Museu virtual de Macau e outras vertentes do CCCM

A China ainda tão longe.

Inaugurado em Dezembro de 1999, o Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), na Rua da Junqueira, continua a ser pouco conhecido entre os portugueses, muito embora esteja situado numa zona nobre da capital, onde há várias dependências da Marinha, como sejam o Instituto Superior Naval de Guerra (que fica do outro lado da rua), o Museu da Marinha ou a Biblioteca Central da Marinha.

O CCCM resultou da iniciativa conjunta do Governo da república e da última Administração Portuguesa de Macau, tendo em vista “a preservação e incremento futuro do relacionamento derivado de uma presença portuguesa de quase cinco séculos” e é composto por um museu dedicado à História de Portugal, de Macau e da China dos séculos XVI e XVII, havendo uma secção que cobre a História da China, em termos de artefactos, durante um período de cerca de cinco mil anos, ou seja, do Neolítico até hoje. Para além do museu há também um centro de documentação, muitíssimo bem apetrechado, cuja temática se limita a Macau e à China. É, sobretudo, frequentado por estudantes e investigadores. O CCCM dedica-se ainda a actividades culturais, exposições, edições e a projectos de investigação científica. Não apenas com o pessoal do Centro, mas também convidados especialistas de fora e estabelecendo protocolos.

O monsenhor Manuel Teixeira doou todo o seu espólio ao CCCM, que está agora à disposição do público. Sob a coordenação de Ana Maria Amaro (entretanto falecida) esteve a ser preparada a edição de textos inéditos do monsenhor Manuel Teixeira, sendo o objectivo do CCCM, numa conjunção de esforços com a Fundação Jorge Àlvares, editar futuramente obras ainda inéditas do monsenhor.

Outras das vertentes do Centro Científico e Cultural de Macau é o ensino, pois nas suas instalações é possível aprender Chinês. Há cursos semestrais de Mandarim, com aulas todos os sábados de manhã ministradas por professores chineses. A procura, porém, tem vindo a diminuir, pois agora há muitas outras opções.

E se o CCCM é ainda pouco visitado, isso deve-se ao simples facto de continuar a ser mal conhecido. Mas há que ver isso em termos relativos. Se comparamos com a afluência habitual de público aos museus portugueses, nem está assim tão mal posicionado. Infelizmente, como se sabe, os portugueses não são entusiastas de museus. O Centro conta sobretudo com os alunos das escolas que fazem visitas periódicas, embora os turistas estejam quase ausentes. O que, de certo modo, até é compreensível, pois, como me disse em tempos o vice-almirante Luís Mota e Silva, antigo presidente do CCCM, «é natural que ao visitarem Portugal não mostrem interesse em ver algo mais relacionado com a China, da mesma forma que quem vai à China certamente não iria visitar um museu dedicado a Portugal».

Outras das apostas da instituição – actualmente sob a exemplar direcção do professor Luís Filipe Barreto – é o Museu Virtual de Macau, projecto que pretende dar a conhecer o território e as suas diversas realidades através da Internet. Os textos são elaborados por colaboradores a quem é pedida a participação. A matéria da área da História, por exemplo, é cientificamente certificada pelo professor Rui Manuel Loureiro, um dos maiores especialistas das relações históricas entre Portugal e a China, antes de ser incluída no Museu Virtual. É um projecto multidisciplinar para continuar. Indefinidamente.

O projecto Museu Virtual de Macau tem uma outra importante valência: o ter em conta os cidadãos com necessidades especiais, o que se enquandra no que ultimamente tem sido feito na Europa nesse domínio. Há, aliás, uma pessoa deficiente a trabalhar no Centro precisamente para ir sensibilizando os seus dirigentes para os problemas que enfrentam os invisuais, os surdos, os mudos e os amputados de braços também. Tendo em conta que o Museu Virtual está na Internet em Português, Inglês e em Chinês tradicional e Chinês simplificado, poder-se-á dizer que se trata de um projecto nitidamente virado para o mercado chinês. É a intenção do CCCM ir mostrando, por essa via, as tecnologias que já existem para esse tipo de cidadãos.

Mas a verdade é que, apesar de tudo, o cidadão comum português continua praticamente a ignorar esta parte do mundo onde tantos de nós escolhemos viver, uma realidade salientada por Luis Mota e Silva, que dava o exemplo dos seus três filhos, «todos eles na casa dos trinta, mas que mal conhecem as matérias de História e de Geografia». Segundo ele, no sistema de ensino em Portugal há um desinteresse muito grande em relação à expansão em África e a Oriente. «Temos um sistema de ensino defeituoso. Claro que isso se reflecte depois numa baixa auto-estima nacional. Quanto à falta de projecção internacional, é muito por culpa nossa. Não existe ainda uma História de Portugal em Inglês editada por um organismo como a Imprensa Nacional, por exemplo», comentava Mota e Silva, chamando ainda a atenção para o facto de estarmos demasiado virados para a Europa, esquecendo a nossa vocação atlântica e a tradição marítima. «Já há muito tempo que Portugal virou as costas ao Atlântico», dizia. «E o mar foi de facto aquilo que deu alguma grandeza a Portugal no século XVI e XVII. Mas pronto, isso tem a ver com políticas de sensibilização da população cuja tarefa cabe aos Governos. Qualquer cidadão bem informado verifica isso mesmo. Há um alheamento em relação ao mar, apesar da Zona Económica Exclusiva portuguesa ser a maior da Europa».

Joaquim Magalhães de Castro

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