Olhando em Redor

Mundo cada vez mais interessante

O “Brexit” é uma boa notícia. Se o referendo acontecesse há vinte anos diria que não fazia qualquer sentido, mas tendo em conta a maneira como caminha agora a União Europeia diria que faz todo o sentido. Ou não estivesse o bloco europeu assente em medidas desajustadas, que fomentam a não coesão, essencialmente provocadas por países que impõem a sua vontade – Alemanha e França – em claro prejuízo das economias menos pujantes – Portugal, Espanha, Itália, etc.

Posto isto, é fácil chegar à conclusão que o ideal europeu está desvirtuado, por força de políticas neoliberais grandemente prejudiciais ao bem-comum, o que em abono da verdade têm contribuído para o surgimento de movimentos nacionalistas e para a clivagem entre a classe alta e a classes média e baixa.

Ao contrário do que tem avançado a alarmista Imprensa ocidental, as consequências do “Brexit” são bem previsíveis: a Escócia vai sair do Reino Unido, o mesmo podendo suceder com a Irlanda do Norte, resultando daí consequências para os Estados da “Commonwealth”.

Sobre o que restar do Reino Unido, até mesmo se a Inglaterra caminhar sozinha, é natural que procure revitalizar a sua economia, sendo previsível o crescimento do Produto Interno Bruto, em virtude do aumento das exportações, até agora manietadas pelas políticas impostas pela UE.

Nesse sentido, terá mais de dois biliões de potenciais consumidores nos países emergentes, número suficiente para afastar o espectro avançado pela corporativa Imprensa ocidental quanto aos prejuízos que terão as empresas britânicas, assim como em relação à possível retaliação comercial e económica da UE. A maior surpresa será o aumento da taxa de emprego, algo impossível enquanto membro do bloco europeu.

A saída de um Estado-membro da União já era para ter acontecido com a Grécia, algo que não chegou a ser consumado porque o país helénico não tem o poderio económico, nem a força política do Reino Unido, no seu todo. Espero que após o referendo do “Brexit” outros países sigam o exemplo, entre os quais Portugal.

Com efeito, os altos responsáveis da União Europeia cometeram o erro crasso de olhar com desdém para os sinais que prenunciavam tempos agrestes para a persecução das suas vontades elitistas, que nada têm a ver com o espírito europeu, assente na união de povos sem barreiras. Está provado que não há união, porque as barreiras são mais do que evidentes.

Por outro lado, a Grã-Bretanha é contra a assinatura do Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento, entre os Estados Unidos e a União Europeia, porque em caso de aderência o bloco europeu irá ficar numa posição muito desvantajosa, com a adopção de más práticas laborais em vigor no outro lado do Atlântico, além de ter como objectivo aumentar o lucro das grandes empresas, estando o poder político à sua mercê.

 

China

O Global Times defendeu no passado sábado que o Reino Unido deu um “passo atrás”, porque o povo britânico “revelou uma mentalidade tacanha”, optando por se “fechar ao mundo exterior”.

Entre outras considerações, o jornal oficial do Partido Comunista Chinês assegurou que a RPC “continuará a observar as consequências para o Reino Unido da decisão de abraçar um referendo ‘democrático’”.

No dia anterior, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Hua Chunying, deixou o apelo à União Europeia no sentido de chegar “rapidamente” a acordo com o Reino Unido, reiterando o respeito pela decisão do povo britânico, ao votar maioritariamente a favor do “Brexit”.

Entretanto, o Primeiro-Ministro Li Keqiang disse que a China “espera uma UE unificada e estável, bem como uma Grã-Bretanha estável e próspera”. É sempre interessante saber o que pensa a RPC sobre os acontecimentos de relevância mundial, visto ser uma das principais protagonistas no xadrez global.

Escusando-me a comentar as reacções da parte chinesa, apenas deixo a minha opinião: a melhor lição a reter no processo “Brexit”, independentemente dos interesses políticos que cada um dos lados tem em jogo, é que não há país ou bloco de Estados que perdure no tempo quando os seus líderes políticos não governarem responsavelmente, ao estarem essencialmente preocupados com o seu umbigo.

Seja em países democráticos, em regimes semi-ditatoriais ou em ditaduras plenas, o tempo encarrega-se de fazer a sua parte. As minhas palavras podem parecer demagogia pura, mas é preciso ter em conta que a linha do tempo é bastante maior do que a existência de cada um de nós. Por isso, também é natural que não sejamos testemunhas do que irá ser a China daqui a duzentos ou a trezentos anos. O meu desejo é que continue unida, sob os auspícios da mesma bandeira; cada vez mais pró-activa em relação aos direitos humanos, ao progresso social e à paz mundial.

 

Bernie

“Uma desgraça nunca vem só”, dirão muitos europeus cépticos com o “Brexit”. Porém, outra desgraça está prestes a acontecer, porque qualquer que seja o próximo Presidente norte-americano nada augura de bom para o futuro da humanidade.

Pesando os prós e os contras, Donald Trump até pode ser mais benéfico do que Hillary Clinton, pois esta vai continuar na senda do que tem sido a linha condutora das políticas seguidas pelas Administrações Washington nas últimas décadas, com especial pendor para George Bush, Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama. Ou seja, na política interna irá favorecer os interesses corporativistas, que arrecadam cada vez maior riqueza, em detrimento da população em geral, cada vez com menos rendimentos e oportunidades de construir o seu futuro. No plano externo vai dar resposta aos interesses dos “lobbies” internos que a apoiaram nas eleições, com inegáveis repercussões para a estabilidade e a paz mundial.

Pelo menos Donald Trump será um mal menor neste circo em que se tornou o mundo, desde que cumpra com a “vontade” de “Make American Great Again“, ao concentrar esforços primeiramente no plano interno. No entanto, por tudo o que de mal representam Donald Trump e Hillary Clinton, ficaria absolutamente descansado se o próximo Presidente fosse o democrata Bernie Sanders. Infelizmente, a força do “establishment” ainda é avassaladora nos EUA…

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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