Nossa Senhora do Rosário de Fátima – uma aparição escatológica

“Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”

Todo o cristão da Igreja Católica Apostólica Romana reconhece na Nossa Senhora – Mãe de Deus – a Mãe Celestial que Jesus nos deu aos pés da cruz, quando ao apóstolo amado disse: «Eis aí a tua mãe» (Jo., 19:27), a mulher revestida de Sol do Apocalipse (Ap., 12:1) que brilhou no céu em Fátima. Pelo seu sim – “fiat” – entrou a salvação no mundo (Lc., 1:38).

Sempre houve, para alguns, uma dificuldade em conviver com o mistério, com o sobrenatural, o inexplicável, não só nas Escrituras, como nas revelações extraordinárias.

Contudo, Deus não nos deixou órfãos como nos lembram as Escrituras e as próprias palavras de Jesus na missão que nos deixou: «Aproximando-se deles, Jesus disse-lhes: “Foi-me dado todo o poder no Céu e na Terra. Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos”» (Mt., 28:18-20).

Esta promessa tem que ser vivida não só pela fé à luz da Palavra e sua vivência, mas abraçando tudo o que Deus nos dá, como as aparições da Virgem Maria.

Deus o criador supremo, no seu mistério e desígnios, se vai revelando a quem o procura na humildade, escolhendo aqueles que nada são para o mundo, a fim de mostrar aos que se acham alguma coisa, que nada são: «Mas o que há de louco no mundo é que Deus escolheu para confundir os sábios; e o que há de fraco no mundo é que Deus escolheu para confundir o que é forte» (1 Co., 1:27-31).

 

CORRENTE DESMISTIFICADORA DAS APARIÇÕES

As aparições de Nossa Senhora em Fátima, na Cova da Iria, iniciadas a 13 de Maio de 1917, aos três pastorinhos – Lúcia, Jacinta e Francisco – é uma das poucas aprovadas pela Igreja. E apesar de ser, pela sua mensagem, uma aparição muito importante e credível, não deixa de ser “atacada”, como sendo uma invenção, ou criação de alguns alegadamente por interesses políticos ou religiosos.

Este facto não é de estranhar. Sabemos que a Igreja tem um grande inimigo desde a criação do mundo, que não dorme e tudo faz para desviar os homens de Deus. Vejamos um dos alertas que nos dá o apóstolo Paulo na sua carta aos efésios e que devemos incorporar na nossa vivência cristã: «Finalmente, tornai-vos fortes no Senhor e na Sua força poderosa. Revesti-vos da armadura de Deus, para terdes a capacidade de vos manterdes de pé contra as maquinações do diabo. Porque não é contra os seres humanos que temos de lutar, mas contra os Principados, as Autoridades, os Dominadores deste mundo de trevas, e contra os espíritos do mal que estão nos céus» (Ef., 6:10-12).

A Igreja Católica é muito cuidadosa no que diz respeito à aprovação de manifestações extraordinárias e sobrenaturais como as aparições da Virgem Santíssima. Tendo uma descendência apostólica e uma responsabilidade milenar, é meticulosa no que diz respeito à aprovação dos “fenómenos” denominados como aparições, não se servindo deles para dogma de fé, pois a Igreja ensina que o que Deus tinha para revelar aos homens ficou concluído com a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, com as Sagradas Escrituras.

 

VIVER O MISTÉRIO DE FÁTIMA

Três crianças analfabéticas de uma pequena aldeia não poderiam enganar o mundo, nem teriam capacidade para serem instrumentos de uma suposta mentira com esta dimensão. Deus também não o iria permitir. Por outro lado, todo o conteúdo das mensagens, a forma como começaram os contactos, vão ao encontro das Escrituras, nomeadamente na forma como Deus sempre comunicou connosco: escolhendo os humildes e “fracos”; pela visita de um anjo a anunciar a aparição e a preparar as crianças, e os fenómenos sobrenaturais como o Milagre do Sol.

Em Julho de 1917, Lúcia pedia à Senhora: “Queria pedir-lhe para nos dizer quem é; para fazer um milagre com que todos acreditem que Vossemecê nos aparece”. A Virgem Maria diria: “Continuem a vir aqui todos os meses, em Outubro direi quem sou, o que quero e farei um milagre que todos hão-de ver para acreditarem”.

E de facto, no dia 13 de Outubro daquele ano, mais de 70 mil pessoas foram a Fátima para presenciarem o milagre profetizado. A própria imprensa confirmou que o Milagre do Sol ocorreu efectivamente, tal como foi predito pelas crianças e pela Virgem Santíssima. O Sol girou e dançou, e os fenómenos do milagre assombraram a multidão reunida, e confiaram milhares à fé católica.

Muitos dizem que as aparições são manifestações do demónio para nos enganar, mas uma aparição como a de Fátima, por toda a sua mensagem, conteúdo e vivência do sagrado, nem pode pôr em causa tal ideia. É impensável Fátima ser obra do demónio, e vejamos o que nos diz Jesus quando foi confrontado a expulsar demónios pelo chefe dos demónios: «Se um reino se dividir contra si mesmo, tal reino não pode perdurar; e se uma família se dividir contra si mesma, essa família não pode subsistir. Se, portanto, Satanás se levanta contra si próprio, está dividido e não poderá subsistir; é o seu fim» (Mc., 3:24-26).

Vale a pena lembrar a memória da irmã Lúcia, na terceira aparição do Anjo, na Loca do Cabeço, Outono de 1916: “Trazendo na mão um cálice e sobre ele uma hóstia, da qual caíam, dentro do cálice, algumas gotas de sangue. Deixando o cálice e a hóstia suspensos no ar, prostrou-se em terra e repetiu três vezes a oração: ‘Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os Sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-vos a conversão dos pobres pecadores’. Depois, levantando-se, tomou de novo na mão o cálice e a hóstia e deu-me a hóstia a mim e o que continha o cálice deu-o a beber à Jacinta e ao Francisco, dizendo ao mesmo tempo: ‘Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus’. De novo se prostrou em terra e repetiu connosco mais três vezes a mesma oração”.

Milagres inexplicáveis, testemunhos de fé e conversões, Fátima tornou-se num dos santuários mais queridos e visitados por peregrinos vindos de todos os países; é impensável outro pensamento a não ser: Fátima é obra de Deus para a humanidade.

Não esqueçamos o anúncio de Nossa Senhora de Fátima de que Deus queria estabelecer no mundo a devoção ao Imaculado Coração de Maria, deixando-nos uma mensagem confortante: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”.

MIGUEL AUGUSTO

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *