Por um mundo mais unido e tolerante
No decorrer das últimas semanas, Margaret Karram e Jesús Morán, respectivamente, a presidente e o co-presidente do Movimento dos Focolares, efectuaram a sua primeira viagem oficial à Ásia e à Oceânia. Depois de breves passagens pela Coreia, Japão, Ilhas Fiji e Austrália, concluiriam o seu périplo oriental na Indonésia com uma visita à paróquia católica de Santa Odilia, em Tangerang. O encontro contou com a presença do arcebispo de Jacarta, D. Ignatius Suharyo, representantes do Governo e das forças da ordem, mais diversos membros da sociedade civil e líderes religiosos muçulmanos, budistas e hindus. «O diálogo que mantemos aqui com os nossos irmãos de diferentes religiões é real», explicou D. Suharyo, acrescentando: «Centra-se nas necessidades das pessoas: a necessidade à habitação, à oportunidade de obtenção de um trabalho condigno, ao direito a um saneamento básico, etc. É por isso e para isso que trabalhamos em conjunto. O lema do meu país, “Unidade na Diversidade”, expressa plenamente quem somos e como enfrentamos os nossos desafios diários».
Por seu lado, Margaret Karram evocou a riqueza espiritual dos povos asiáticos, «uma dádiva para a Humanidade», e lembrou que ali estava para ouvir, conhecer, aprender, mas sobretudo para amar aquele que designou como o «continente da esperança». «É extremamente importante reavivar o caminho do diálogo no seio do Movimento, instrumento por excelência para a construção da paz, o bem de que o mundo mais necessita hoje», disse a dirigente, justificando dessa forma a sua presença naquelas paragens.
O lema indonésio “Unidade na Diversidade” expressa bem a grande variedade étnico-linguística daquele que é, com as suas dezassete mil 508 ilhas, o maior “Arquipélago-Estado” do mundo. É actualmente Yogyakarta, importante cidade na ilha de Java e a capital cultural do País, a base de operações do Movimento dos Focolares no arquipélago. O Movimento tem contribuído para o bom desempenho do trabalho pastoral da Igreja local, organizando encontros para religiosos e jovens e dinamizando uma escola de catequistas. Também organiza eventos desportivos, recreativos e festivais inter-religiosos, mantendo assim estreitas relações com associações de jovens muçulmanos. Em Java, o Movimento dos Focolares contribuiu para a ressurgimento de várias aldeias, ajudando a reconstruir inúmeras casas, tanto de cristãos como de muçulmanos, no rescaldo do terramoto de 2004.
No universo da Grande Malásia, que inclui Indonésia, Singapura e Malásia, os cristãos (de várias confissões) representam menos de dez por cento da população. Toda esta região é, como se sabe, predominantemente muçulmana (no caso da Indonésia e da Malásia) ou taoísta/budista (caso de Singapura). Não obstante, aqui as sementes da espiritualidade dos Focolares têm sido difundidas desde a década de 1960, via sacerdotes ou meros leigos, mas também por meio de textos publicados no jornal New Cityou no folheto Word of Life. Em 1991 seriam fundados dois centros do Movimento dos Focolares em Singapura (agora transferidos para Yogyakarta), e em 2004 na cidade de Medan, na ilha de Samatra. No final da década de 1980, o Movimento também se espalhou para a Malásia, onde conta hoje com vários membros em diferentes partes do País. Estas comunidades são pequenas, mas bastante activas.
O Movimento dos Focolares, iniciativa de renovação espiritual e social, foi fundado em Trento (Itália), em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial. Tem como objectivo congregar a Humanidade numa “grande e variada família”, um “povo novo nascido do Evangelho” na feliz expressão de Chiara Lubich, a fundadora. Oficialmente conhecido como “Obra de Maria”, o Movimento dos Focolares seria sancionado pela Igreja Católica em 1962 e hoje encontra-se presente em 182 nações, nele participando, de forma mais ou menos empenhada, para cima de dois milhões de pessoas. Inspirado na oração de Jesus ao Pai – «Que todos sejam um» (Jo., 17, 21) –, é seu objectivo promover a fraternidade e pugnar por um mundo mais unido, no qual as pessoas respeitem e valorizem a diversidade. Para alcançar esse objectivo há que optar pelo diálogo em todas as situações e empenhar-se em construir “pontes de relacionamento fraterno entre as pessoas e em todos os âmbitos da sociedade”.
São membros do Movimento dos Focolares cristãos de diferentes confissões e comunidades eclesiais, membros de outras religiões ou até agnósticos. Cada um adere ao objectivo e ao espírito do Movimento, sem deixar por isso de seguir fielmente os preceitos de sua própria fé ou consciência. No âmago do Movimento, é certo, deparamos com pequenas comunidades de homens e mulheres que consagram as suas vidas a Deus, professando votos de pobreza, castidade e obediência e vivendo em casas específicas denominadas “focolares” (da palavra italiana para designar “lar”). Também há pessoas casadas entre os membros dessas comunidades, não deixando estes, porém, de atender ao seu compromisso matrimonial e familiar.
Joaquim Magalhães de Castro