Olhando em Redor

Especulação imobiliária, de novo

De acordo com “estimativas esboçadas por gestores e investidores internacionais”, tudo aponta para o “crescimento da rentabilidade dos títulos bolsistas de empresas focadas no sector da habitação da RAEM”, tendo o economista Albano Martins alertado que “o mercado imobiliário em Macau irá continuar a ser bastante apetecível para os especuladores, pelos menos até ao próximo ano”, noticiava o Ponto Final na passada segunda-feira.

“Para o fundo CF Miton Worldwide Opportunities, poucos títulos vão dar tanto lucro em 2017 como (…) os da Macau Property Opportunities (MPO), companhia cotada e transaccionada no Reino Unido, mas com foco no mercado imobiliário da RAEM”, referia a mesma publicação.

Na óptica de Albano Martins, “o Governo vai ter de restringir a compra de imobiliário por não-residentes com propósitos especulativos”, acrescentando que “os preços vão disparar” no mercado de arrendamento.

O desvirtuar da realidade, para ganhos consideráveis, é sempre susceptível de ser contrariado, porque a mesma é passível de ter várias interpretações. Cabe aos mercados responder adequadamente. Porém, nem sempre ficam a salvo das tendências de crescimento que nos pretendem impor, fruto de palavras escolhidas a dedo, com o intuito de empurrar o sector-alvo para determinada direcção, assim como pretendem os especuladores do fundo CF Miton Worldwide Opportunities.

Face a esta realidade, também cabe ao Governo da RAEM, como “pessoa de bem”, fazer o necessário para impedir que os especuladores (locais e de fora) degradem o periclitante custo de vida dos residentes, dado que é fácil provocar “avalanches” no imobiliário devido a um “law enforcement” com gritantes lacunas no sector.

Macau tem o grande problema da falta de terras, o que penaliza fortemente a sua península, já de si densamente povoada. Os novos aterros não são uma solução para o imediato, nem a taxa de imposto de selo especial para os compradores não-residente (situa-se nos dez por cento) é suficiente para contrariar a voracidade dos especuladores.

Quando a especulação era avassaladora e as receitas do Jogo estavam em alta, o Governo escudou-se no facto do mercado ser livre, e de esperar pelo desenvolvimento saudável no sector, para não intervir. Contudo, se a “bolha” não rebentou e o sector arrefeceu, ficou a dever-se a um factor externo, com dedo inequívoco de Pequim, e não como medida – diria – auto-reguladora imposta pelo Governo local. Ou seja, a queda das receitas do Jogo.

Dando o benefício da dúvida, visto alguém do Executivo ter ficado a saber antecipadamente que a economia chinesa iria abrandar e as receitas do Jogo teriam quedas sucessivas – daí a razão para não “mexer” no imobiliário – para mostrar à sociedade que o Governo até é “pessoa de bem”, tem agora a soberana oportunidade de implementar medidas que contrariem, de forma eficaz, o que se prepara para ser uma realidade avassaladora: a subida vertiginosa do custo de vida, por via do aumento do mercado imobiliário, e consequente degradação da harmonia social.

Ao contrário do que preconizavam algumas vozes ligadas ao sistema, afinal a vigente Lei de Terras não impede o investimento, dado que os especuladores estão de volta. A bola está do lado de Chui Sai On e seus pares.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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