Intitulada à fundadora dos Focolares uma cátedra da Universidade Católica de Pernambuco

Visão do homem em Chiara Lubich

«Sempre atenta a compreender os sinais fecundos presentes na busca às vezes sofrida e obscura do homem, Chiara põe em relevo o caminho de uma reconsideração do homem na sua integralidade e plenitude que fazem pressentir o inicio de “um humanismo que renasceu” de um caminho irreversível.

Um humanismo no qual todas as perspectivas do homem são adequadamente recebidas, fundadas e postas em relação com a realidade de Deus como abertura do homem para uma transcendência que já vive na sua história e que, ao mesmo tempo, representa a sua realização suprema e definitiva. Enfim, um humanismo que, citando a famosa expressão de Jacques Maritain, poderíamos definir integral, isto é, como confirma o magistério de Paulo VI em conformidade com a grande lição do Concílio Vaticano II, capaz de pôr no centro da sua consideração “cada homem e todo o homem”». É um dos trechos mais significativos do discurso pronunciado pela presidente do Movimento dos Focolares, Maria Voce, na Universidade Católica de Pernambuco, em Recife (Brasil), por ocasião da inauguração da cátedra inter-institucional de Fraternidade e Humanismo intitulada a Chiara Lubich (22 de Janeiro de 1920 – 14 de Março de 2008), fundadora dos Focolares.
No seu pronunciamento “A visão do homem em Chiara Lubich”, Maria Voce apresentou a relação entre humanidade e fraternidade como fundamento principal da cultural do encontro que deve guiar cada homem e mulher «até às extremas periferias existenciais», como disse Chiara muitas vezes. Depois, a presidente reflectiu sobre as questões da natureza, da finalidade, da realidade do homem dos séculos XX e XXI, indicando as contradições e as fraquezas das respostas que foram dadas a elas. Neste contexto não faltaram as vozes de quantos demonstraram a consciência de poder recomeçar a partir de um novo humanismo para oferecer novas esperanças ao mundo: Chiara Lubich eleva-se entre estas vozes. Ao reconsiderar o homem devemos partir da leitura da sua criação, isto é dos primeiros capítulos do Génesis, os quais constituem uma fonte privilegiada que introduz três elementos fundamentais: a relação de comunicação entre Deus e o homem, a relação pessoal entre homem e homem e a relação entre o homem e a criação. Sobre este último aspecto, segundo Maria Voce, devemos reflectir com atenção particular porque «temos que observar e cuidar com o mesmo amor de Deus cada aspecto da criação, isto é, um amor que se alarga ao universo inteiro no qual se pode sentir o próprio sinal divino de comunhão e de unidade». O homem foi criado à imagem do amor infinito de Deus e, portanto, deve responder a uma chamada ao amor na plena liberdade que Ihe é doada por Deus. Trata-se de um percurso que leva o homem à unidade no acolhimento do outro. Trata-se – frisou a presidente dos Focolares – daquela «cultura do encontro» sobre a qual fala o Papa Francisco, «uma cultura que se formará através do nosso ir sem reservas ao encontro dos homens sem temor de nos impulsionar até às muitas “periferias existenciais” do mundo, para fazer chegar até elas o testemunho do amor fraterno, da solidariedade e da partilha». Este binómio, humanismo e fraternidade, qualifica de maneira pertinente também o contributo de Chiara Lubich.

No seu discurso, o padre jesuíta Pedro Rubens, reitor da Universidade Católica de Pernambuco, exortou a «reconsiderar a fraternidade como paradigma de uma nova humanidade, tarefa tanto académica como política». O reitor recordou a amizade que une o ateneu à figura de Chiara Lubich, que ali recebeu o título de doutora “honoris causa” em Economia, como reconhecimento pelo seu compromisso na economia de comunhão que moveu os seus primeiros passos no Brasil. Durante a cerimónia, na qual interveio também D. Genival Saraiva de França, bispo emérito de Palmares, Paulo Muniz, director da Faculdade Asces de Caruaru, que colaborou na instituição da cátedra, recordou como no Brasil cresceu o interesse científico sobre o tema da fraternidade, a ponto que são cada vez mais numerosas as pesquisas e as publicações de carácter interdisciplinar. Para a Asces, a criação da cátedra Chiara Lubich pode contribuir para um ulterior enriquecimento da formação dos estudantes: através das pesquisas sobre fraternidade e humanismo promove-se um percurso que vai além da aquisição dos conhecimentos científicos e tecnológicos e oferece-se aos alunos a compreensão dos valores humanos na sua integralidade.

 Riccardo Burigana

In L’Osservatore Romano

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