Governo sensibiliza, população trabalha

Assinalou-se no passado dia 5 de Junho o Dia Mundial do Ambiente. Enquanto a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental de Macau (DSPA) organizou uma feira na praça do Hotel Sintra com jogos e “workshops” sobre a protecção ambiental, para sensibilizar os residentes para hábitos de reciclagem e uma vida mais verde, um grupo de cerca de 150 voluntários juntou-se sobre a alçada da “Green Future”, em colaboração com a Universidade de São José e o Instituto Politécnico de Macau, num evento denominado “Macau Coastal Cleanup Activity”, cujo resultado foram 43 sacos com 290 quilogramas de lixo oriundo do rio e do mar.

Macau é uma cidade pequena, mas devido à sua densidade populacional produz toneladas de lixo todos os dias. Se juntarmos a isto o facto de estar situado na foz do Rio das Pérolas, e todo o lixo proveniente das regiões vizinhas eventualmente poder vir a aterrar nas zonas ribeirinhas e nas praias de Macau, tudo ganha uma dimensão muito maior.

É um facto que as instituições públicas como o IACM ou a DSPA são uma parte fundamental do processo, visto que são responsáveis pelas questões ambientais e tratamento de resíduos, e em parte fazem bem o seu trabalho porque mantêm a cidade limpa, gerem os resíduos sólidos e as águas residuais, promovem algumas campanhas de sensibilização, entre outras actividades. No entanto, há ainda muito trabalho a fazer e talvez as feiras e jogos não sejam suficientes.

Muitos de nós observamos com frequência o lixo que se acumula nas praias e zonas ribeirinhas, que por vezes passam muitos dias sem que haja intervenção por parte das autoridades competentes. Alguns jornais e mesmo as redes sociais falam deste assunto regularmente, mas há outro tipo de lixo que nos passa ao lado. Falo dos resíduos que se podem encontrar nas traseiras dos prédios ou dos restaurantes, onde por vezes se acumula lixo proveniente do descuido de alguns proprietários ou inquilinos dos apartamentos, que tudo deixam cair pelas janelas, e falo de lixo tecnológico, como ares condicionados avariados ou outro material tecnológico que não sendo utilizado acaba empilhado num completo abandono. Uma situação perigosa, porque além de muitas vezes impedir a livre passagem de pessoas em caso de emergência, pode ser causa de incêndios, fonte de agentes transmissores de doenças e de contaminação do solo, do ar e da água – um perigo para a segurança e saúde públicas. Além disso, temos inúmeros “cemitérios” automóveis, que ocupam grandes áreas. Para além de não serem esteticamente bonitos, também podem contaminar os solos e degradar o meio ambiente.

A preservação do ambiente em Macau tem ainda um longo caminho a percorrer, sendo necessária uma melhor organização e gestão de prioridades. O tempo e dinheiro gastos em feiras de sensibilização e anúncios, que mais parecem feitos para crianças, poderiam ser utilizados em campanhas sérias dirigidas à população, no sentido de consciencializar hábitos de consumo e gestão de recursos; em fiscalizações constantes às traseiras dos estabelecimentos comerciais, restaurantes e prédios, com fortes penalizações para quem não cumprisse as regras de segurança relativa a resíduos domésticos e tóxicos; em contratação de pessoal para fazer a limpeza constante de todas as zonas ribeirinhas e praias do território; em encontrar soluções para os depósitos de carros e outros materiais tecnológicos, de forma a não atulharem os poucos espaços verdes da cidade e ali permanecerem por tempo indeterminado, tornando-se um perigo para a saúde pública.

A questão do ambiente não passa apenas pelas autoridades competentes, mas sobretudo pela acção de cada residente. A consciência ambiental, a protecção e preservação da natureza passa por todos, pelo que dou nota positiva à “Green Future” e a todos os voluntários que participaram na limpeza de algumas zonas costeiras da cidade. É de louvar esta iniciativa que deve servir de incentivo e inspiração para algumas instituições públicas e para a sociedade civil no geral. São necessárias mais iniciativas deste género para mostrar às pessoas que ao moderarem o consumo; reduzirem os plásticos e os produtos descartáveis; diminuírem a quantidade de embalagens; doarem equipamentos que já não utilizam ou arranjá-los no caso de estarem danificados, em vez de os descartarem; separarem o lixo doméstico; não abandonarem carros ou motos, etc., etc., também elas podem fazer parte da mudança.

Ana Marques

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