No coração da Igreja

Nunca como nos últimos meses a Família esteve na mente e no coração da Igreja. As recomendações e os conselhos do Papa Francisco neste primeiro ano de pontificado; a peregrinação das famílias no Ano da Fé; o encontro do Papa com os noivos na Festa de São Valentino; Família e Matrimónio nos temas de estudo durante o Consistório; a preparação e a celebração da próxima Assembleia do Sínodo dos Bispos de 2014 sobre o tema: “Os desafios pastorais para a família no contexto da evangelização”; o Dia Mundial das Famílias em Filadélfia em Setembro de 2015; o Sínodo Ordinário de Outubro de 2015: são os eventos que nestes anos falam a partir do coração da Igreja e comovem em profundidade o coração da família humana e cristã.

O Papa Francisco com a Carta às Queridas Famílias do mundo deseja envolvê-las no caminho sinodal, numa “peregrinação” que o ícone da festa da apresentação de Jesus no templo evoca com particular eficácia. A oração e o primeiro modo de participar em tal caminho comum. As famílias – é esta a intenção do Papa Francisco – não são simplesmente objecto de atenção. Elas são também sujeito desta peregrinação, dado que são parte preponderante da Igreja e distintas pelo Sacramento do Matrimónio. O Papa olha para as famílias com a gratidão de quem vislumbra a obra que o próprio Deus realizou através do amor do homem e da mulher: pais e mães, filhos e filhas, irmãos e irmãs, avós e netos.

Não podemos esquecer que a irradiação do primeiro cristianismo ocorreu através da rede das famílias. É uma grande lição também para o nosso tempo que invoca uma nova estação missionária da pregação evangélica. O apóstolo Paulo não hesitava na retórica quando, evocando o originário mandamento do Criador: «O homem deixará seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher, e os dois serão uma só carne» (Gn 2, 24), escrevia aos cristãos de Éfeso: «É grande este mistério digo-o, porém, em relação a Cristo e à Igreja» (Ef 5, 32). É um dos trechos mais emocionantes e profundos de São Paulo sobre a Igreja. Este tempo é o tempo das famílias!

O Papa pede às famílias cristãs que sintam a responsabilidade da própria missão neste nosso tempo tão confuso e preocupante. Pede-lhes ajuda. De resto, se existe um tema da vida cristã, para o qual o apoio das famílias é indispensável quer ao Papa quer à Igreja, é precisamente este. Se não houvesse Família, a palavra de Jesus – a palavra da Igreja, a palavra do Papa – sobre o amor esponsal que é capaz de se abrir ao ágape de Deus para todos, pareceria abstracta, presunçosa, ineficaz. Mas as famílias, graças a Deus, existem e a sua presença é viva! Portanto, é significativo que os pastores e as famílias vivam neste tempo “concordes na oração” como no cenáculo espiritual que reúne o mundo inteiro, na expectativa de que o Espírito suscite um novo Pentecostes.

O Papa, enquanto exorta à oração pelo Sínodo, parece que diz também a todas as famílias cristãs: «A nossa carta sois vós» (2 Cor 3, 2). Com efeito, quem melhor do que as famílias crentes pode falar sobre o grande dom que são o Matrimónio e a Família para a humanidade? Quem melhor do que elas – e não só com palavras – pode dizer que a Família radicada no Matrimónio é um bem incomparável, que deve ser conservado com todo o zelo? Com estas breves palavras o Papa sugere que o bonito testemunho das famílias crentes é deveras uma carta “escrita nos nossos corações”, destinada a ser “lida por todos”, para que comova o coração de muitas pessoas.

 Vincenzo Paglia 

Presidente do Pontifício Conselho para a Família

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *