Momento de tomar decisões

Estamos em finais de Outubro e é chegado o momento de começarmos a decidir o que fazer relativamente à continuação da nossa rota. Estamos em St. Lucia depois de termos passado por vários locais das Caraíbas e termos alterado a rota por diversas vezes. Tínhamos planeado ir até Grenada, já junto ao continente americano, e à Venezuela, onde iríamos retirar o veleiro da água para o prepararmos para a travessia do Oceano Pacífico no próximo ano. Por diversos factores decidimos não o fazer e ficámos por St. Lucia, de onde iremos para o Panamá em Novembro.

A etapa do Panamá e a passagem do Canal irá ser uma das etapas mais marcantes da viagem, pois assinala a mudança de oceanos, do Atlântico para o Pacífico – a nossa primeira aventura nesse que é o maior corpo de água do planeta.

As complicações e burocracias inerentes à travessia do Canal do Panamá vão-nos consumir algumas semanas e como estamos ao virar da esquina para a quadra natalícia pensamos ser mais sensato chegar àquelas paragens antes de Dezembro. Aqui, além de todo o processo necessário para obter permissão para atravessar o Canal – pagamentos, licenças, equipamento, etc. – temos também de tratar da emissão do visto da NaE. A paragem nas Marquesas implica um visto Shenghen, que terá de ser tratado na representação diplomática francesa do Panamá. Além do visto, há que voltar a verificar toda a papelada e documentação do Noel, para que tudo corra sem problemas, porque não haverá forma de voltar atrás assim que encetarmos a travessia rumo às Marquesas, na Polinésia Francesa. Serão cerca de trinta dias de alto mar sem nada em permeio – mais de quatro mil milhas náuticas!

No que respeita à preparação da embarcação, será feita no Panamá ou na Colômbia. Não há muito para efectuar, à excepção de uma nova pintura do casco, visto que a actual conta já com um ano de água e atrai muitas cracas. Há outros pormenores que necessitam ser verificados, tais como o sistema de medição do vento, que não está a funcionar bem, mas não é crucial. O mais importante funciona normalmente.

Apesar de não ter data marcada, a travessia não será realizada antes de Abril, pelo que se houver alguém interessado em se juntar a nós nesta oportunidade única, contacte-nos. Temos lugar para mais uma ou duas pessoas a bordo para partilhar connosco a travessia. Sinceramente, estamos algo surpreendidos por não haver quaisquer interessados de Macau, mas ainda há tempo para que tal se altere.

Entretanto, aqui em St. Lucia, numa ida à doca de combustível, descobri uma réplica de caravela (se bem que não se pareça muito com uma caravela) atracada há já algum tempo no local. Tem bandeira de São Vicente, uma ilha-país aqui ao lado de St. Lucia. Ao passar perto da proa do navio consegui ver que ostenta nome português coberto pela pintura negra do casco. Vila qualquer coisa, consegue-se ler no enorme barco. Estou agora ansioso para conseguir chegar à fala com o capitão ou alguém da empresa proprietária da embarcação para conseguir saber a história da mesma e tentar descobrir se realmente tem alguma ligação a Portugal.

Nas Caraíbas utilizam muito réplicas de barcos antigos para transportar turistas. Em St. Thomas havia uma frota de barcos-pirata, ao estilo do filme “Piratas das Caraíbas”, que navegavam sempre cheios de turistas, a 50 dólares americanos a cabeça. Uma manhã com direito a refrescos e uma paragem para um mergulho na praia por quatrocentas patacas. Um bom negócio que explica a proliferação deste tipo de embarcações. Tive a oportunidade de conhecer um dos capitães que me disse fazerem, regra geral, mais de mil dólares por viagem – duas por dia, cinco dias por semana.

Relativamente ao nosso dia-a-dia não há muito a acrescentar. Quem nos segue nas redes sociais sabe que acordamos por volta das 5/6 da manhã, tomamos o pequeno-almoço no poço do veleiro, mirando os outros barcos no ancoradouro. De seguida, vamos até à praia de bote e voltamos às 9 da manhã para que a Maria possa dormir enquanto os adultos se envolvem noutras actividades relacionadas com o barco e outros afazeres. À hora de almoço, já com a Maria acordada, voltamos a montar a mesa no poço, comemos comida caseira e descansamos sob a sombra da cobertura do veleiro. Depois da Maria dormir a sesta, se ainda houver Sol, voltamos à praia e regressamos a casa para preparar o jantar. Anoitece muito cedo (às 6 da tarde já é noite). A Maria volta para cama às 7 da noite. Acorda às 11 para beber leite antes de todos recolhermos ao “quarto”.

João Santos Gomes

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