Olhando em Redor

Truques de magia.

Fiquei chocado – não tenho melhor palavra para descrever o meu espanto – quando na semana passada soube que Siza Vieira não ficará encarregado de converter a estrutura do Hotel Estoril, com o intuito de transformar o devoluto espaço num centro de artes criativas para jovens, apesar do laureado com o prémio Pritzker – o Nobel da Arquitectura – ter sido inicialmente convidado, em nome do Governo de Macau, pelo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, sem necessidade de concurso público!

Mais chocado fiquei quando Alexis Tam revelou que Siza Vieira iria ser convidado a participar num concurso público, o que em nada abona a favor de um governante que, se hoje convida, amanhã volta atrás na decisão tomada.

Percebe-se, à partida, que a questão política avançada por Alexis Tam é irrelevante, porque o que transparece para a opinião pública são as suas fragilidades como governante, ainda para mais quando se trata de alguém com formação académica na gestão de empresas, área ao qual está subjacente o trabalho de planeamento e de avaliação de riscos, critérios que até ao momento falharam no dossiê Hotel Estoril.

Por outras palavras, não se trata de ouvir as diferentes opiniões da sociedade para concretizar o lema “Macau governado pelas suas gentes”, porque houve uma inversão na ordem dos acontecimentos.

Outra bronca estará para rebentar se Alexis Tam der o dito pelo não dito quanto à proibição total do tabagismo nos casinos, incluindo o fim das salas para fumadores. A este propósito recordo as suas palavras, na conferência de Imprensa realizada em finais de Janeiro de 2015, então reproduzidas pelo JTM: «Depois de fazermos um inquérito e estudos chegamos à conclusão que 70% da população concorda com a proibição total de fumo e 80% dos turistas também não disseram discordar dessa medida. Depois destes resultados o Governo tomou uma decisão – e somos unânimes – quanto à proibição total nos casinos».

Se retroceder na unanimidade do Executivo sobre o assunto, ao não submeter à 2ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa uma versão final da proposta de lei consonante com a proibição total do fumo, o que quererá isto dizer? Ainda para mais, tendo em conta que a decisão final sobre a aprovação, ou chumbo, da proposta de lei na especialidade cabe sempre aos deputados…

Obviamente que os “ziguezagues” de Tam não são o reflexo de uma liderança fraca de Chui Sai On, se tivermos em conta que um outro secretário, detentor de uma pasta fulcral para o tecido empresarial de Macau, tem tido assinalável sucesso no braço-de-ferro com as oligarquias e poderes instituídos no território. O seu nome? Raimundo Arrais do Rosário.

Quanto ao futuro do Hotel Estoril, o meu vaticínio é que, caso concorra ao concurso público, o vencedor será o arquitecto Carlos Marreiros (individualmente ou em co-autoria). Se tal acontecer, sugiro que convide Siza Vieira para colaborar no projecto de reconversão.

 

Governante Tam

O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura é uma personalidade sagaz, com um grau de inteligência acima da média, algo que alia com mestria à excentricidade própria dos mais favorecidos no pensamento.

Nesta linha de ideias, não concordo quando dizem que Alexis Tam está a ser alvo de uma campanha de descredibilização porque supostamente pretende ser Chefe do Executivo, reforçado pelo facto de cumulativamente ser próximo da comunidade portuguesa, dando tais “opinion makers” a ideia de haver aqui alguma discriminação sobre nós, portugueses (por parte de poderosas figuras da comunidade chinesa).

A nossa comunidade é pouco relevante neste processo, se tivermos em conta que o seu peso maior reside na matriz do Direito vigente na RAEM, porque em termos políticos, sociais e culturais deixou de ter o fulgor de outrora, razão pela qual também pouco ou nada dirá ao “establishment”, amplamente dominado por essas figuras da comunidade chinesa.

Pelo contrário, a comunidade portuguesa ganha extrema importância para Alexis Tam, se pensarmos que a esmagadora maioria dos Órgãos de Comunicação Social do território, em língua chinesa, é controlada pelo Partido Comunista Chinês, enquanto a Imprensa de língua portuguesa tem fama de ser bastante crítica em relação à actuação governativa após a transferência de poderes (nem toda, nem toda…).

Colhendo simpatias junto da nossa comunidade, e por arrasto da maior parte da Imprensa portuguesa, qualquer Chefe do Executivo depara-se com menos contestação visível, algo extremamente útil quando as traduções das notícias aqui veiculadas seguirem para Pequim.

No primeiro caso, estão de certa forma garantidas as boas notícias sobre o líder máximo da RAEM, o mesmo se passando com maior frequência no segundo caso – basta fazer uma análise objectiva ao período de Edmundo Ho para o leitor tirar as suas próprias conclusões em determinados casos – sendo certo que a Imprensa de língua inglesa ainda não ganhou, em toda a plenitude, aquela preponderância e “voz” que porventura pode alcançar.

A questão fulcral, à qual ainda não consegui obter resposta, é esta: não será a inconstância de Alexis Tam na tomada de posições, como governante, um claro sinal para as oligarquias locais de que pode ser a pessoa mais indicada para o cargo de Chefe do Executivo?

 

Arquitecto Marreiros

O digníssimo arquitecto Carlos Marreiros – por quem tenho admiração profissional, confesso – veio a terreiro criticar recentemente com veemência, em diversas ocasiões, a forma como a Diocese e o Governo de Macau cuidam do seu património, algo que à partida me deixou perplexo, porque sendo ele membro do Conselho do Património Cultural supus que para além de debater estes assuntos no seio daquele órgão consultivo tomasse publicamente uma constante postura assertiva na matéria, o que notoriamente não tem acontecido nos últimos anos. Não questiono o teor das suas críticas, porque genericamente até me parecem bastante válidas. Questiono, isso sim, o “timing” para as fazer.

 

Filme

No passado fim-de-semana assisti à exibição da película “Now You See Me 2”, com Michael Caine e Daniel Radcliffe entre os principais papéis. A trama, com início em Nova Iorque, passando espantosamente por Macau e terminando em Londres, gira à volta do submundo do crime, tendo como figuras centrais vários ilusionistas.

Tal como neste filme de grande qualidade técnica, também na vida real nem tudo é o que parece. Para quem não domina as técnicas do ilusionismo, a arte está em perceber como é feito cada truque de magia, qualquer que seja o seu grau de dificuldade.

Já agora, a Rua da Felicidade, o Sands Macau, o Centro de Ciência de Macau e o Mercado Municipal da Taipa são os principais cenários na RAEM.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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