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Valores fortalecidos

No passado dia 13 de Maio tive a oportunidade única de estar presente em dois dos acontecimentos mais marcantes da vida do Portugal contemporâneo: a canonização dos pastorinhos Francisco e Jacinta Marto, no âmbito das comemorações do Centenário das Aparições de Fátima, e a conquista inédita de um tetra-campeonato pelo Sport Lisboa e Benfica. A juntar a isto, devido ao facto de me encontrar num fuso horário dito “normal”, consegui assistir, em directo, à votação das canções concorrentes ao Festival da Eurovisão em Kiev, na Ucrânia, que ditou a vitória de Salvador Sobral.

Tendo chegado a Fátima na noite do dia 12 de Maio, confesso que foi com muito esforço que consegui interpretar os momentos vividos pelas centenas de milhares de pessoas que enchiam o Santuário de Fátima para participarem na bênção das velas. O cansaço e o “jet lag” são inimigos da perspicácia. A máxima “mente sã em corpo são” podia neste caso ser substituída por “mente cansada em corpo cansado”. Ainda assim, deu para testemunhar a entrega e devoção dos fiéis portugueses e estrangeiros que se deslocaram à Cova da Iria, para com o Papa celebrarem o Centenário das Aparições de Fátima e a canonização dos beatos Francisco e Jacinta Marto.

Não me impressionou a larga quantidade de pessoas presentes, pois em Abril de 2014 assisti em Roma à canonização dos Papas João Paulo II e João XXIII, em que participaram mais de dois milhões de fiéis, mas tocou-me a intensidade como cada minuto foi sentido por quem rezou com o Papa Francisco.

Desde a bênção das velas à última missa, foram muitos os momentos que uniram os fiéis e os aproximaram ao Sumo Pontífice e à causa da canonização, havendo quem pernoitasse nas ruas, ao relento, aquecido pelo fervor da religiosidade.

Terminadas as cerimónias, viajei para Lisboa a tempo de assistir ao jogo entre o Benfica e o Vitória de Guimarães no Estádio da Luz, a denominada “catedral” do futebol português, continuando assim a acumular emoções inesquecíveis. À semelhança dos peregrinos de Fátima, milhares de adeptos, fiéis ao seu clube do coração, rumaram à Luz na esperança de festejar um feito há muitas décadas perseguido, mas nunca alcançado. Nem por Eusébio e companhia…

Antes do jogo as conversas centravam-se em Fátima, na possibilidade do Benfica conquistar o Tetra, e na participação de Portugal na Eurovisão. Tenho para mim, que sou um emigrante a viver muito longe de Portugal, que o nosso povo – felizmente – continua a alimentar os valores do Catolicismo, do desporto com tradição e do Patriotismo.

Por estes dias houve quem escrevesse que o País regressou aos tempos dos três efes do Estado Novo (Fátima, Fado e Futebol). Diria antes que os portugueses voltaram a não ter vergonha de assumir os valores que sempre nortearam as sucessivas gerações que fizeram de Portugal um exemplo para o mundo, no que respeita aos princípios reguladores da Humanidade.

O politicamente correcto tem atentado contra a moral e os bons costumes. Como tal, poder-se-á dizer que, contra a corrente, o Catolicismo e o sentimento patriótico voltaram a afirmar-se. Mais do que a presença do Papa em Fátima ou do que as conquistas desportivas e musicais, o dia 13 de Maio de 2017 marcou o fortalecimento de valores há muito negligenciados.

 

Brandos costumes

Depois de ter recebido, em Fátima, a acreditação destinada aos profissionais da Comunicação Social, dirigi-me a uma das áreas do Santuário reservadas a jornalistas, fotógrafos e operadores de câmara. Situado mesmo ao lado do altar colocado em frente à Basílica de Nossa Senhora do Rosário, o espaço oferecia todas as condições para a actividade jornalística, o que é sempre de louvar neste tipo de acontecimentos.

Nas televisões o Papa cumprimentava o Primeiro-Ministro português, António Costa, com quem reuniu durante meia hora, cumprindo de seguido o resto do programa oficial.

Aquando do início da Santa Missa, na qual foram canonizados os pastorinhos, olhei para trás e, qual não foi o meu espanto, vi sentados o Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, e o Primeiro-Ministro, acompanhado da mulher e da filha, para além de outras figuras de Estado.

Tendo em conta que em nenhum momento a GNR (Guarda Nacional Republicana) me revistou – levava uma mochila às costas, um casaco impermeável e calças com bolsos – só posso depreender que Portugal continua a ser encarado pelas autoridades como um país de brandos costumes, a ponto de aparentemente relativizar a ameaça do terrorismo. Fosse nos Estados Unidos, na China ou na Rússia e certamente outro galo cantaria.

Pertencer a um país “pequeno” tem as suas vantagens, na medida em que os seus cidadãos e políticos sentem que não são potenciais alvos a abater. No entanto, defendo que a prevenção deve ser a prioridade nos dias que correm, sem prejuízo da liberdade de movimentos dos cidadãos. Mais uma vez ficou provado que os bons valores regem a vida dos portugueses, que não se deixam influenciar por radicalismos de qualquer espécie.

José Miguel Encarnação

jme888@gmail.com

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