Cristãos libaneses: «rezar é a única coisa que podemos fazer»
Israel continua a atacar várias partes do Líbano, causando preocupação acerca da sua situação humanitária. Antes do primeiro aniversário dos ataques de 7 de Outubro que deram início à guerra, Israel efectuou bombardeamentos contra alvos no Líbano e na Faixa de Gaza, a um Domingo, mantendo, deste modo, a situação de instabilidade no Líbano.
Apesar dos apelos urgentes para um cessar-fogo imediato, as pessoas que estão no terreno acreditam que a situação poderá vir a transformar-se num cenário semelhante ao de Gaza. De acordo com dados vindos a público no passado dia 4 de Outubro, mais de duas mil pessoas foram mortas desde o primeiro ataque no País.
Michelle E.S. é uma designer de interiores local que vive no leste de Beirute, no Líbano. Em declarações a’O CLARIM, explicou que Israel tem como alvo o Hezbollah e não os libaneses, mas são os civis libaneses que estão a ser feridos e afectados. «Graças a Deus, eu e a minha família estamos a salvo, mas a situação no Líbano continua a ser muito má e grave. Agora só estão a atingir a zona ocidental e os bairros xiitas do Sul. Muitas pessoas estão a dirigir-se para o Leste, e há muitos muçulmanos xiitas na nossa zona. Estamos preocupados que Israel continue a atacar estes muçulmanos, pois haverá mortos e feridos, inclusivamente entre nós, cristãos. O exército israelita não quer saber onde ataca, mas sim quem ataca».
A guerra em Gaza entre Israel e o Hamas foi desencadeada por um ataque surpresa a Israel, perpetrado pelo grupo militante palestiniano Hamas, a 7 de Outubro de 2023. O Hezbollah, um partido político que integra o denominado Eixo da Resistência, uma coligação de grupos apoiados pelo Irão em todo o Médio Oriente, que inclui o Hamas, também tem estado em conflito com Israel. Foi neste contexto que o Sul do Líbano foi atacado pelo exército israelita.
A’O CLARIM, Michelle explicou ainda que «uma vez que o Sul [do Líbano] é maioritariamente do Hezbollah, e todos os hezbollahs são muçulmanos xiitas, todas as pessoas que viviam no Sul mudaram-se para Beirute. O Sul é como que uma cidade morta, está tudo destruído, e o exército israelita tem tentado tomar conta dessa zona».
A nossa entrevistada descreveu a situação como difícil para todos os habitantes do País. «Desde 2019, 2020, temos vivido com as dores da inflação todos os dias e o País está a enfrentar um grande problema económico. A corrupção no Líbano conduziu a uma situação em que parece não haver Governo. Basicamente, não temos água nem eletricidade. Tenho de pagar uma grande quantia de dinheiro para usar o gerador local e só consigo ter três horas de eletricidade de cada vez. Quanto à água, a da torneira só está disponível uma vez de três em três dias».
Na ausência de um verdadeiro Governo – continuou Michelle – o Hezbollah tornou-se o “líder” do País e os cristãos não têm outra opção senão segui-lo. Quando a notícia da morte de Hassan Nasrallah se tornou viral, os cristãos libaneses tiveram um sentimento misto: por um lado, anseiam e esperam uma mudança na situação política do País; por outro lado, porém, tais actos levam obviamente à continuidade da guerra. O Líbano, Israel, e mesmo todo o Médio Oriente, continuam em risco.
Michelle sublinhou que os cristãos e os muçulmanos libaneses «nem sempre estiveram em conflito uns com os outros». No passado, os cargos governamentais eram divididos em cinquenta por cento para cada lado. Beirute Oriental e Ocidental são zonas em que predominam diferentes religiões, sendo que (de entre as religiões cristãs) os cristãos ortodoxos e os maronitas respeitam-se mutuamente. Actualmente, Michelle e os seus amigos sentem-se impotentes perante a situação e apenas desejam a paz. Tanto ela como vários amigos cristãos rezam diariamente pela melhoria da actual situação em todo o Médio Oriente.
A concluir, referiu: «as escolas estão fechadas em toda a cidade, e as do Leste estão agora cheias de muçulmanos de aldeias do Sul e do Oeste. As igrejas ainda estão abertas, mas as pessoas não saem facilmente. Eu, por exemplo, só vou à igreja e aos supermercados para comprar as necessidades diárias. Os meus pais, sobrinhos e outros familiares mudaram-se para as montanhas, onde é mais seguro. Estamos a tentar manter-nos o mais seguros possível… É uma situação triste e não podemos fazer muito; rezar é a única coisa que podemos fazer».
Jasmin Yiu