PALESTRAS “MAXIMUM ILLUD”: PADRE CYRIL LAW

Na China houve resistência à carta apostólica de Bento XV

PALESTRAS “MAXIMUM ILLUD”: PADRE CYRIL LAW ABORDOU A PRESENÇA DAS MISSÕES ESTRANGEIRAS NO IMPÉRIO DO MEIO.

Mal concebida, mal sustentada e prejudicial para os interesses dos católicos chineses. Estas foram algumas das críticas com que a carta apostólica “Maximum Illud” foi recebida há cem anos na China, num processo em que as Missões Estrangeiras de Paris e, em menor instância, o Padroado Português do Oriente se prefiguraram como agentes de resistência às mudanças propostas pelo Papa Bento XV num documento que acabaria por revolucionar o posicionamento da Igreja Católica no mundo.

A relutância e o repúdio com que as prioridades definidas pela “Maximum Illud” foram acolhidas pelos missionários e pelas congregações que desenvolviam trabalho apostólico na China deram o mote à sexta das sete palestras com que a Faculdade de Estudos Religiosos da Universidade de São José vem assinalando os cem anos da promulgação da carta apostólica com que Bento XV procurou dar um novo impulso à responsabilidade missionária de anunciar o Evangelho. A iniciativa teve como orador o Padre Cyril Law.

O actual chanceler da diocese de Macau explicou na passada quarta-feira, no Seminário de São José, de que forma é que a excessiva subordinação das actividades missionárias ao protectorado francês quase inviabilizou a aceitação da “Maximum Illud” em território chinês. «As missões chinesas beneficiavam de protecção, em particular do protectorado francês e do Padroado Português. Uma boa parte das sociedades missionárias beneficiavam do apoio dos poderes seculares, o que não era necessariamente algo de mau no início, porque a situação na China exigia de certa forma que se percorressem certos atalhos», começou por explicar o sacerdote a’O CLARIM, acrescentando: «O problema é que mais tarde essa dependência alienou a principal prioridade das missões, que era a de evangelizar em benefício das pessoas com a cooperação e a participação dos locais».

Em boa parte franceses, os missionários viam na China um território no qual deviam expandir a influência francesa e um tal ascendente dos poderes seculares explica a resistência das congregações, que estavam na dependência das Missões Estrangeiras de Paris, à formação de um clero autóctone. Para muito chineses, o Catolicismo era visto como “a religião francesa” e um tal estatuto contribuiu para que Bento XV se convencesse da necessidade de proceder à “sinização” da Igreja na China e de estabelecer relações diplomáticas directas com o Governo chinês, mas o diálogo proposto foi acolhido com desconfiança por parte dos poderes republicanos. «Foi um processo lento e doloroso porque houve complicações políticas e muita desconfiança da parte dos poderes seculares. Não obstante todo o fervor nacionalista, a nova república chinesa complicou os procedimentos, até porque a república também era algo novo na China. A China nunca tinha sido governada por um regime republicano. Foi uma monarquia durante milénios», recordou o padre Cyril Law.

As celebrações do centésimo aniversário da promulgação da carta apostólica “Maximum Illud”, promovidas pela Faculdade de Estudos Religiosos da Universidade de São José, encerram a 11 de Dezembro com a última das sete palestras agendadas. Nesse dia o reitor da USJ, padre Peter Stilwell, vai abordar o papel da Universidade Católica na missão evangelizadora no continente asiático.

Marco Carvalho

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