Os salesianos e o catequismo como estratégia
Recorrendo a uma simples oração, “Avé Maria”, logrou São João Bosco, fundador dos Salesianos, incutir nos jovens o gosto básico pela Fé Católica.
Menos de um século depois, os missionários salesianos que chegaram à Índia traziam no coração a mesma paixão apostólica de Dom Bosco. Esses extraordinários homens que se propuseram a pregar o Evangelho nos mais diversos recantos do subcontinente, sobretudo no Nordeste da Índia, que albergava grande variedade de grupos étnico-culturais e linguísticos, precisavam da ajuda de leigos empenhados que os pudessem acompanhar no seu pioneirismo e, posteriormente, sustentar as missões pelos padres ali estabelecidas.
Inspirados pelo exemplo dos Apóstolos, os salesianos percorriam as aldeias ensinando, pregando e ministrando os Sacramentos. Nalguns desses locais permaneciam durante semanas, ou até meses a fio. E quando, finalmente, deixavam as aldeias, os tais missionários encarregavam os catequistas leigos de acompanhar os novos fiéis no seu recém-descoberto caminho de fé. Pode dizer-se, por isso, que desde o início da missão salesiana na Índia constituíram os catequistas a verdadeira “espinha dorsal” da evangelização.
Nas suas memórias, monsenhor Mathias, o primeiro provincial salesiano da Índia, dá-nos conta do modo como, no início dos anos 20 do século passado, acompanhava grupos de jovens salesianos, “naquelas famosas viagens missionárias”, através dos terrenos montanhosos da região de Meghalaya. Eles deslocavam-se de aldeia em aldeia, carregando às costas e na cabeça alimentos, cobertores e até instrumentos musicais. Não se esqueciam de transportar também os mais diversos materiais utilizados nas aulas de catequese: imagens, fotografias, cartazes e “um muito primitivo projector de filmes para a exibição de filmes bíblicos”. A chegada dos missionários punha as aldeias em alvoroço. Era sinónimo de música, canto, diversão, brincadeira e, claro, “muita instrução catequética”, seguida de confissões e de solenes celebrações eucarísticas.
Após a chegada dos salesianos passariam os catequistas locais de simples “mestres de orações” à condição de párocos substitutos, que de um dia para o outro ficavam responsáveis pela vida espiritual e pastoral dos camponeses e dos pastores. Conta-se que em 1932 um padre chamado Alessi criou um corpo de “provinciais-catequistas”, especialmente treinados na cidade de Tezpur, que se deslocavam de aldeia em aldeia para supervisionar e orientar o ministério dos demais catequistas. Mensalmente entregavam um relatório aos sacerdotes, e estes, por sua vez, apresentavam-lhes “novos planos e estratégias” para assegurar a continuidade e o sucesso da missão. Para tal, colocavam à disposição de todos vários livros e folhetos católicos. É difícil calcular o número de catequistas contratados pelos salesianos nas suas missões na Índia, mas certamente foram muitos.
A partir da década de 70 assistimos a um surto nas actividades catequéticas na Índia, pois “apresentar Cristo aos jovens” era a própria razão da existência da congregação fundada por São João Bosco. Os centros de catequese de Calcutá, em 1976, e o de Bangalore, em 1977, seriam apenas os primeiros de muitos outros que se espalharam por todo o subcontinente, tanto nas cidades como nas zonas rurais. O de Bangalore, por exemplo, atribuía um diploma anual nessa matéria. Até hoje, este centro formou mais de seiscentos catequistas, maioritariamente mulheres, “que hoje se dedicam à missão de evangelização por toda a Índia”. Em 2021, a província de Guwahati organizou um ano de “treino e formação na fé” a 125 catequistas provenientes dos Estados do Nordeste da Índia: entre os quais Assam, Meghalaya e Arunachal Pradesh.
Graças a programas regulares de formação de curta duração centenas de leigos, homens e mulheres, são regularmente preparados para “um envolvimento efectivo na evangelização”. Assim o destacou, em declarações à UCA News, o coordenador da actividade educativa dos salesianos da Ásia Meridional (que inclui a Índia, o Sri Lanka, o Bangladesh e o Nepal), padre Sivy Koroth, SDB: “É nossa firme convicção que a missão catequética na Índia será tão forte quanto mais eficiente for a preparação dos catequistas leigos e professores de Catecismo, pois estes desempenham um papel vital em nutrir e sustentar a fé dos nossos jovens. É nosso dever continuar a tradição transmitida pelos nossos primeiros missionários”.
Lembre-se aqui que a Carta Apostólica Antiquum Ministeriumdo Papa Francisco – “carta que institui o Ministério do Catequista” – foi muito bem recebida na Índia, tendo por isso organizado, a Conferência Episcopal, um programa de formação “online” para catequistas e realizado um encontro na cidade de Hyderabad, capital da província de Andhra Pradesh.
Joaquim Magalhães de Castro