Olhando em Redor

Que aterros para o futuro?

Macau vai entrar daqui a alguns anos numa nova fase de desenvolvimento com a entrada em funcionamento do Metro Ligeiro e o aproveitamento dos cinco novos aterros que visam, à partida, responder às limitações territoriais e ao rápido crescimento da malha urbana da cidade.

Numa análise ao Projecto do Plano Director dos Novos Aterros (PPDNA), cuja 3ª fase de auscultação pública decorre entre 30 de Junho e 28 de Agosto, depreendo que o Governo da RAEM está a tentar, por um lado, encontrar soluções para minimizar o impacto do crescimento demográfico e, por outro lado, providenciar espaços de lazer e zonas verdes que fiquem ao dispor da população e de quem nos visita.

O PPDNA poderá não ser consentâneo, mas face à exiguidade do território parece-me ser, em termos gerais, o mais equilibrado possível. No entanto, também há margem para introduzir melhorias que possam beneficiar grandemente a vida das pessoas.

A situação mais delicada prende-se com o planeamento do aterro na denominada “Zona A”, onde não há um equilíbrio entre a grande densidade populacional, os espaços habitacionais e as áreas verdes, pois nem a “zona paisagista do eixo central”, que atravessa o aterro de Norte a Sul, nem as árvores a serem plantadas, vão ser suficientes para minimizar o impacto que a poluição atmosférica terá no local, essencialmente na parte norte do aterro, por falta dos necessários corredores de ventilação.

Também os pódios dos edifícios para garagens e lojas térreas, ou para outras funcionalidades, vão retirar áreas que poderiam ser aproveitadas para plantar árvores, para facilitar a ventilação natural e para haver uma maior fluidez dos percursos pedonais.

Por outro lado, a “ilha Artificial da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau”, em frente ao aterro da “Zona A”, vai retirar capacidade à possível expansão da RAEM nessa direcção, onde há mais espaço disponível, o que a acontecer terá sempre de ser negociada com o Governo Central.

Quando à “Quarta passagem entre Macau e a Taipa”, que liga o aterro da “Zona E”, na extremidade nordeste da ilha da Taipa, e o nordeste da Areia Preta, com passagem pelo aterro da “Zona A”, devia ser considerada uma estrada independente do tipo expresso que ligasse o COTAI, a ilha da Taipa e as Portas do Cerco, por forma a desviar o trânsito rodoviário de uma área da cidade que irá sofrer irremediavelmente com o crescimento urbanístico.

Para resolver o actual e o futuro congestionamento do trânsito rodoviário na zona das Portas do Cerco, deveria ser reformulada a capacidade e a dimensão das instalações fronteiriças, do estacionamento subterrâneo afecto e dos respectivos acessos, de maneira a acomodar as necessidades do aumento dos fluxos pedonal e viário, por exemplo, através de uma construção com vários níveis, subterrâneos e elevados, à semelhança do que se verifica nos aeroportos modernos.

Uma realidade algo diferente parece estar planeada para o “Corredor Verde Aéreo da Zona Comunitária”, onde a aposta vai para a rede de espaços verdes, inclusivamente no topo dos edifícios, e para áreas de lazer que poderão elevar Macau a uma nova dimensão, visto ainda serem escassas as alternativas lúdicas de qualidade fora da indústria do jogo e de não haver soluções à vista para a diminuição do monóxido de carbono expelido pelos tubos de escape dos veículos motorizados.

Macau também vai ganhar outra magnitude com o crescimento do seu espaço subterrâneo, não só com os tradicionais parques de estacionamento nos cinco aterros, mas também com um centro comercial na parte sul da “Zona A”, etc.

Num território escasso de terras a solução passa sempre pela ilha da Montanha, o que numa lógica mais abrangente também está de acordo com a integração antecipada de Macau na Grande China, o que até aceito, desde que o observado na Lei Básica seja para cumprir até 2049 (não há aqui contradição alguma).

 

Hotel Estoril

Não sou arquitecto, nem tenho a veleidade de posicionar-me como arauto da sabedoria nas questões do património, mas tal não quer dizer que não deixe de dar a minha opinião sobre o antigo Hotel Estoril.

Divulgada que está a minha declaração de interesses, pois não me movo por lóbis, nem pretendo encaixar umas “valentes massas” a projectar a reconversão arquitectónica do local, defendo que a infra-estrutura deve ficar ao serviço da população, com a manutenção e, até mesmo, ampliação da piscina, enquanto toda a fachada principal do edifício deve ser preservada, na condição de serem construídas janelas para a rua e proceder-se à restauração da gravura na parede sem adulterar a traça original.

Apesar de mais uma opinião lançada para a praça pública, o cerne da questão sobre “o que fazer?” é só um, porque ao enveredar por uma solução que ponha, em primeiro lugar, o antigo Hotel Estoril ao serviço da população, e não dos interesses imobiliários ou empresariais, Alexis Tam dá provas de ser o homem certo no lugar certo.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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