As máscaras da sociedade.
A irmã Omana Ouseph, superiora do Centro de Santa Lúcia, em Ká-Hó, supervisiona os cuidados das utentes, todas elas com deficiência mental crónica. «Estão a nosso cargo 58 mulheres, a maioria das quais com deficiência mental profunda. Quando receberam alta hospitalar não voltaram para casa. Precisavam de cuidados especiais, algo de difícil concretização para as famílias», sublinha a religiosa das Irmãs da Caridade de Santa Ana.
A irmã Omana reconhece que «as famílias fazem visitas muito raramente», mas assume que o cenário já foi bastante pior: «Antes faziam ainda menos visitas.
Agora dizem que são familiares, mas antigamente nem isso diziam, pois vinham com a desculpa de serem pessoas amigas ou algo do género. Escondiam a realidade».
No Centro de Santa Lúcia também há quem tenha sido abandonada pela família após receber alta hospitalar. «Somos as suas guardiãs», explica a irmã, adiantando que nos casos novos as pacientes «têm familiares» que não as abandonaram, insistindo as religiosas para que façam visitas «pelo menos uma vez por mês».
«Não querem incómodos. Podemos dar [às pacientes] o melhor cuidado possível, mas nunca podemos substituir as famílias. É uma relação que não podemos substituir», reforça.
O estigma de ter um deficiente mental no seio familiar «ainda é muito grande» em Macau, mas a situação «está a mudar lentamente», acrescenta. «O Governo tem vindo a apoiar cada vez mais o nosso trabalho. Somos plenamente subsidiadas pelo Governo, através da Cáritas. As condições são agora outras, bastante melhores», frisa a irmã Omana. No entanto, o Governo «ainda pode fazer melhor», por exemplo ao nível da educação das famílias, «algo que já está a ser feito», embora seja «necessário continuar a insistir» nessa vertente.
A superiora do Asilo de Santa Maria, irmã Mary Isabella Rani, não se afasta muito da realidade vivida no Centro de Santa Lúcia: «Cuidamos de 110 idosas. Estão cá porque os familiares não conseguem cuidar delas, seja por causa do trabalho ou porque também já começam a ficar velhos».
No asilo não há casos de abandono. «A maioria tem familiares a viver em Macau. E há quem agora viva longe, no continente chinês e no Canadá. A opção foi deixá-las ao nosso cuidado», afirma a religiosa.
Embora haja a preocupação de não deixar os mais velhos à sorte, a superiora explica que «os familiares não fazem visitas com muita frequência», algo que «continua a ser um problema, mas com tendência para melhorar», por via de «acções de sensibilização e de formação que têm decorrido com maior frequência».
«As condições são agora melhores. A sociedade também está a mudar. Há mais apoios do Governo, que são canalizados através da Cáritas», assinala a superiora do Asilo de Santa Maria.
A irmã Ines Chau, de proveta idade, toma conta da Casa Maria Rafols, perto do Hospital Kiang Wu. Fala Cantonense, Mandarim, Inglês e Espanhol. Foi professora do Ensino Primário no Colégio Mateus Ricci e trabalhou em Xinhui, na província de Guangdong, numa leprosaria a cargo das Irmãs da Caridade de Santa Ana.
A congregação foi fundada no ano de 1804, em Espanha. As irmãs vieram para Macau em 1987, com o intuito de tomar conta da educação e do serviço para idosos, débeis mentais e inválidos. Actualmente são dezanove irmãs no território. A seu cargo têm o Asilo de Betânia (idosos), o Lar de São Luís Gonzaga (pessoas do sexo masculino com deficiência), o Asilo de Santa Maria (idosas), o Centro de Santa Lúcia (pessoas do sexo feminino com deficiência) e a Casa Maria Rafols. Sete irmãs chinesas e uma indiana estão na leprosaria em Xinhui.
P.D.O.