestas figuras, ganha uma coloração ideológica com esta passagem a monarcas:
 os Reis ajoelham-se perante a figura divina e, por extrapolação, perante o Imperador que dela recebeu
 o poder.

A função dos Reis Magos é dupla. Por um lado, ajudam 
a situar historicamente a narrativa, relacionando-a
 com um monarca, Herodes. Por outro lado, permite introduzir, logo no início da narrativa sobre Jesus, o sentido messiânico e de rejeição de que será alvo.

Com estes Magos, é-nos dito que até os pagãos adorariam o Messias judeu, como que afirmando a universalidade da sua salvação.

Este episódio, que lança a perseguição e a fuga para o Egipto, humaniza o Messias, dando-lhe a máxima vulnerabilidade de uma criança perseguida, e prefigura todo o martírio por que passaria. De forma como que inocente, este diálogo entre os magos e Herodes lança Jesus no estreito caminho entre o Bem e o Mal; no fundo, a concretização da sua função de Rei, Filho de Deus.

«E, entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe e, prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, lhe ofertaram dádivas: ouro, incenso e mirra. E, sendo por divina revelação avisados em sonhos, para que não voltassem para junto de Herodes, partiram para a sua terra por outro caminho» (Mateus 2,11-12).

Ouro, incenso e mirra são as oferendas destes Magos ao jovem Rei, cujo nascimento fora indicado por uma estrela, símbolo dessa realeza. Para os Padres da Igreja, estes três elementos simbolizavam: o ouro, a realeza; o incenso, a divindade; e a mirra, a paixão.

0 centro simbólico é, com toda a naturalidade, a Luz.

É a estrela que guia estes Magos; é a estrela que vai marcar o local onde nasceu Aquele que trará a Luz ao mundo. Vindos de longe prestar homenagem ao novo Rei, os Magos vêm receber a Luz.

PAULO MENDES PINTO 

 In Clube do Colecionador

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