Tudo está bem, quando acaba bem!
Devido à nossa desconfiança característica, para com as soluções apontadas para resolver os nossos problemas, dizemos habitualmente que “tudo está bem, quando acaba bem!”, ou seja, comentários finais, só no fim do jogo!
Até agora, dentro das actuais circunstâncias em que Portugal está envolvido, o Governo português (cautelosamente) tem conseguido cumprir as expectativas que criou:
A taxa de desemprego continua a descer, situando-se abaixo dos dez por cento, o que é a mais baixa desde Abril de 2009. Segundo a DGS (Direcção Geral de Saúde), o sistema de saúde nacional português está classificado em 14° lugar, entre todos os países europeus. O indicador de confiança dos consumidores, bem como o do clima económico, continua a aumentar, atingindo o valor mais elevado dos últimos vinte anos. O défice orçamental de 2016 não ultrapassou os 2,1por cento do PIB (Produto Interno Bruto), tornando-se no valor mais baixo desde que vivemos em democracia. O turismo tem “explodido”, invadindo o País de norte a sul, colocando-o na rota dos melhores destinos de férias e de vivência para os muitos milhares de estrangeiros reformados que continuam a chegar, fixando residência em Portugal. O Governo, mantendo a promessa de aumentar os salários, decide combater eficazmente o drama de muitos jovens com empregos temporários no Estado e dá estímulos às empresas para a contratação sem prazo, ao mesmo tempo que exerce uma maior fiscalização dos abusos patronais. Foram dados passos decisivos para acabar com a crise bancária que tanto afectou o País, mau grado os problemas que prejudicaram tantos depositantes. E os nossos emigrantes continuam a confiar no País, aumentando 15,6 por cento as suas remessas (quase 300 milhões de euros), de onde se destacam os residentes em França e na Suíça.
Por outro lado, para além de pequenos conflitos laborais, a política nacional mantém-se estável, com a oposição do PSD e CDS a decidir mudar de narrativa. Como se tornou ridículo continuar a dizer que vinha aí o “diabo” e que tudo estava mal, agora afirma que o que está bem foi obra do seu anterior Governo e o que está mal foi o actual que o fez. É caso para dizer “pior a emenda do que o soneto!”.
Mas será que tudo está bem? Não, nem tudo está resolvido para que possamos caminhar, seguramente, em direcção ao futuro que todos queremos. Portugal precisa de crescer economicamente muito mais, necessitando de maiores investimentos públicos e privados.
Se é bem verdade que o País há mais de 60 anos recorre a empréstimos externos e que, na maior parte das vezes, não tem conseguido equilibrar essa dívida com o crescimento interno, a actual dívida nacional, a rondar os 130 por cento do PIB e a juros demasiado altos (só este ano vamos ter de pagar cerca de oito mil milhões de euros em juros), com os actuais financiadores (FMI e União Europeia) a exigirem regras de cumprimento demasiado restritas, Portugal, com os necessários recursos económicos a escoarem-se para o pagamento da dívida, terá grandes dificuldades em conseguir um maior crescimento (1,4 por cento em 2016 e talvez dois por cento em 2017). Sem grandes investimentos o crescimento económico será fraco e o pagamento da dívida, dentro das regras que nos impuseram, muito improvável.
Razão, talvez, porque surgem agora, no horizonte político nacional, cada vez mais vozes e estudos concretos sobre o tema, colocando a questão central da negociação ou reestruturação da dívida portuguesa. Há até quem afirme disparatadamente: “não pagamos!”.
Naturalmente que os financiadores não estarão de acordo com nenhuma destas hipóteses, a começar pelo ministro alemão das Finanças e a acabar naqueles cujas economias nacionais têm excedentes e que muito têm lucrado com os juros da dívida.
No entanto, os períodos eleitorais europeus que estamos a viver e que vão continuar este ano têm, entre muitos sustos para o futuro desta Europa, provocado um acréscimo de críticas para a gestão europeia e as dificuldades que essa gestão tem infligido aos seus povos.
Sei que coexistem muitas dificuldades sociais e políticas em vários países europeus. Sei o rol de motivos sociais que provocaram a saída do Reino Unido da UE. Sei o que as últimas eleições legislativas mudaram no panorama político grego, espanhol e português. Não sei o que vai mudar em França e mesmo na Alemanha. Mas sei que nada vai ficar na mesma!
Ao abrir-se a Caixa de Pandora, em que se tornou esta União Europeia, pode ser que, no fundo da caixa, encontremos a esperança de resolver os nossos problemas!
LUIS BARREIRA