MISSIONÁRIOS CAMILIANOS NA INDONÉSIA

MISSIONÁRIOS CAMILIANOS NA INDONÉSIA

Flores para doentes psiquiátricos… e não só!

Pioneiro na diocese de Maumere, capital da ilha das Flores, no arquipélago indonésio, o padre Luigi Galvani, missionário camiliano, a respeito de algumas das tarefas realizadas pela Igreja nessa ilha – que todas as semanas se ocupa com visitas aos doentes e idosos da comunidade, aos quais lhes leva a comunhão, o serviço dos seus seminaristas e generosos pacotes de alimentos –, é peremptório: «Aqui não temos tempo para envelhecer, pois as muitas actividades em que estamos empenhados nos mantêm para sempre jovens».

Particular motivo de orgulho para os missionários desta Ordem é o projecto idealizado pelo padre Galvani, “Vite In-ceppate”, graças ao qual podem ajudar pessoas com doenças mentais. Recorrendo à generosidade de diversos benfeitores, os Camilianos têm construído pequenas cabanas assentes em alicerces de tijolo, com paredes e telhados de metal revestidos a bambu (contendo no seu interior camas, mesas, cadeiras, casas de banho, cobertores e demais objectos utilitários), que totalizam já as oitenta unidades.

Vince, um dos pacientes que recentemente passou a beneficiar do programa, foi encontrado pelos padres camilianos numa deplorável situação: vivia acorrentado há mais de vinte anos, pois as pessoas, entre os quais os seus entes queridos, tinham medo da sua imprevisibilidade; e tão radical medida garantia-lhes «segurança e protecção», até porque não existia na região qualquer hospital psiquiátrico.

«Foram deveras comoventes os momentos da sua libertação. Sobretudo quando efectuámos a cerimónia da bênção, destinada ao Vince e à sua nova casa», lembrou o padre Galvani.

Está programada a construção de muitas outras habitações para este tipo de pacientes, «de modo a dar-lhes a oportunidade de viver com mais dignidade e humanidade», cabendo às suas famílias a garantia das necessidades diárias: comida, água, medicamentos, etc.; aos missionários e seminaristas, compete-lhes o atendimento pastoral e psicológico e a responsabilidade de fazer visitas periódicas.

A Vite In-ceppate é uma incubadora de ideias destinada a implementar um projecto interdisciplinar focado nos princípios incontornáveis da sustentabilidade social. Surge da colaboração, em valores e objectivos partilhados, das associações Madian Orizzonti Onlus e Associazione Con Voi APS – ambas com sede em Turim (Itália). Através da criação de uma base de dados (desenvolvida pela engenheira Daniele Aurigemma, da Universidade Politécnica de Turim), a Vite In-ceppate pretende pôr em prática o projecto humanitário idealizado pelo padre Galvani que tem como um dos seus objectivos a libertação dos pacientes psiquiátricos das cadeias.

A Vite In-ceppate é itinerante e pode movimentar-se em contextos internacionais, estando os seus responsáveis sempre atentos à reavaliação das demandas e à recalibração das respostas. Trata-se de um projecto voluntário que conta com a colaboração de psicólogos, psicoterapeutas, psiquiatras e diversos outros profissionais da área da Saúde, além do apoio de advogados, engenheiros e vários «jovens voluntários de valor inestimável». Todos comungam da divisa: “Um fôlego para mim, um fôlego para o mundo”.

Outro motivo de orgulho para a Ordem dos Camilianos é o constante florescimento de vocações na ilha das Flores, facto que tem mantido bastante ocupado D. Edwaldus Sebu, o bispo de Maumere. Ele acaba de ordenar seis sacerdotes dos Missionários dos Sagrados Corações de Jesus e Maria e agendada tem, para o próximo dia 11 de Fevereiro, igual tarefa para dois confrades da família dos Camilianos.

A maior parte das vocações na Indonésia provém das Flores, sempre referida como a “terra prometida”. «Aqui não parece faltar a Providência Vocacional», disse o padre Galvani. «O Senhor não só abençoa a nossa bela ilha como também o nosso esforço missionário».

Em 1586, aquela que era conhecida como a “companhia dos homens bons”, obtém a aprovação do Papa Sisto V e, em 1591, o Papa Gregório XIV dá-lhes o estatuto de Ordem com o nome “Ordem dos Clérigos dos Doentes”, designação escolhido pelo seu fundador – Camillus de Lellis, o actual São Camilo, patrono dos doentes – para lembrar aos seus membros que deveriam ter sempre Cristo como modelo. “Não vim para ser servido, mas para servir e dar vida”, era, e ainda é, o mote desta Ordem religiosa. Hoje, os “Clérigos dos Doentes” são conhecidos em todo o mundo como Camilianos, e na Ordem em que se congregam, sacerdotes e irmãos gozam de iguais direitos e têm as mesmas obrigações.

Como observa a sua Constituição, a Ordem dedica-se “antes de mais nada à prática de obras de misericórdia para com os doentes” e pugna para que “o homem seja colocado no centro das atenções” sempre que se trate de questões da área da Saúde.

Os Camilianos professam os votos de castidade, pobreza e obediência, e consagram as suas vidas ao serviço dos doentes pobres, incluindo os acometidos pela peste, nas suas necessidades corporais e espirituais, mesmo com risco de vida, tendo que fazer isso por amor sincero a Deus. Fiéis a este empreendimento, centenas de Camilianos morreram, ao longo dos séculos, servindo pessoas que tinham contraído doenças altamente contagiosas.

Joaquim Magalhães de Castro

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