Macaenses em Portugal festejaram o Ano Novo Lunar

Cunquates, prosperidade e boa saúde.

A entrada no ano do cão, como não poderia deixar de ser, foi convenientemente assinalada em Portugal pela comunidade macaense residente nas zonas centro e norte do País. As raízes chinesas que ligam estes portugueses ao território de Macau passam, certamente, pela celebração dos seus principais festivais. Assumidamente católicos, como é parte essencial do ser e sentir-se macaense, não deixam por isso de assinalar o seu lado cultural mais chinês.

O grupo de amigos Filo, Filo di Macau decidiu este ano prestar uma merecida homenagem ao grupo de pessoas que deram início a estes encontros, especialmente aos médicos Ricardo Conceição, Francisco Fong e Beatriz Vasco da Silva.

Estes ilustres macaenses, radicados em Coimbra, tiveram a ideia de juntar a comunidade que vive no centro de Portugal há já alguns anos. Acontece que o aumento do número de participantes, principalmente devido ao acolhimento que a iniciativa teve junto dos “filos” da terra no Norte de Portugal, fê-los pensar em pedir a outros convivas para ajudarem na logística que envolve a organização dos eventos. Daí surgiram os actuais organizadores e dinamizadores, Diana Guerra, Jorge Leitão Pereira, Leonor Renito e Irene Ribeiro, que em 2012 arregaçaram as mangas. Desde então, várias vezes ao ano, têm-se esforçado para congregar a dispersa comunidade macaense do Centro e Norte de Portugal, organizando os encontros alternadamente nas duas zonas do País, para assim «ninguém se queixar que tem sempre de viajar para o Norte ou para o Centro», como nos explicaram os envolvidos na organização deste ano que teve como ponto principal festejar a entrada no Ano Novo Chinês do Cão.

A cidade de Coimbra e o restaurante Panda foram os locais escolhidos. O Panda é um estabelecimento de comida asiática da cidade estudantil, bem conhecido de quem vive na região; um local aprazível com comida de qualidade (“buffet” livre) dotado com parque de estacionamento.

Participaram 53 pessoas, entre macaenses e pessoas que de alguma forma estão ligadas a Macau, e crianças. A sala esteve bem composta e foi partilhada com os outros clientes do restaurante que tem capacidade para mais de cem pessoas sentadas.

Foram confeccionados vários pratos de comida chinesa mas, infelizmente, dado ser um restaurante “buffet”, não foi possível juntar os tradicionais pratos de comida macaense que – regra geral – marcam estes convívios. Por medida de precaução, a organização decidiu que não seria aconselhável os participantes trazerem os seus petiscos maquistas, pois «caso algo corresse mal e houvesse alguma indisposição os proprietários do estabelecimento poderiam apontar o dedo ao facto de se ter trazido pratos do exterior», segundo um membro da organização.

No entanto, no final do repasto, foram distribuídos os tradicionais “lai-sis” e um saco com alguns petiscos secos, tradicionais nas mesas macaenses nesta altura do ano. No início da refeição foram servidos alguns pratos com frutas cristalizadas, flores de lótus, mangas, etc., para que se fizesse sentir um pouco o sabor do Oriente e se trouxesse boa fortuna a todos os presentes.

As mesas (duas compridas e duas redondas) foram encabeçadas por ramos de tangerineira (neste caso, cunquates), cortesia da quinta de Francisco Fong, para que a prosperidade e boa saúde seja uma constante neste ano que agora principia.

Os Filo, Filo di Macau – grupo de amigos que pelo menos três vezes ao ano organiza os encontros – ficou satisfeito com a participação no primeiro evento de 2018. Estiveram presentes macaenses provenientes de lugares tão díspares como a Figueira da Foz, Chaves, Vila Real e Águeda. «Muitos deslocaram-se de carro», como nos contou Jorge Leitão, «mas houve também quem tenha viajado de comboio».

A confraternização e a amena convivência são notas constantes, sendo que os participantes aproveitam para recordar vivências dos tempos de Macau, reencontrar antigos amigos e fazer novas amizades.

Este ano circulou entre os convivas uma foto dos anos trinta do grupo de alunos do Seminário de São José, descoberta por Luís Cascais, um dos três irmãos Cascais que normalmente participam nos encontros vindos de Trás-os-Montes. A antiga recordação fez as delícias de muitos que se perderam tentando encontrar-se naquela imensidão de rapazes de traje escolar numa antiga foto a preto-e-branco.

O próximo repasto ainda não tem local nem data definida, mas servirá para assinalar o antigo dia da Cidade de Macau, 24 de Junho, sendo possível que se realize no próprio dia 24, visto ser um Domingo. O local será anunciado entre os habituais convivas assim que estiver decidido.

Este ano, entre toda a animação, houve ainda lugar a uma novidade. Um dos membros organizadores, Diana Guerra, com o consentimento de todos os outros, decidiu criar um “pin” para identificar os participantes no evento. Uma ideia original que resultou numa pequena lembrança muito apreciada por todos. O pequeno “pin” contém a imagem da fachada de um templo chinês (inspirada no Templo de A-Má), os caracteres que compõem a palavra Ou Mun e a fachada das Ruínas de São Paulo, tudo num fundo tradicionalmente chinês, o auspicioso vermelho.

João Santos Gomes

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