IMBUÍDOS NO ESPÍRITO DA LAUDATO SI

IMBUÍDOS NO ESPÍRITO DA LAUDATO SI

Uma sugestão de Verão

Nesta última crónica antes da habitual (para dizer mesmo tradicional) interrupção das publicações d’O CLARIM na segunda quinzena do mês de Agosto, gostaríamos de vos deixar uma sugestão, caso venham a Portugal e, mais concretamente, à cidade de Aveiro.

Surgiu no ano passado, ligado à diversidade da Ria de Aveiro, um novo conceito de turismo que este Verão tem tido grande procura, muito devido à necessidade de isolamento e distanciamento social. A nova oferta situa-se à margem da exploração abusiva em que se transformaram os passeios de moliceiro nos canais da Ria, os quais desaconselhamos vivamente a quem visita a cidade. Sinceramente, não há nada que justifique os euros que pedem. Cobrar treze euros por uma viagem que não demora mais de vinte minutos (se bem que têm o descaramento de dizer que demora entre 35 a 40 minutos), e que não mostra nada para além do que pode ser apreciado com um simples passeio a pé à beira dos canais, é um autêntico roubo. Se se pode visitar a pé, por que razão havemos de nos encafuar numa embarcação com cheiro a mofo, suja e cheia de pessoas, com um motor a roncar atrás dos nossos ouvidos? O conselho que damos a quem cá venha é que aproveite o bom tempo, siga os canais, inclusivamente aqueles por onde não passam os moliceiros, e – acreditem – que irão descobrir recantos que nunca conseguiriam ver sentados nos tradicionais barcos de recolha de moliço (daí o nome de moliceiros) ou de transporte de carga (os mercanteis).

Mas voltando ao assunto inicial e à tal nova oferta turística da Ria de Aveiro. Trata-se de uma embarcação com motor eléctrico, logo muito silenciosa, o que torna o passeio ainda mais atractivo.

Vou-vos contar a nossa experiência e o que podemos observar em família. Saímos do pontão da Marina da Antiga Lota, localizada bem à entrada dos canais da Ria, e seguimos por entre estreitos braços de água até à boca do Rio Vouga, o maior afluente deste ecossistema bem especial. Pelo caminho, uma das proprietárias da Sterna, nome da empresa que opera estas viagens de visita e aprendizagem acerca deste importante habitat salubre de Aveiro, foi-nos “inundando” com informação e curiosidades interessantes.

“A Sterna é uma empresa vocacionada para o turismo náutico e de Natureza. Pretendemos proporcionar um variado tipo de experiências únicas na Ria de Aveiro, dar a conhecer a sua beleza natural e a grande biodiversidade ao longo dos seus mais de 200km navegáveis. Cientes da alta sensibilidade deste precioso ecossistema navegaremos numa embarcação com tecnologia de ponta, totalmente ecológica, silenciosa e movida apenas a energia Solar”, refere a empresa na sua página da Internet.

No nosso caso, optámos por uma das três experiências à disposição dos clientes: a “Experiência dos Esteiros”. Esta experiência permite ter uma relação mais intimista com a Ria de Aveiro, ao explorar a Ria num estado quase selvagem. A “Experiência dos Esteiros” dá a oportunidade de contactar com a Ria de Aveiro em alguns dos seus principais canais, por meio de visitas a zonas de águas mais doces e de águas mais salgadas, cada uma com as suas especificidades, fauna e flora características – aspectos e detalhes profissionalmente explicados durante a viagem e sempre “salpicados” por pormenores e curiosidades que dificilmente conseguiríamos saber não fosse a vivência das pessoas que nos conduziram. Durante a visita é servido vinho espumante e doçaria regional; um extra que cai sempre bem e faz os visitantes sentirem-se especiais. O facto de termos podido beber e comer a bordo, no meio de um habitat tão especial, trouxe-nos à memória vivências dos nossos tempos a bordo do veleiro Dee.

A Sterna (o nome desta empresa advém de Sterna sandvicensis, o nome científico do garajau, um ave muito comum na Ria de Aveiro) oferece ainda outros dois programas, a “Experiência das Duas Águas” que possibilita um contacto próximo com a Ria de Aveiro em alguns dos seus principais canais, e a “Observação de Aves”. Oferece também um programa para casais, em que o ambiente romântico da Ria, proporcionado pelo motor silencioso do barco, está por alguns momentos reservado a apenas duas pessoas. Em condições “normais”, a lotação da embarcação é de dez pessoas sentadas.

Saímos do cais por volta das dez da manhã, num dia solarengo, mas ainda assim aconselharam-nos a levar um casaco, pois na Ria está sempre ventoso e é normal sentir-se frio. Chapéu, óculos de sol e protector solar são igualmente aconselháveis, dado que a viagem, com uma duração de quase duas horas, é feita sempre ao Sol, apesar do barco ter uma zona coberta com painéis solares. É que basta o reflexo dos raios solares nas águas límpidas para fazer com que os olhos sofram os efeitos da luminosidade. Ao final do dia as dores de cabeça são praticamente uma inevitabilidade.

Após cerca de trinta minutos de viagem chegámos à desembocadura do Rio Vouga, onde demos meia-volta e regressámos ao ponto inicial. Pelo caminho fomos vendo aves e animais marinhos, para além de muito peixe nas águas cristalinas. Foi para nós uma experiência diferente porque nunca havíamos navegado num barco tão pouco ruidoso. Só para terem uma ideia, o bote auxiliar que tínhamos no Dee, e que servia como “carro” do dia-a-dia, estava equipado com um motor fora de bordo, de cinco cavalos, que fazia mais barulho do que a Maria quando está de mau humor!

Acima de tudo, gostámos da paz que se vive na Ria. Nunca havíamos tido a oportunidade de visitar a zona em questão e não temos qualquer receio em aconselharmos os leitores a fazerem o mesmo.

Quanto ao preço da experiência, pagámos 28 euros por adulto, um valor que consideramos justo tendo em conta a experiência vivida.

Os interessados podem consultar e contactar a Sterna através do Facebook ou do página da Internet www.sterna.pt.

Aos nossos leitores desejamos umas óptimas férias!

João Santos Gomes

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *