Histórias de Esperança e de Movimento – 10

JUBILEU DA ESPERANÇA 2025

Histórias de Esperança e de Movimento – 10

A esperança cristã ou teologal aumenta de intensidade em nós quando realizamos actos de esperança fiel e amorosa, pela mão da humildade e da oração, da paciência e da perseverança.

Para além das Sagradas Escrituras, dos escritos dos Padres (Pais) da Igreja e dos místicos, dos mártires e da vida dos santos, há outros livros e textos que continuam a inspirar-me como peregrino da esperança para a Bem-aventurança eterna.

Ainda me lembro – e volto a eles de vez em quando – de alguns livros da minha juventude. Em primeiro lugar, recordo O Principezinho, de A. Saint-Exupery. Sempre que leio o diálogo entre o Principezinho e a Raposa, fico comovido. O Principezinho diz à raposa que não há caçadores no seu pequeno planeta; infelizmente para a raposa, também não há galinhas: «– Nada é perfeito», comenta a raposa, antes de dar o seu simples segredo de vida ao Principezinho: «– Só com o coração é que se pode ver bem; o essencial é invisível aos olhos». Na peregrinação da vida, a esperança teologal – a esperança fiel e amorosa – é essencial!

Também guardo com carinho o livro The Parables of Peanuts (“As Parábolas dos Peanuts – Snoopy”), de Robert L. Short, sobretudo a banda desenhada Peanuts, que me ajudou a compreender o bom humor e a teologia da Família Peanuts de Charles Schulz: Charlie Brown, Snoopy, Linus, Lucy e outras crianças (adultos) maravilhosas. Lucy e o seu irmão Linus estão a ver a chuva a cair atrás de uma janela em casa. Lucy comenta: «– Caramba, olha para a chuva… E se ela inundar o mundo inteiro?». Linus responde: «– Nunca vai fazer isso. No nono capítulo do Génesis, Deus prometeu a Noé que isso nunca mais aconteceria, e o sinal da promessa é o arco-íris». Lucy: «– Tiraste-me um grande peso da cabeça». Linus: «– A boa teologia tem uma maneira de fazer isso». Outro desenho animado: Snoopy está a escrever um livro sobre Teologia. Charlie Brown comenta: «– Ouvi dizer que estás a escrever um livro sobre Teologia. Espero que tenhas um bom título». Snoopy: «– Eu tenho o título perfeito: “Já te ocorreu que podes estar errado?”».

Continuo a apreciar O Caminho do Peregrino e o mantra contínuo do Peregrino Russo: “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim, pecador”. A conversão contínua do pecado renova a nossa esperança em Deus. Gosto muito de Jonathan Livingston Seagull – “Fernão Capelo Gaivota” é o título em Português – de Richard Bach, o símbolo alado da minha esperança. Para Jonathan, “o que importava não era comer, mas voar – acima de tudo, ele gostava de voar! Estava sempre a caminho de um voo mais perfeito”. Durante o seu noviciado de voo, Jonathan tinha fome, mas estava feliz porque tinha esperança. “O truque – diz ele – é que estamos a tentar ultrapassar as nossas limitações com ordem, pacientemente”. Uma vez, o seu bando de pássaros, interessados apenas em comer, tentou matá-lo. Jonathan não podia odiar a multidão de pássaros com pouca esperança. Pelo contrário, tentou ajudar aquelas gaivotas sem esperança – amando-as! Jonathan disse: “Tens de praticar e ver a verdadeira gaivota, o que há de bom em cada um, e ajudá-los a ver isso em si próprios”. Isto é amor, ou melhor, é amar a esperança.

Outro companheiro de viagem é O Profeta, de Khalil Gibran, onde o poeta fala das diferentes realidades que afectam a nossa vida. Ele diz-nos que dar é essencial na vida e, acima de tudo, dar com alegria: “Há aqueles que dão com alegria, e essa alegria é a sua recompensa”. E trabalhar com amor: “E todo o trabalho é vazio, excepto quando há amor. E quando trabalhamos com amor, ligamo-nos a nós próprios e uns aos outros. E a Deus”. E rezar a Deus: “Quando rezas, ergues-te para encontrar no ar aqueles que estão a rezar. Nessa mesma hora, e a não ser na oração, não te encontrarás”. Gibran escreve: “A consciência física de uma planta no meio do Inverno não é dirigida para o Verão passado, mas para a Primavera que se aproxima. A memória física de uma planta não é a de dias que já não existem, mas a de dias que existirão. Se as plantas têm a certeza de uma Primavera vindoura, através da qual sairão de si mesmas, porque é que eu, planta humana, não posso ter a certeza de uma Primavera vindoura, na qual me poderei realizar? Talvez a nossa Primavera não esteja nesta vida… Esta vida pode não passar de um Inverno”. Sim, mas, na esperança, um Inverno esperançoso!

Sou um peregrino! Estou a caminho de Deus, o Deus da nossa esperança. Onde estás, meu Deus? Sei que Deus Pai, o Bom Pastor, está à minha procura e sei que Deus, o Pai do filho pródigo e do seu irmão mais velho, está à nossa espera!

Como seguidor de Cristo, estou a seguir o seu caminho, o meu caminho de esperança? Dois discípulos de João Baptista perguntaram a Jesus «Rabi, onde é que tu ficas?» (Jo., 1, 38). Jesus respondeu-lhes: «Vinde e vede». Onde estás hoje, Senhor? Ele está presente na comunidade orante e fraterna: «Se dois de vós estiverem unidos para pedir alguma coisa, ela ser-vos-á concedida por meu Pai celeste. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou no meio deles» (Mt., 18, 19-20). Cristo está presente nos Sacramentos, canais de graça e de graças, nomeadamente na Eucaristia: “Isto é o meu Corpo”, “Este é o cálice do meu sangue”.

Cristo está presente nas palavras das Sagradas Escrituras, particularmente quando estas são proclamadas na Igreja (Vaticano II, SC n.º 7). Ele está presente também nos necessitados do mundo: «O que fizerdes ao menor dos meus irmãos, é a mim que o fazeis» (Mt., 25, 31-46). O Senhor está presente na oração, incluindo a oração privada como encontro com o Senhor.

“A salvação é vislumbrada pela fé, é antecipada pela esperança, mas só é alcançada pela caridade”. “A esperança alimenta-nos no caminho com o maná da doçura” (São Francisco de Sales: “O Amor de Deus: Tratado”).

EM JEITO DE CONCLUSÃO

Quando tudo está dito e feito sobre a vida, a felicidade, a esperança, o que realmente importa é o amor – um amor que está nesta vida «sempre pronto a esperar» (1 Cor., 13, 7). Só a prática da esperança no amor nos conduzirá pelo caminho do céu: sem santidade, «ninguém pode ver o Senhor» (Heb., 12, 14).

Enraizados no passado, fiéis ao presente, marchamos para o futuro: temos os olhos postos no futuro. Todos nós conhecemos a bela história oriental do velho que sobe os Himalaias. Era Inverno, um Inverno frio. Nesse dia, estava também a chover, pelo que o velho se refugiou durante algum tempo numa estalagem ao longo do caminho para o pico. O estalajadeiro perguntou-lhe: «– Como é que vais chegar lá, velhote, com este tempo?». O velho respondeu-lhe: «– O meu coração chegou lá primeiro, por isso é fácil para o resto de mim segui-lo». Onde está o meu coração? E o teu?

Então vi um novo céu e uma nova terra… Deus… enxugará dos seus olhos toda a lágrima, e a morte já não existirá, nem haverá luto, nem pranto, nem dor. O olho não viu, o ouvido não ouviu e o homem não percebeu o que Deus preparou para aqueles que o amam (cf. I Cor., 2, 9). O Espírito e a Esposa dizem: “‘Vem!’… Quem ouve, responda: ‘Vem!’. Vem, Senhor Jesus!” (cf. Ap., 22, 17.20).

Pe. Fausto Gomez, OP

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