TERCEIRA ENCÍCLICA DO PAPA FRANCISCO JÁ ESTÁ À VENDA NA LIVRARIA SÃO PAULO
Faz um apelo ao discernimento político, ao fim das guerras, à fraternidade universal e à amizade social como os bálsamos necessários para devolver esperança e alento a uma humanidade ferida por um modelo económico e social pautado por desigualdades cada vez mais evidentes. Divulgada no início do mês, a encíclica Fratelli tuttijá está à venda na Livraria São Paulo graças à subsidiária de Macau das Publicações Claretianas.
Divulgada a 4 de Outubro, a terceira encíclica do Papa Francisco já está disponível em Macau e Hong Kong. Intitulada Fratelli tutti(Todos irmãos), o documento versa sobre o poder mobilizador da amizade e da fraternidade social, e foi dado à estampa no território pela subsidiária de Macau das Publicações Claretianas, que cumpre assim com o desígnio de imprimir e distribuir o mais rapidamente possível os textos e documentos assinados pelo Santo Padre.
A nova encíclica está disponível, em formato impresso, apenas em língua inglesa e pode ser adquirida na Livraria São Paulo, nas imediações da Sé Catedral, disse a’O CLARIMo padre Jijo Kandamkulathy, actual responsável pela estratégia editorial das Publicações Claretianas na RAEM. «Temos por tradição imprimir os documentos papais o mais depressa possível assim que são divulgados. É um trabalho que fazemos apenas para dar resposta às necessidades de Hong Kong e de Macau. A publicação de Fratelli tutti acabou por sofrer um atraso de dois dias devido ao facto de a encíclica ter sido divulgada no final do período da Semana Dourada», explicou o sacerdote. «Imprimimos um total de oitocentas cópias. Em Macau, a encíclica está disponível apenas em Inglês. A versão em língua chinesa será impressa apenas pela Conferência Episcopal. De qualquer forma, os livros estão disponíveis na Livraria São Paulo, em Macau. Em Hong Kong, podem ser adquiridos na Livraria São Paulo, em Shatin, e no Catholic Book Centre», acrescentou.
A nova encíclica do Papa Francisco é dedicada à fraternidade e à amizade social, valores que são tidos pelo Pontífice como essenciais para devolver a esperança e o alento a uma humanidade ferida por conflitos e por divisões artificiais, num contexto agravado desde o início do corrente ano por uma pandemia global que colocou a descoberto as fragilidades do modelo social e económico prevalecente. O Sumo Pontífice sustenta que a pandemia do novo coronavírus demonstrou que as “teorias mágicas” do capitalismo fracassaram e que o mundo necessita de uma nova classe política que fomente o diálogo e a solidariedade e abra mão dos conflitos, inclusive das chamadas “guerras justas” defendidas pela própria Igreja.
Para o padre Franz Gassner, director da Faculdade de Estudos Religiosos e Filosofia da Universidade de São José (USJ), a encíclica Fratelli tutticonstitui um importante grito de alerta sobre o outro «vírus» que tomou conta da Humanidade, o vírus do individualismo. «O Papa Francisco oferece uma orientação importante para que sejam ultrapassadas algumas maleitas da contemporaneidade, em particular no que diz respeito ao consumismo e a algumas das insuficiências do actual modelo político e económico. As sociedades impregnadas pelo vírus do individualismo e por interesses arraigados produzem muitas vítimas e são, em última análise, instáveis e estão condenadas a falhar», alertou o sacerdote. «O que a pandemia mostrou foi que o actual sistema económico e social é insuficiente para nos conduzir ao futuro. Um pensamento ensimesmado, o fomento da desigualdade e a prevalência de hábitos de consumo pautados pelo desperdício contribuem para a nossa ruína a longo prazo. A vacina que Francisco concebe contra estas maleitas são a “fraternidade” e a “amizade social”, “pensar e agir em termos de comunidade”, como o Papa sugere na página 116 da encíclica», explicou.
Na encíclica, o Papa Francisco aborda questões fracturantes como o tema das ideologias, o impacto do novo coronavírus, a edificação de novas fronteiras, a crise das migrações, o populismo ou a ferocidade do capitalismo de livre mercado, tão pródigo a criar riqueza, como a excluir dela milhões de pessoas. Para o padre Jijo Kamdamkulathy, a encíclica Fratelli tuttié a mais abertamente política das três que o Papa Francisco assinou nos sete anos e meio do seu pontificado, mas o aspecto central da mensagem papal aponta para um aspecto que tem sido sacrificado pelo corrente modelo social, ou seja, a dignidade humana. «O neo-nacionalismo que está a emergir em muitos locais do planeta procura construir muros em prol da auto-preservação, impedindo as pessoas de estenderem a mão aos outros, particularmente aos migrantes. Estamos a assistir a uma globalização da indiferença, em vez de nutrirmos um maior cuidado com os outro», lamentou o missionário claretiano. «O Papa elucida este aspecto ao evocar o homem ferido na parábola do Bom Samaritano. A história repete-se todos os dias nas opções políticas e sociais que tomámos, quer seja a nível pessoal ou a nível social. Somos chamados a decidir entre ser indiferentes ou a ajoelhar para ajudar os feridos que encontramos pelo caminho», referiu.
Mais pragmático do que propriamente conceptual , o enunciado de Fratelli tuttiencontra, no entender do padre Franz Gassner, fundamentação teológica no que o sacerdote austríaco denomina de «teologia da misericórdia»: «A palavra hebraica para “misericórdia”, “compaixão” e “ternura” é “rechem”, expressão que significa literalmente “útero”, “regaço”, “o colo de uma mãe”, o “local de nascimento”. Deus urdiu-nos a todos no seu amor no “útero da nossa mãe” (Salmos 139:13). É o local do consolo, da ternura, da cura, de um novo começo, de uma nova vida; o local para onde salta uma criança depois de ter caído. Ao comentar a Parábola do Filho Pródigo, o Papa Francisco clarifica isto em detalhe em Fratelli tutti. É o próprio Jesus quem invoca e traz à nossa presença o “Pai Misericordioso”, que se apercebeu “desde longe” deste filho perdido e deixou-se “mover pela compaixão” (do Grego, “esplagnisthe”, impelido a partir de dentro, a partir das entranhas)», assinalou o padre Franz Gassner.
«Ao contrário do que sucede com o filho mais velho, o Pai Misericordioso remove todas as barreiras e consegue abrir um novo capítulo na vida do filho há muito transviado. De facto, é como se o fizesse renascer: “Mas nós tínhamos que celebrar o regresso deste teu irmão e alegrar-nos, porque ele estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi achado. (Lucas 15:32)”. O amor é mais forte do que a morte. E este fundamento teológico é muito relevante para todos», defendeu o director da Faculdade de Estudos Religiosos e Filosofia da Universidade de São José, em declarações a’O CLARIM.
Marco Carvalho