LOUIS RAPHAËL SAKO, PATRIARCA DA IGREJA CALDEIA

LOUIS RAPHAËL SAKO, PATRIARCA DA IGREJA CALDEIA

Um apelo à união dos cristãos

O cardeal iraquiano Louis Raphaël Sako, Patriarca da Igreja Católica Caldeia, conhecido pela sua abertura de espírito e frontalidade, numa declaração aquando da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos ocorrida em Bagdade em finais de Janeiro passado, não podia ser mais incisivo: «As Igrejas Orientais precisam de uma nova postura!». Surge esse seu apelo no seguimento de uma abordagem ao presente e futuro das cristandades do Oriente Médio e à fatídica conclusão de que sem «caminhos de unidade e comunhão fraterna» entre os cristãos locais dificilmente subsistirá a Fé de Cristo naquele canto do mundo, «onde Ele nasceu, morreu e ressuscitou». Aí, mais do que em qualquer outra parte do planeta, as comunidades cristãs são fatalmente condicionadas pela sociedade onde vivem.

Maioritariamente é muçulmana a população em tais geografias e, por arrasto, a legislação que regula a convivência social baseia-se nos seus ensinamentos e regras religiosas, «quase sempre em conflito com os fenómenos da modernidade». Confrontados com semelhante panorama, os cristãos no Médio Oriente em vez de falarem a uma só voz, competem entre si fazendo questão de salientar as diferentes tradições das suas Igrejas e identidades étnico-nacionais.

Considera o polémico prelado estarem totalmente desfasadas da realidade as ideias manifestadas por muitos dos sacerdotes daquela região. No seu entender – expressa numa entrevista aos jornalistas da Union of Catholic Asian News (UCAN) – as palavras desses sacerdotes «não tocam os sentimentos dos destinatários nem alimentam a sua esperança». A continuar assim, conclui: «as gerações futuras perderão a sua fé». No fundo, lamenta o Patriarca caldeu que as Igrejas Orientais Católicas não tenham ainda assimilado o espírito do Concílio Ecuménico do Vaticano II (1962-1965) nem o do mais recente Sínodo para o Oriente, de 2010.

Face às urgências do presente, a questão da unidade deve ser prioridade absoluta. Até porque os cristãos do Levante são minorias nos seus próprios países. «A nossa força reside na unidade harmoniosa, a garantia da sobrevivência e continuidade na difusão da nossa mensagem», proclama Louis Raphaël Sako. Contudo, tal unidade não significa um apagar das tradições teológicas, litúrgicas e espirituais das demais comunidades. Tão pouco as “Declarações Cristológicas Comuns”, assinadas pela maioria dos chefes das Igrejas Orientais, devem ser consideradas como um mero «gesto de cortesia». O compromisso com a mesma fé em Cristo deve mostrar caminhos de unidade e ajudar a superar divisões e desconfianças. A esse respeito, e evocando uma significativa referência histórica, o cardeal Louis Raphaël Sako lembra que enquanto «os teólogos bizantinos discutiam o sexo dos anjos» Constantinopla era sitiada. Depois, foi o que se viu…

Nestas terras marcadas por conflitos, discriminações e violências que alimentam o êxodo e a migração (por mês, em média, abandonam o Iraque vinte famílias cristãs) urge que os líderes da Igreja superem as diferenças mesquinhas, o fanatismo e o medo. «Só assim se salvaguardará a presença cristã no Médio Oriente», diz o entrevistado, recordando os muitos mártires daquela região, «verdadeiro tesouro das Igrejas que trazem nos seus corpos a dor de Cristo». Uma coisa assim não se apaga facilmente.

Além da união entre cristãos, fundamental se torna a construção de pontes com os muçulmanos, capitalizando os imensos pontos comuns entre os dois credos. Isto salientou o cardeal Sako num discurso dirigido a uma audiência de estudiosos cristãos e muçulmanos no âmbito de um evento centrado na figura da Virgem Maria, realizado a 24 de Fevereiro na Catedral Latina de São José, em Bagdade.

No seu discurso, lembrou que as diferenças doutrinárias entre Cristianismo e Islamismo em relação à figura de Maria podem ser «objectivamente avaliadas e compreendidas» no contexto de relacionamentos sinceros. «Na experiência cristã», continuou, «a pessoa de Maria está unida ao mistério de Cristo». O seu papel e grandeza são reconhecidos e celebrados «através do seu relacionamento com o filho e nunca separados dele». Referindo-se à “Mariologia Islâmica”, o mesmo recordou que o Alcorão fala várias vezes de Maria e lhe dedica um capítulo inteiro. O Livro Sagrado do Islão reconhece a virgindade da Mãe de Cristo e a sua pureza imaculada. Todas as etapas da vida de Maria são mencionadas no Alcorão: a Anunciação, a Gravidez, o Nascimento de Jesus, a Apresentação no Templo e a Dormição.

Além disso, o Primaz da Igreja Caldeia observou que Maria ocupa um lugar especial na devoção popular islâmica, pois as mulheres muçulmanas gostam de visitar os santuários marianos. No final do seu discurso, sublinhou que «o Cristianismo considera o homem e a mulher criados à imagem e semelhança de Deus», portanto dotados de igual dignidade e direitos. «O Cristianismo», acrescentou ainda o cardeal, «rejeita a poligamia porque contradiz o desígnio de Deus expresso na criação».

Joaquim Magalhães de Castro

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