Um templo em tons laranja
Por vezes, as construções mais bonitas encontram-se nos locais menos esperados, onde nem sequer pensávamos ser possível existir algo interessante. Numa vila aonde passamos diariamente, pois fica a caminho da capital – a Cidade do Luxemburgo é o nosso local de trabalho e onde a Maria tem escola –, descobrimos que há uma igreja de beleza extraordinária. Não é tida como uma das mais bonitas do País, mas, como em tudo na vida, a relativa beleza depende de quem a observa.
Tenho para mim que a nível da fachada (ou fachadas, se preferirem) a igreja de São Martinho em Junglinster ocupa um lugar cimeiro. Já quanto ao seu interior, ainda precisamos de o explorar melhor, dado que a visita foi feita a correr e não conseguimos ter uma ideia bem consolidada. Pena é que tenham autorizado, há já alguns anos, a construção de edifícios de grandes dimensões nas suas imediações. Tal fez com que se tenha perdido campo de visão para a igreja, fazendo com que hoje pareça estar descontextualizada em relação à sua envolvente.
Os tons laranja da igreja contrastam com os tons cinzentos dos telhados e dos edifícios mais antigos da vizinhança, emprestando-lhe uma beleza extraordinária, especialmente ao final do dia quando o pôr-do-Sol lhe acentua ainda mais as nuances alaranjadas.
Esta obra-prima da arte barroca está classificada como Monumento Nacional há várias décadas. Há pouco mais de dez anos, esta igreja paroquial foi totalmente restaurada e revitalizada de acordo com os mais rigorosos padrões de qualidade, apresentando agora condições de primeira para receber os turistas e os fiéis. No entanto, o seu interior só pode ser visitado com marcação prévia.
O processo de restauro esteve a cargo de uma das maiores empresas de arquitectura do Grão-Ducado, tendo revitalizado por completo a sua estrutura. A obra foi realizada em diversas fases, tal não foi a complexidade da empreitada, feita sempre em estreita colaboração com o Serviço de Locais e Monumentos Nacionais do Luxemburgo. Do caderno de encargos realçam os trabalhos de restauro efectuados na fachada, incluindo os vitrais, os rebocos e a torre. No interior foi restaurado o órgão, os abundantes frescos nas paredes, as estátuas, os retábulos e todo o mobiliário religioso. Em suma, como nos disse um dos responsáveis pela igreja que nos abriu a porta, tratou-se de uma remodelação total.
Os murais do interior são atribuídos ao famoso pintor checo Ignatius Millim; o altar de Nossa Senhora data de 1903. Em 1938 foram realizadas obras de ampliação (neste ano foi reconstruída a igreja de São Francisco Xavier em Macau, situada no Bairro de Mong-Há) e em 1973 foi restaurada pela primeira vez. As obras mais antigas que se podem encontrar são uma homenagem aos nobres da família d’Orley.
A paróquia de Junglinster foi erigida na Idade Média, sendo que em 1688 a igreja paroquial chegou a estar completamente abandonada, pois não se sabia a quem cabia a responsabilidade pela sua manutenção. Em Janeiro de 1744, o padre Johannes Otto Borrigs foi nomeado pároco e acabou de vez com o impasse, tendo lançado mãos à obra. O colmatar de um longo processo foi a construção de uma nova igreja, cujo desenho arquitectónico é da autoria de Paul Mungenast, o mesmo mestre responsável pelo desenho da abadia de Echternach. Segundo uma nota explicativa, ambos foram inspirados na basílica de São Paulino, em Trier, na Alemanha.
O edifício foi consagrado em 24 de Julho de 1774 pelo então bispo auxiliar, D. Johann Nikolaus von Hontheim.
João Santos Gomes