Olhando em redor

Quanto vale a marca Macau?

Macau passa por um grande dilema para viabilizar o seu nome como reconhecida marca de excelência a nível internacional, porque além de faltar algum sentido de orientação, salta à vista a mentalidade provinciana de quem tem responsabilidades e poder de decisão.

Por vezes, a culpa até nem é do Governo, mas sim de vários empresários locais, que nada mais fazem do que estrangular os sectores das áreas profissionais a que pertencem, apenas com o intuito de poderem reinar a seu bel-prazer. Outras vezes, apesar de serem bastante viajados, são empresários que não têm o discernimento, nem a visão, de perceberem o que realmente interessa a Macau, desaproveitando assim a máxima “win-win situation”.

Contudo, há vezes em que o Governo – leia-se, anteriores – não pode fugir às suas responsabilidades de pouco ou nada ter feito, ou de ter impedido que se caminhasse nesta ou naquela direcção, até porque, assim como na Lei de Terras, a culpa não morre solteira, visto haver culpados para todos os gostos.

Um claro exemplo de assoberbada falta de visão é a carência de espaços verdes (parques) para usufruto da população, pois a maior parte dos terrenos tem sido votada ao desenvolvimento de infra-estruturas assentes na indústria do Jogo e do imobiliário. Oxalá quem de direito tenha em consideração esta lacuna sempre que ficarem consumadas futuras reversões de terrenos a favor da RAEM…

Havendo mais espaços destinados à população, melhor será a qualidade de vida e as opções para as famílias planearem os seus fins-de-semana. Em vez de se deslocarem à zona da Universidade de Macau, a Zhuhai e a Hong Kong, assim como a outros destinos relativamente próximos, porque não permanecerem em Macau (Península, Taipa, Coloane)?

Tal só será possível com menor dificuldade quando os novos aterros forem aproveitados, mas como até lá muitas políticas terão ainda de ser redefinidas e reorientadas, temo que muitas famílias tenham que se resignar ao pouco que Macau ainda lhes oferece.

 

Operadoras

À excepção da SJM e da Wynn Resorts, reconheço capacidade de trabalho às restantes operadoras do Jogo a favor da diversificação económica para os residentes, pela via do entretenimento e lazer. O expoente máximo é a Sands China, que tem levado com assinalável sucesso o nome do território a outros pontos do planeta, seja através dos concertos no Cotai Arena com renomadas bandas internacionais (Air Supply, The Rolling Stones, Bon Jovi, etc.), seja através dos combates de boxe com figuras de proa do pugilismo mundial, etc. Aguardo com expectativa a abertura do Parisian.

O MGM tem apostado na cultura, constituindo o “Art Space” e o “Aquarium” cilíndrico duas lufadas de ar fresco em termos de ofertas turísticas, que têm sido igualmente aproveitadas por quem é residente. O Galaxy esforça-se por transmitir um conceito essencialmente consumista, estando ainda por explorar em toda a plenitude a vertente mais lúdica. Salva-se o “pub” Roadhouse, na Broadway, o (caríssimo) cinema no hotel Galaxy, e pouco mais.

Já a Melco Crown tem tentado introduzir e expandir o conceito de entretenimento e lazer sem muitas vezes perceber que caminhos trilhar. Se há que reconhecer a importância das ofertas temáticas do Studio City (“The House of Magic”, “Batman Dark Flight” e “Warner Bros. Fun Zone”), ao contrário do que admitiu recentemente Lawrence Ho, o insucesso do empreendimento não se deve apenas à estratégia errada de “marketing”, mas acima de tudo porque o conceito para se chegar aos consumidores está completamente desadequado da realidade de Macau.

Um claro exemplo é a discoteca Pacha, que terá grande sucesso noutras paragens, mas nunca no território, pelo menos enquanto não estiver ao nível do que melhor existe no ramo à escala mundial. Ou seja, Macau não tem o nome, nem o reconhecimento, muito menos a fama, para ser um local de pura diversão nocturna, tal e qual como podemos encontrar em Miami, Los Angeles, Londres, Lisboa, Hong Kong e Rio de Janeiro.

Ainda por cima, quando a política do Pacha Macau não contempla a esmagadora maioria da população local, dado que o conceito está mais virado para uma elite de endinheirados ou para quem lá vai “de quando em vez” e não com a frequência que desejaria.

O City of Dreams é outro paradigma de uma certa incoerência, porque se o espectáculo “The House of Dancing Water” representa uma mais-valia, a zona do Soho transporta-nos para uma artificialidade que está longe de se identificar com Macau ou com Londres, Manhattan, Hong Kong e por aí fora.

No campo negativo estão as pouquíssimas ofertas da Wynn Resorts, esperando, todavia, que o Wynn Palace no COTAI mude o paradigma da operadora nesta vertente.

Quanto à SJM, face às décadas de experiência granjeadas pela STDM, da qual é subsidiária, e ao número de infra-estruturas à disposição, é ponto assente que a área do entretenimento e lazer está muito aquém do que a operadora pode e deve fazer, tanto para turistas e visitantes, como para residentes e respectivas famílias. Relativamente às Docas dos Pescadores, como há obras a decorrer, reservo os meus comentários (positivos ou negativos) para mais tarde.

No campo governamental parece haver finalmente vida na zona dos Lagos Nam Van, o que se louva à partida. Espero que mais e melhor seja feito, porque aquele espaço tem imenso potencial como pólo de atracção de actividades para as indústrias criativas do território.

Em jeito de conclusão, a maior partes das ofertas turísticas deviam servir de complemento lúdico à população, mas estão amplamente dissociadas dela porque não traduzem a essência do território ou são incomportáveis para as bolsas de quem aqui vive. A relativa falta de opções fora do raio de acção do Jogo, essencialmente ao ar livre, é outro factor negativo a extrair desta minha avaliação.

O grande problema é que Macau pretende ser uma cidade internacional de turismo e lazer, mas teima em construir a casa pelo telhado, ao não olhar primeiramente para quem é da terra e gizar depois um plano para “conquistar” o mundo. Apesar de tudo, há sinais encorajadores. Mas serão suficientes?

 

Hotel Estoril

“Pelo menos alguns representantes dos sectores da educação e juvenil manifestaram-se contra a preservação do painel de mosaico do Hotel Estoril no local original”, descrevia, na passada quarta-feira, o Jornal Tribuna de Macau, acrescentando que “segundo a imprensa em língua chinesa, entendem não ser decente ter uma pintura do género num edifício destinado a actividades juvenis”.

Sendo curto e grosso, como podem essas mentes brilhantes advogar tal ideia? Será porque a mulher semi-nua retratada no mosaico desperta tendências e sentimentos libidinosos nas crianças? Haja paciência!

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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