JUBILEU DA ESPERANÇA 2025

JUBILEU DA ESPERANÇA 2025

Relevância permanente da Esperança – 1

A vida humana é, de facto, uma narrativa de esperanças no plural – esperanças humanas – e de esperança no singular – esperança cristã ou teológica. O Ano Jubilar de 2025 é o Ano Santo da Esperança. Queremos reflectir sobre a esperança. Em seguida, meditamos sobre a natureza da esperança cristã, sobre as dimensões e as propriedades da esperança, sobre os pecados contra a esperança, sobre a esperança como fidelidade criativa no presente. Por fim, o autor conta-nos como alimenta a sua esperança e as suas esperanças, sobretudo a sua esperança teológica. Começamos por responder à pergunta: o que é a esperança?

NATUREZA DA ESPERANÇA CRISTÃ – Neste início do Século XXI, observamos o nosso mundo e vemos violência, injustiça, divisão e morte – e as terríveis guerras. Por outro lado, vemos também a justiça, a solidariedade, a compaixão, o martírio e a vida em abundância. Para a maioria das pessoas, o nosso mundo continua a ser um mundo de esperança e o amanhã será melhor, apesar das suas actuais misérias e incertezas.

Como cidadãos deste mundo, os cristãos e muitos outros crentes são convidados a dar uma razão à sua esperança (cf. 1Pd., 3, 15) – a sua esperança no céu! Ainda hoje, muitos cristãos não parecem viver como pessoas esperançosas e não são capazes de dar uma razão convincente para a sua esperança.

Na perspectiva cristã, a esperança é – como todos sabemos – uma das três virtudes teologais. As virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade são três formas de responder a Deus. As três virtudes teologais, diz o Papa Francisco, “exprimem o coração da vida cristã”. O teólogo protestante Jonathan Wilson descreve a fé como a forma cristã de conhecer, a esperança como a forma cristã de ser e a caridade como a forma cristã de fazer. As três estão inseparavelmente unidas. A esperança, em particular, está intimamente ligada à fé e à caridade: a fé garante as bênçãos da esperança (cf. Heb., 11, 1); a esperança não é enganadora, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo (cf. Rm., 5, 5).

São Paulo considera a esperança como uma das virtudes da grande tríade das virtudes cristãs. A maior das três é a caridade (cf. 1Cor., 13, 13; Col., 3, 14). Na tradição cristã, só a caridade dá perfeição à fé e à esperança – e a todas as virtudes. A caridade é a forma de todas as virtudes, especialmente da fé e da esperança. Sem a caridade, as outras duas virtudes teologais, a fé e a esperança, não podem ser fecundas. São João da Cruz escreveu que “sem caridade, nenhuma virtude tem graça diante de Deus”. A esperança só pode alcançar o seu objectivo – a vida eterna – se for informada pela caridade. Papa Francisco: “A esperança nasce do amor e funda-se no amor que brota do Coração de Jesus trespassado na cruz. (…) É o Espírito Santo, com a sua presença perene no caminho da Igreja, que irradia nos crentes a luz da esperança” (Bula de Proclamação do Jubileu Ordinário do Ano 2025, Spes non confundit – 9 de Maio de 2024 – n.º 3).

Embora a fé seja considerada a virtude mais básica e a caridade a mais perfeita, a esperança é, talvez, a mais urgente na nossa vida terrena. Santo Agostinho disse-o bem: A vida da vida mortal é a esperança da vida imortal. A esperança cristã é fundada na fé e alimentada pela caridade. A vida humana é, de facto, uma narrativa de esperanças no plural – esperanças humanas – e de esperança no singular – esperança teologal. Mas a esperança humana sem a esperança teologal não nos pode salvar. De facto, como diz Bento XVI na Spe Salvi (n.º 27), “a esperança sem esperança não é esperança”.

Diz-se que a esperança é um resumo de toda a Bíblia. A esperança bíblica começa com o Antigo Testamento, que é “o livro clássico da esperança”. Os israelitas viviam o futuro na esperança: “Ó Israel, espera no Senhor, agora e para sempre” (cf. Sl., 131, 3). A esperança em Deus está claramente ligada à confiança em Deus (cf. Ecl., 2, 6; Prov., 3, 5-6; Sl., 23, 1-3). A nova esperança do cristão é «uma esperança muito superior» (Heb., 7, 19), uma esperança radicada em Deus Pai, em Cristo, nossa esperança (cf. 1Tm., 1, 1), e no Espírito Santo e nos seus dons (cf. Rm., 5, 5: 2 Cor., 1, 22; Ef., 1, 13-14). Com Ceslas Spicq, podemos definir assim a esperança bíblica: “A expectativa certa da vida eterna e dos meios adequados para a alcançar – uma expectativa fundada nas promessas, na fidelidade, no amor e no poder de Deus”.

A esperança cristã é a esperança teológica: uma esperança centrada em Deus como nosso fim e como nosso dom omnipotente e misericordioso para o caminho. A esperança é a esperança na Santíssima Trindade: Deus Pai, através de Jesus Cristo, no Espírito Santo, fundamenta uma nova esperança, uma esperança sobrenatural que aperfeiçoa a esperança natural – as esperanças humanas são elevadas pela esperança teológica. Cristo é a nossa esperança (cf. 1Tm., 1, 1), o cumprimento da promessa, e o Espírito que o Pai e o Filho nos dão é o Espírito da promessa cumprida, mas ainda não consumada.

A esperança cristã é uma esperança baseada na fé (ambas ligadas pela confiança). É uma esperança na salvação definitiva e na transformação do mundo. Perante a realidade do nosso mundo, Bento XVI sublinha que a rejeição de Deus é a rejeição da esperança. Louva o desenvolvimento da ciência moderna, mas – acrescenta – a ciência não pode salvar: “A ciência contribui muito para o bem da humanidade, mas não é capaz de a redimir. O homem é redimido pelo amor, que torna a vida social boa e bela”.

A esperança não é um optimismo ingénuo, mas um dom no meio das realidades da vida. A esperança cristã é “a virtude teologal que sustenta as nossas vidas e as protege dos medos infundados”. A esperança teologal dá “uma direcção interior e um objectivo à vida dos crentes”. Com a esperança, podemos tornar “credível e atractivo” o nosso testemunho da fé e do amor que habitam nos nossos corações (cf. Papa Francisco, Bula de Proclamação do Jubileu Ordinário do Ano 2025).

O coração da nossa fé e o fundamento da nossa esperança é “a morte e a ressurreição de Cristo”. A nossa vida é “orientada para o encontro com o Senhor da glória”. “A ressurreição de Jesus é a porta de entrada para a teologia do futuro. Não há esperança cristã para o futuro que não se baseie no acontecimento único da ressurreição de Jesus” (Michael Downey). No nosso Baptismo, recebemos de Deus o dom de uma vida nova, uma vida “capaz de transfigurar o drama da morte”. O objecto e o objectivo da esperança: “A vida eterna, ou a plena comunhão com Deus, a felicidade eterna ou o fim do nosso caminho de esperança na vida” (Papa Francisco).

De facto, “a ressurreição de Jesus é a porta de entrada para a teologia do futuro”. A ressurreição de Jesus oferece à humanidade um novo “eschaton” que faz morrer a morte e, assim, abre a porta da esperança a todos os seres humanos em particular. Certamente, a morte é o maior desafio da esperança. Sem dúvida, se Deus pode criar a partir do nada, pode devolver os mortos à vida. Acreditar na esperança implica acreditar na ressurreição dos mortos. “Só uma escatologia que se desenha através do buraco da agulha da morte e da ressurreição pode levar uma esperança perante a própria morte” (C. Braaten). O amor de Deus prevalecerá sobre a nossa morte.

Qual é a resposta à situação real da existência humana? É sobretudo a esperança: “A virtude da esperança é a primeira virtude correspondente ao status viatoris. É a autêntica virtude do ‘ainda não’”. Afinal, “não se pode viver sem esperança… Pode-se viver sem fé e, aparentemente, muitos vivem. Muitos vivem também sem amor. Mas sem esperança, algo que nos faça avançar, simplesmente não podemos continuar” (Michael Downey, “A Esperança Começa Onde a Esperança Começa”).

Ter esperança, viajar!

Pe. Fausto Gomez, OP

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