Olhando em Redor

O canto do cisne

É sempre interessante, por vezes divertido, saber o que pensam os grupos de pressão económica sobre qualquer assunto que afecta de forma indelével a vida das pessoas.

Há dias, a imprensa local publicou uma notícia em que Ronald Cheung, director executivo da agência imobiliária “Midland”, previa que os preços das casas transaccionadas no território poderiam sofrer uma grande queda, razão pela qual defendeu que o Governo deveria facilitar a aquisição de habitação pelos cidadãos.

A fazer fé no que foi escrito, na óptica do senhor Ronald, ao serviço de uma agência imobiliária sediada em Hong Kong, com ramificações em Macau, há que atenuar os requisitos para os empréstimos bancários e reduzir para 5% a taxa do imposto de selo especial para os compradores não-residentes (situa-se nos 10%).

A sua preocupação assenta na redução contínua de preços das fracções habitacionais no mercado privado, seja na Península de Macau, na Taipa, ou em Coloane, o que em certa medida até está em linha com o abrandamento das receitas do Jogo e, por inerência, da economia local.

Parece que o senhor Ronald, tal como muitos empresários ou profissionais afectos a poderosos lóbis, além de só pensar nos lucros que o negócio pode trazer, pouco se deve importar quando a conjectura lhe é favorável, mas perniciosa para o grosso da população. Tal sucedeu quando a especulação imobiliária ditava regras no ano passado e havia quem esfregasse as mãos de contente, pois era o tempo das vacas gordas.

O senhor Ronald tem de compreender que a sua pretensão não vai ser atendida pelo Governo, porque este também recusou intervir no mercado privado quando a especulação imobiliária estava no auge, alegando que respeitava a lei da oferta e da procura.

Naquela altura muitos cidadãos da classe média sofreram com o exorbitante preço exigido na compra, ou arrendamento, de fracções habitacionais. Em jeito de reciprocidade, como o Governo é “pessoa de bem” não vai agora favorecer as agências imobiliárias. Afinal, há que respeitar a tal lei da oferta e da procura. Por outras palavras: ajustem-se o melhor que conseguirem à contingência actual.

Ronald Cheung também deverá saber que, apesar da queda, os preços continuam inflacionados, pois se fizermos alguns cálculos matemáticos, tendo em consideração vários indicadores económicos, facilmente percebemos que há margem para o valor médio do metro quadrado de uma fracção habitacional descer, até ao final do ano, cerca de 30% na Península de Macau, 45% na Taipa e entre 20% e 25% em Coloane.

 

Votos

Há vários anos escrevi que José Pereira Coutinho era um animal político. Não me enganei! Odiado por alguns, estimado por outros, Coutinho personifica bem a essência de uma pessoa extremamente ambiciosa e arguta que tenta agarrar as oportunidades que a vida lhe proporciona. Se as usa de forma correcta ou não, isso já é outra história…

Tendo em conta o que vem acontecendo há alguns meses a esta parte, não me surpreendeu que alguém conotado com a ATFPM estivesse na calha para as legislativas da Assembleia da República Portuguesa. Sabe-se agora que Coutinho é cabeça de lista da “Nós, Cidadãos!” pelo Círculo Fora da Europa.

Face às movimentações ocorridas desde o ano passado no núcleo do PS em Macau, também já esperava que fosse anunciado algum candidato local na lista socialista pelo mesmo Círculo. O nome recaiu em Tiago Bonucci Pereira.

O meu colega de profissão, José Miguel Encarnação, poderia também entrar na corrida por este mesmo Círculo, não fosse ter declinado o convite endereçado pelo Movimento Partido da Terra, já depois de há quatro anos ter encabeçado uma candidatura pelo Partido Nacional Renovador.

Há várias ilações a tirar: 1 – Coutinho está em condições de baralhar as contas da coligação PSD/CDS-PP, podendo dar um dissabor ao seu “amigo” José Cesário.

2 – O Governo Central está bastante atento ao desenrolar dos acontecimentos, sendo também de esperar que o Governo da RAEM tome uma medida enérgica em conformidade com a legislação em vigor no território após as legislativas em Portugal.

3 – Embora esquecendo muitas vezes o real sentido da democracia, alguns inimigos fidalgais de Coutinho dizem-se arautos dos valores democráticos somente porque a política lhes dá protagonismo, influência, estatuto e algo mais. No fundo, pouco se distanciam.

4 – Gostando-se, ou não, Tiago Pereira e Pereira Coutinho reafirmam a importância e o papel de Macau no mundo lusófono.

 

Enfim…

Macau é conhecida desde há muito tempo como ponte entre povos e local de tolerância mútua entre civilizações. Todavia, estou estupefacto com a posição da Associação de Mútuo Auxílio dos Operários de Macau, ao pedir às autoridades competentes que suspendam a importação de trabalhadores vietnamitas.

Na base deste disparatado pedido está o alegado envolvimento de uma empregada doméstica vietnamita na morte de uma bebé, assim como na violação de uma jovem por três homens daquela nacionalidade.

É claro que quatro pessoas não representam o comportamento de toda a comunidade vietnamita, razão pela qual o Governo de Macau não vai atender ao pedido desta associação, sob pena de originar situações de causa/efeito relacionadas com vietnamitas a trabalhar no território, o que entraria em conflito com os artigos 43º e 25º da Lei Básica. Alguém pode explicar à douta Associação o que diz a mini-constituição da RAEM?

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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