Covid-19 ou a nova Caverna de Platão
Desenganem-se pois não vos vou falar sobre o Covid-19 enquanto “novo” coronavírus – haverá qualquer coisa como vinte mil no Reino Animal… –, dos conceitos de epidemia e pandemia, e muito menos de vacinas ou paliativos. Deixo essa aborrecida tarefa para quem “sabe da poda”.
O confinamento a que o mundo está votado desde Janeiro remete-me o pensamento para a Alegoria da Caverna de Platão. Fomos atirados para a caverna, restando-nos “iluminar” a gruta não com uma fogueira mas com o telemóvel. Ao contrário do homem primitivo, não vemos a nossa sombra reflectida nas paredes da gruta, mas o nosso semelhante do outro lado do visor, como se todos passássemos a ser espelhos uns dos outros. Está consumada a regra da não interacção física entre os humanos, já bastante explorada em filmes cujo enredo se passa no futuro (ex: Demolition Man, 1993, com Sylvester Stallone e Sandra Bullock).
Pergunto: Que mundo iremos encontrar quando pudermos sair da caverna?
Os primeiros sinais já revelados antecipam que TUDO será pior para a maioria da população mundial. O desemprego não pára de aumentar em quase todos os países, em resultado da estagnação da produção e da falta de liquidez das empresas para fazer face aos custos inerentes ao simples facto de existirem. Consequentemente, a pobreza está a empurrar milhões das subdivisões da classe média para a classe baixa, fazendo com que hoje o elevador social só conheça o sentido da descida. Muito certamente, a fome voltará a ocupar o lugar cimeiro da lista dos problemas sociais a resolver pelos diferentes Estados.
Só quem esteja distraído poderá acreditar que tudo voltará a ser como dantes num simples passe de mágica. Felizmente, uma grande percentagem da população mundial já percebeu que algo tem de ser feito e tem saído às ruas exigindo o fim do confinamento e a adopção de medidas que permitam alavancar a Economia. Como costumo dizer entre amigos: Sem dinheiro, não há palhaço! Sem palhaço, não há circo!
Neste quadro, não posso deixar de me solidarizar com aqueles que deixaram de ter dinheiro para alimentar as suas famílias, pois nem todos tiveram o privilégio de nascer em países como os do Norte da Europa ou em territórios como Macau.
No Brasil, por exemplo, milhões recebem ao dia. De manhã, ao acordar, muitos brasileiros sabem que caso não vendam “bala” ou mandioca no trânsito muito dificilmente terão o que jantar. Daí que considere a opção (concertada) da maioria dos governadores de Estado em seguir o mesmo modelo de confinamento dos países mais desenvolvidos um verdadeiro atentado. Muitos brasileiros voltaram a cair no desemprego, regressando ao mundo do crime como forma de sobrevivência.
Se o alegado número de mortes por Covid-19 a todos choca, verdadeiramente escabroso é o facto de grandes fortunas terem duplicado e triplicado o seu valor, nomeadamente as ligadas aos sectores da Logística e das Tecnologias de Informação – o que me leva a concluir que estarmos fechados na caverna de telemóvel na mão, à espera que nos venham trazer as compras a casa, veio mesmo a calhar para alguns donos disto tudo…
Posto isto, voltando ao início do texto, quando o Homem puder sair da caverna irá encontrar um mundo mais dividido em todos os aspectos: os pobres estarão mais pobres, os ricos… mais ricos; revoltas e revoluções irão suceder-se em catadupa; o Hemisfério Norte estará menos solidário para com o Hemisfério Sul e o descontentamento dará lugar à ascensão de forças políticas musculadas, as únicas capazes de repor a ordem social. É que liberdade sem regras é a receita para o caos.
A concluir, uma pequena nota: o antigo espião Edward Snowden dizia há dias que a pandemia do Covid-19 está ser utilizada como argumento para os Estados suprimirem direitos, liberdades e garantias, e controlarem a Comunicação Social. Por uma fracção de segundos dei por mim a pensar se Edward Snowden continuava a viver na Rússia ou tinha mudado para Portugal….
N.d.R.:Artigo publicado em primeira mão na rede social Facebook, no dia 18 de Agosto de 2020.
José Miguel Encarnação