O “PAI NOSSO” SEGUNDO O TEÓLOGO SCOTT HAHN

O “PAI NOSSO” SEGUNDO O TEÓLOGO SCOTT HAHN

Oração que nos leva à imitação de Cristo

Com a entrada no mês de Abril, o Calendário Litúrgico aproxima-se da Páscoa. Um tempo que apela a um aprofundamento da vida espiritual. Para o efeito, fomos ao encontro da oração dada por Jesus: o “Pai Nosso”. Scott Hahn, professor de Teologia Bíblica na Universidade Franciscana de Steubenville, falou sobre esta oração em conferência decorrida há mais de uma década, intitulada “Deep in History”. Na ocasião, levou os participantes a uma reflexão teológica, em que espelhou a grandeza e a profundidade do “Pai Nosso” – oração que «rezamos muito, mas [sobre a qual]ponderamos pouco». A palestra encontra-se disponível, na íntegra, na plataforma YouTube.

Jesus deu-nos a oração perfeita, começa por afirmar Scott Hahn. Esta é a oração que a Igreja Católica recita após a consagração, antes da comunhão, no clímax da Santa Missa. Foi proferida por Jesus no mais famoso de todos os Seus sermões – o primeiro sermão do evangelista Mateus: “O Sermão da Montanha” (capítulos 5, 6 e 7). «O “Pai Nosso” é o coração; é a peça central deste sermão. De facto, neste primeiro dos Seus sermões públicos, chama a Deus de Seu Pai. Ensina-nos a reconhecer Deus como Pai. Usa a palavra [Pai]dezassete vezes em apenas três capítulos. Deus é aqui referido como Pai, mais que em toda a Bíblia hebraica», vinca o professor.

Lucas Evangelista – sublinha o académico – mostra-nos que Jesus deu-a em resposta a um pedido vindo dos Seus discípulos. Perceberam que o seu Mestre tinha estado acordado toda a noite em oração e por isso pediram: «Senhor, ensina-nos a orar». Este pedido era, em si mesmo, a resposta que Deus deu a Jesus durante toda a noite na oração. «Porque nunca seremos verdadeiros discípulos de Cristo até nos tornarmos como Cristo. Nunca seremos como Jesus, até que aprendamos a rezar como Jesus o fez. Portanto, o próprio desejo de rezar, é em si mesmo, o resultado da oração de Cristo. E neste caso, Jesus deu-lhes verdadeiramente o que é a oração mais perfeita», disse.

O Catecismo da Igreja Católica refere: “A oração dominical [‘Pai Nosso’] é a mais perfeita das orações […]. Nela, não só pedimos tudo quanto podemos rectamente desejar, mas também segundo a ordem em que convém desejá-lo. De modo que esta oração, não só nos ensina a pedir, mas também plasma todos os nossos afectos (São Tomás de Aquino, Suma Teológica)” (CIC nº 2763).

SETE PETIÇÕES

A oração do Senhor está dividida em sete petições. Segundo Scott Hahn, o número sete é sagrado (o número perfeito). Refere que as sete petições estão divididas em “duas partes” – uma com três petições, e outra com quatro.

As primeiras três petições podem-se descrever como “Palavra de Deus”: «Estamos a rezar por “santificado seja o vosso Nome”, “venha a nós o vosso Reino”, e “seja feita a vossa vontade”. E depois as últimas quatro, a segunda parte. Aqui falamos de nós: “dái-nos”, “perdoai-nos”, “guiai-nos” e “libertai-nos”. A sequência é como que de trás para a frente. Concentramo-nos na força de Deus».

O que Cristo acaba de fazer? No entender do professor, Ele acaba de lançar uma revolução na história da religião universal: «Tendo ensinado aos seus discípulos a fazer o que nem mesmo os rabinos mais devotos faziam no Judaísmo antigo – dirigir-se a Deus como Pai. No Judaísmo antigo, Pai era uma metáfora, uma figura de linguagem, algo a que podemos comparar Deus. Isto mudou quando Deus enviou o Seu Filho Unigénito».

“Pai Nosso que estais nos Céus, santificado seja o vosso Nome”.Ora, «Se Deus é nosso Pai, nós somos a Sua família», nota Hanh, acrescentando: «Se Ele está no Céu, nós ainda não estamos em casa, peregrinamos»; «o que nos separa de Deus é o pecado. O pecado é o que oblitera o sentido da paternidade de Deus».

“Santificado”, significa o mesmo que “Santo”. O Catecismo da Igreja Católica é muito claro a este respeito. Deus, sendo Pai, dá-nos o Seu nome. “Suplicando-Lhe que o seu nome seja santificado, pedimos-Lhe para sermos cada vez mais santificados” (CIC nº 2839). Isto é, «quando rezamos para que “o Seu nome seja santificado”, estamos a pedir a Deus para que nos faça santos […]o mundo inteiro, a forma como Deus o concebeu e o governa, é uma grande máquina de “produzir” santos».

“Venha a nós o vosso Reino”.Nesta frase tomamos consciência que somos mais do que simples filhos e filhas. Esta petição dá-nos uma vocação de realeza, que nos aponta a um Reino, defende Hanh, lançando um desafio à plateia: «Quero propor-vos uma razão pela qual rezamos esta oração familiar, juntos, todas as semanas. Após a consagração e mesmo antes da Sagrada Comunhão. Porquê? Porque o Reino não é apenas no futuro, é também a própria Eucaristia».

“Seja feita a vossa vontade”.Para o académico trata-se de uma suave recordação da verdade, sendo a que mais importa. Rezamos para que Deus mude a nossa vontade. Reconheçamos que não só nos conhece melhor do que nós a nós próprios, como nos ama mais do que nos amamos a nós próprios. Hahn destaca que esta petição é bem entendida por Santa Teresinha (Lisieux), que no seu livro autobiográfico “A História de uma Alma” escreve: “Deus dá-me o que eu quiser. Porque eu quero tudo o que Ele me dá”.

“O pão nosso de cada dia nos dai hoje”.Vemos a ligação à Eucaristia. Jesus era judeu, e estava a falar com judeus. O professor interroga o que Deus fez durante quarenta anos no deserto? Dava-lhes o Maná. Rezamos «“o pão nosso de cada dia nos dai hoje”. Mas quando é que Deus o dá? Durante as nossas refeições, mas especialmente numa refeição de comunhão sacrificial: a Eucaristia».

“Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.Nesta passagem é-nos colocado um grande desafio. O Senhor desafia-nos a crescer como Seus filhos, porque Ele quer que sejamos santos. «Não crianças mimadas; filhos egoístas e imaturos. Deus quer que eu odeie mais o meu pecado do que o de outras pessoas».

“Não nos deixeis cair em tentação”.Deus não seduz ou tenta. O livro de Tiago diz: «Deus não é tentado a fazer o mal nem tenta a ninguém» (1:13). Hahn questiona por que razão haveria Deus pensar em testar-nos como Seus filhos e filhas? E responde à pergunta: «Não para descobrir o que Ele não sabe, mas precisamente para mostrar-nos o que nós não sabemos. Quando enfrentamos provas, descobrimos que não somos tão fortes como pensávamos ser. Deus mostra-me as minhas fraquezas para que eu descubra o Seu poder, e para que eu O deseje muito mais do que O tenho desejado».

“Livrai-nos do Mal”.Esta é a última petição. O académico considera ser importante entendermos que este não é um mal genérico. Na realidade, literalmente, significa: “livrai-nos do maligno”. Nosso Senhor ensinou-nos a reconhecer que estamos perante um inimigo que não conseguimos vencer por nós próprios. Por isso, Hahn encoraja-nos tendo como mote as palavras de Jesus: «Pois aquele que está em vocês é maior do que aquele que está com o mundo» (1 João 4:4).

Durante a palestra, Scott Hahn faz constantemente o paralelo entre a oração do Senhor e a Santa Missa. Neste âmbito, volta a questionar e responde: «Então, onde é que Deus liberta o Seu poder para nos libertar do mal, mais do que em qualquer outra coisa que fazemos na Terra? Na Missa! Esta é uma das orações que é mais profunda do que o oceano. É inesgotável. É a oração mais perfeita, especialmente quando a rezamos na mais perfeita bênção dos sacramentos: a Eucaristia».

M. A.

LEGENDA:

Igreja do Pai Nosso, no Monte das Oliveiras, em Jerusalém

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