Instituto Confúcio da Universidade de Aveiro

A Casa do Mandarim.

O CLARIM foi à Universidade de Aveiro para saber o porquê desta universidade ter decidido apostar no ensino do Mandarim. Pelo caminho ficámos também a saber da existência de um Instituto Confúcio que nasceu em 2015, mas que já tem uma grande importância no ensino e disseminação da língua chinesa na zona centro de Portugal. Estivemos à conversa com o seu director, o professor Carlos Morais, que nos revelou um pouco do que tem sido feito, dos planos para o futuro e da razão do nascimento do terceiro Instituto Confúcio de Portugal. Nas próximas semanas iremos trazer mais aspectos desta aposta no Mandarim pela instituição de ensino de Aveiro e tentar perceber a razão do seu grande sucesso.

Foi com prazer que o professor Carlos Morais, director do Instituto Confúcio da Universidade de Aveiro (IC-UA), nos disse que é na “sua” universidade que existe o mais antigo mestrado em Estudos Chineses de Portugal. Foi criado em 1998, sendo o primeiro do País. No seguimento, em 2001, surgiu uma licenciatura em Línguas e Relações Empresariais com três anos de ensino de Mandarim e, em 2006, nasceu o mestrado em Línguas e Relações Empresariais que conta com mais um ano de ensino da língua chinesa.

A par da aposta clara no ensino do Chinês, entre 2005 e 2015 foram organizados vários cursos livres de Mandarim, que depois da criação oficial do Instituto Confúcio da Universidade de Aveiro, a 23 de Abril de 2015, passaram a ficar sob a alçada do novo instituto.

Com pouco mais de um ano de existência, o Instituto Confúcio contribui já com vários projectos e iniciativas, aumentando o valor de tudo o que foi feito anteriormente e ajudando a dissipar mitos que havia relativamente ao Chinês e à cultura chinesa, além de contribuir para o enriquecimento da oferta da própria universidade.

Actualmente o IC-UA organiza cursos livres de Mandarim, desde o nível de iniciação até ao nível avançado, tendo estes sido frequentados por mais de 130 alunos no último ano lectivo. Paralelamente, para proporcionar aos alunos um maior contacto com a cultura chinesa, são também organizados cursos de caligrafia, gastronomia, recorte de papel de arroz, gravação de carimbos, artes decorativas, pintura, medicina tradicional chinesa e, claro está, as artes marciais, que são tão populares em Portugal.

Ainda no campo do ensino, o IC-UA organiza, anualmente, cursos de preparação para o reconhecimento dos níveis de conhecimento da língua chinesa, os denominados exames HSK. No ano passado submeteram-se a este exame quase seis dezenas de alunos. A taxa de aprovação ficou perto dos cem por cento.

Fora da existência física do instituto, este apoia diversas iniciativas na sociedade local, com a disponibilização de alunos que ficam responsáveis pelo ensino da língua chinesa em diversas escolas primárias da região.

Em 2012 o município de São João da Madeira, sabendo da importância da língua chinesa para o desenvolvimento do seu tecido empresarial e industrial, pediu à Universidade de Aveiro para leccionar Mandarim – como disciplina curricular – aos alunos das escolas primárias e secundárias do concelho. Entre 2012 e 2015 a tarefa ficou a cargo do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro. Depois da criação do IC-UA a coordenação deste projecto ficou sob a alçada do instituto, que tem vindo a alargar a sua influência a outros municípios da região. Actualmente há nove projectos em andamento, abrangendo cerca de mil 170 alunos, doze professores locais e outros doze chineses, no ensino curricular e actividades paralelas.

O primeiro ano lectivo contou com quase trezentos alunos. No último ano lectivo foram 670, distribuídos por cinquenta turmas nos diversos níveis de ensino. O Mandarim é língua curricular obrigatória para todos os alunos do primeiro ciclo (entre os oito e dez anos de idade) e opcional nos restantes níveis, sendo leccionado por pares pedagógicos constituídos por um professor português e um professor nativo da língua. No decorrer de cada ano os alunos aprendem sessenta novos caracteres, falam em Chinês sobre os temas de estudo e adquirem noções sobre a cultura, mentalidade e hábitos chineses.

O IC-UA participa também, conjuntamente com os outros Institutos Confúcios (Instituto Confúcio do Minho – o mais antigo de Portugal, constituído em 2006; Instituto Confúcio de Lisboa – 2008 – e Instituto Confúcio de Coimbra – Junho de 2016), num projecto-piloto resultante de uma parceria entre o Ministério da Educação e o instituto sede dos Instituto Confúcio, o Hanban, que envolve onze escolas a nível nacional. Nesse âmbito, o IC-UA coordena mais de cem alunos e quatro professores em quatro escolas da região Centro (São João da Madeira, Oliveira de Azeméis, Aveiro e Coimbra). O instituto coordena igualmente outros projectos na Cooperativa de Ensino Santa Joana em Aveiro, no Instituto Duarte Lemos em Águeda, escolas da Covilhã e Belmonte e no Colégio Nossa Senhora da Assunção em Anadia. Em estudo e negociações está a introdução do ensino do Mandarim em escolas de Vale de Cambra, Vouzela e Vila Nova de Gaia.

A par das referidas cooperações de ensino o Instituto Confúcio da Universidade de Aveiro realiza inúmeras actividades relacionadas com a cultura chinesa, tanto nas suas instalações, na antiga Reitoria da Universidade de Aveiro, como no exterior. Segundo Carlos Morais, os eventos são sempre bem acolhidos e contam com a participação de milhares de pessoas ao longo do ano. Para complementar o ensino e todas as actividades culturais e recreativas, o IC-UA organiza campos de férias para os alunos interessados em viver e aprender na China, o país de origem do Mandarim. Este ano, no primeiro acampamento que decorreu na Universidade de Dalian, em Agosto, estiveram presentes quinze alunos dos cursos ministrados em Aveiro.

O IC-UA já deu início ao primeiro curso de formação de professores locais de Mandarim. Caso o ensino da língua continue a crescer, como tem acontecido até agora, deverá surgir uma licenciatura de língua e cultura chinesas e até mesmo um mestrado no ensino de Mandarim.

Com o objectivo de diminuir a falta de conhecimento em redor da cultura chinesa e contribuir para uma melhor compreensão e aceitação mútua, nasceu este ano o concurso “Lendas da China – Prémio Instituto Confúcio Artes 2016”. A iniciativa terminou recentemente, devendo os resultados ser anunciados em breve.

Entre 15 e 17 de Fevereiro de 2017, organizado pelo IC-UA e outros departamentos da Universidade de Aveiro, irá decorrer o congresso internacional “Diálogos Interculturais Portugal-China”, que reunirá especialistas de todo o mundo para abordarem temas de literatura, tradução, turismo, cultura, artes performativas, audiovisual, multimédia, sociedade e ciência.

Outra das iniciativas a destacar é o ciclo de seminários OBOR – “One Belt one Road” que surge da necessidade que o Instituto Confúcio reconhece existir em Portugal em fomentar o debate sobre a importância das duas novas estratégias apresentadas pelo Presidente chinês em 2013 e que posicionam a China no âmbito do crescimento e desenvolvimento global. São elas, a “Faixa Económica da Rota da Seda”, que visa a ligação terrestre da China à Europa através da Ásia Central e Ocidental, e a “Rota Marítima da Seda do Século XXI”, que visa ligar a China à Índia, ao Médio Oriente e à África e, pelo Canal do Suez, à Europa.

Estes projectos pretendem dinamizar e mobilizar a comunidade académica, empresarial e política para o debate das referidas estratégias e, assim, contribuir para o desenvolvimento do País.

Ainda este ano, por decisão do IC-UA, vão ser publicados uma gramática de Chinês para portugueses, da autoria de Mai Ran, um manual de iniciação ao Mandarim para crianças, elaborado por Wang Suoying, e o livro “O Fio da Seda – do ovo ao tecido”, de José Simões Duarte.

João Santos Gomes

Em Aveiro (Portugal)

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