GUARDIÕES DAS CHAVES – 36

GUARDIÕES DAS CHAVES – 36

Pontificados conturbados: Vigílio e Pelágio I

VIGÍLIO

(29.III.537 – 7.VI.555)

Vimos como o Papa Silvério perdeu o Papado para Vigílio, que era o candidato preparado pela imperatriz Teodora. Vigílio é considerado o 59.º Pontífice Romano, apesar da maneira questionável como foi empossado. Também é o primeiro Papa bizantino, pois foi colocado no cargo pelo imperador bizantino Justiniano. Era ambicioso e o seu Pontificado foi tumultuoso, preso na disputa entre os godos no Ocidente e os bizantinos no Oriente. Os seus sucessores herdaram um legado de problemas do seu mandato pontifício.

A imperatriz Teodora, esposa de Justiniano, esperava que o Papa favorecesse os eutiquianos (que professavam o monofisismo). Mas ficou desapontada. “Apesar dos esforços de Teodora, ele recusou-se a anular a condenação das teorias eutiquianas” (Caporilli, “Os Pontífices Romanos”). A fidelidade inabalável do Papa à Doutrina lembra-nos a promessa de Nosso Senhor a Pedro: «Orei por ti, para que a tua fé não desfaleça» (Lucas 22, 23).

Vimos que o imperador Justiniano realmente aderiu à fé ortodoxa, mas queria agradar aos monofisitas (uma natureza em Cristo) por razões políticas. Para isso, emitiu os “Três Capítulos”, uma condenação de três eclesiásticos já falecidos que aderiram à heresia nestoriana (duas pessoas em Cristo). Infelizmente, a intromissão do imperador em questões doutrinárias não foi bem recebida, nem no Oriente nem no Ocidente, e foi interpretada como uma afronta ao Concílio de Calcedónia, realizado em 451 (ver GUARDIÕES DAS CHAVES n.º 29).

Justiniano levou o Papa a Constantinopla, onde o pressionou a concordar com os Três Capítulos. Por outro lado, os bispos do Ocidente pressionaram-no a não concordar. O Papa Vigílio ficou como que preso entra as duas facções. O imperador fê-lo “prisioneiro honrado” (Brusher & Borden. “Popes through the Ages”, pág. 118), mas conseguiu escapar por uma janela – com a ajuda de uma corda – e procurou refúgio na Calcedónia. O imperador Justiniano convenceu-o a voltar e a aprovar o Segundo Concílio de Constantinopla, em 553 (o V Concílio Ecuménico). Depois de o Papa Vigílio finalmente concordar com o Concílio e os Três Capítulos, Justiniano enviou-o de volta a Roma, fazendo com que ele e os seus sucessores partilhassem o poder temporal na cidade com a “Sanção Pragmática” de 554 d.C. Trata-se do decreto imperial que reorganizou a Itália, depois de ter sido retomada pelo Império Bizantino dos ostrogodos. A Itália tornou-se uma província deste império, com uma nova estrutura governamental. A Sanção Pragmática confirmou e aumentou o poder temporal do Papa, tornando-o o protector da população civil e estabelecendo as bases para o poder político do Papado.

PELÁGIO I

(16.IV.556 – 4.III.561)

A conversão da Itália em província do Império Bizantino deu ao imperador Justiniano a possibilidade de influenciar a eleição do próximo Pontífice Romano, Pelágio I. Infelizmente, Pelágio era suspeito de ter participado na morte do Papa Vigílio, e levaria tempo até que fosse aceite pelos fiéis e pelo clero.

Pelágio era romano e trabalhava para o Papa pelo menos desde o tempo do Papa Agapito I (535-536), a quem acompanhou a Constantinopla. Tornou-se embaixador do Papa e amigo de Justiniano. Em 543, durante o Pontificado de Vigílio (537-555) e a última parte das Guerras Góticas (535-554), regressou a Roma. Nessa época, os godos, liderados por Totila, estavam em vantagem, embora tenham sido repelidos pelo general bizantino Narses. Pelágio tentou ajudar a população sofredora e protegê-la dos godos. Aparentemente, Totila respeitava-o e enviou-o como embaixador a Justiniano para negociar a paz.

Pelágio foi outra vez a Constantinopla para apoiar o Papa Vigílio na luta contra os Três Capítulos que condenavam os nestorianos. Quando Vigílio finalmente aceitou os Três Capítulos, Pelágio resistiu inicialmente. Por fim, acabou por os aceitar.

De Vigílio, ele também herdara o problema do cisma de Milão e Aquileia, que não conseguiu resolver. Outro problema que recebeu foi o da Gália. Felizmente, conseguiu resolver a questão, escrevendo uma carta oportuna ao rei e nomeando um excelente arcebispo como seu representante.

Pelágio tinha habilidades diplomáticas que o ajudaram a lidar com as questões doutrinárias, especialmente no que diz respeito aos Três Capítulos. Além disso, era um excelente administrador: “Administrava os bens papais ou o património de Pedro com mão eficiente. Era generoso na sua caridade para com os pobres. Usava livremente a autoridade concedida ao Papa pela Sanção Pragmática. A cidade de Roma, tão devastada pela guerra, sentiu a sua mão restauradora. Pelágio I morreu a 4 de Março de 561, um homem muito mais popular do que era quando ascendeu ao cargo” (Brusher & Borden. “Popes through the Ages”, pág. 120).

Pe. José Mario Mandía

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