Singapura e não só
Este fim de semana disputa-se o Grande Prémio da cidade-Estado de Singapura em Fórmula 1 – uma prova muito polémica, talvez a mais polémica do calendário. Se, por um lado, a FIA fala em motores ecológicos, para se diminuir a pegada do carbono, por outro lado, aceita realizar os Grandes Prémios nocturnos de Singapura, no Circuito de Marina Bay, e de Abu Dhabi, no Circuito de Yas Marina, sendo que ambos necessitam de uma enorme quantidade de energia eléctrica que não aparece do nada… tem que ser produzida!
Se retirarmos os pontos negativos, Singapura tem um bom circuito, que é apreciado por quase todos os pilotos que correm em Marina Bay. É “descomplicado”, com curvas lentas e rectas de alta velocidade, que precisa de bastante aderência, o que obriga a soluções aerodinâmicas diferentes de todas as outras pistas. Por incrível que possa parecer, as previsões apostam na Renault e na Red Bull para o pódio desta edição, sem sequer mencionarem uma palavra para os “dois grandes” – Ferrari e Mercedes – já para não falar da Force India, da Toro Rosso ou da Williams…
Daniel Ricciardo, da Red Bull, foi segundo nos últimos dois anos, estabelecendo o recorde da volta mais rápida em 2016, depois de ter saído da primeira linha do “grid”. Sendo um piloto experiente e oportunista – este ano, até ao momento, subiu ao lugar mais baixo do pódio por cinco vezes – tentará fazer “um bonito” e vencer em Singapura. Max Verstappen quer salvar a carreira e continuar na Red Bull em 2018. O jovem piloto holandês é muito rápido, mas atreito a acidentes e incidentes mecânicos. Das doze corridas já efectuadas, terminou apenas seis.
A Mercedes aceita que ambos os seus pilotos continuem a ter liberdade para se digladiarem na conquista do Campeonato do Mundo de Pilotos, algo que teria sido deixado de fora há uma ou duas corridas atrás. A segunda posição de Valtteri Bottas em Monza, a poucos segundos do companheiro de equipa, fez com que os responsáveis da marca alemã autorizassem os dois pilotos a correrem sem quaisquer obstáculos. De novo, os Mercedes parecem ser os reais candidatos a verem a bandeira de xadrez antes de todos os outros.
Para Singapura a Pirelli forneceu pneus ultra-macios, super-macios e macios, o que diz muito da necessidade de aderência deste circuito, que só foi inscrito no que calendário da Fórmula 1 em 2008.
Voltando atrás no tempo, regressamos a Monza e ao problema das penalizações para os pilotos na grelha de largada. Apenas um mestre em matemática absoluta poderia ter entendido o posicionamento dos carros. Quase metade foram destituídos das suas legítimas posições e relegados para algures na grelha. Os restantes acabaram beneficiados de forma absolutamente absurda e não merecida. Lance Stroll na primeira fila? Como? O jovem Stroll tem mostrado mais do que esperávamos, é verdade, mas ser beneficiado ao ponto de entrar para os anais da Fórmula 1 moderna, é ridículo! Uma vez mais ficámos a pensar se alguém pensa por ali. Voltamos a defender que as penalizações devem ser impostas às equipas, com perda de pontos ou algo do género. Com este disparate, sacrificaram os pilotos que arriscaram, uma vez mais, as suas vidas, numa qualificação debaixo de chuva, para que depois tudo seja dado de bandeja a outros mais lentos, configurando um autêntico “inverted grid”. Perguntaram-nos e perguntamos, como é possível penalizar um piloto em trinta lugares no “grid”, quando este só tem vinte posições? Isto para além de outras penalizações mais ou menos inferiores.
Quanto ao famoso “Halo” de má escolha, algumas pessoas vieram a público achincalhar Sir Jackie Stewart, ridicularizando o facto de defender a utilização deste equipamento. Se bem que compreendamos a posição dessas mesmas pessoas, pois partilhamos com elas a inutilidade do “Halo”, não podemos aceitar a piada de mau gosto feita contra Jackie Stewart. Trata-se de um tri-campeão do mundo de pilotos de Fórmula 1 que também foi por duas vezes vice-campeão. Depois de ter sofrido um acidente no Circuito de Spa-Francorchamps, em 1966, que o deixou preso dentro do carro, em posição crítica, com o rebentamento do depósito de gasolina – foi socorrido por outros dois pilotos (Graham Hill e Bob Bondurant) – Stewart dedicou-se a tentar sensibilizar todos os intervenientes da Fórmula 1, desde pilotos a organizadores e jornalistas, para a necessidade de mais e melhor segurança na categoria. Mas foi aquando da morte do seu companheiro de equipa, François Cevert, no circuito americano de Watkins Glen, que Jackie Stewart, que se sagrara campeão do mundo na corrida anterior, disse: «Basta de vermos estes garotos morrerem todos os fins de semana». A partir daí dedicou-se a fazer do desporto motorizado, e não só da Fórmula 1, um desporto mais seguro. Todos temos que lhe agradecer, especialmente aqueles pilotos que estão vivos e sem mazelas, e que vão competir este fim de semana no Circuito de Marina Bay.
Apesar de todo o respeito que nutro por Jackie Stewart, homem e piloto, sou contra o “Halo”. Como já aqui dissemos: acidentes como o sofrido pelo filho do recentemente falecido John Surtees, ou por Jules Bianchi, não têm peso estatístico face à grande quantidade de homens e mulheres que envergam um fato de competição e se enfiam em bólides todos os fins de semana. Por acaso, o “Halo” teria protegido a cara de Felipe Massa no acidente absurdo que sofreu no Circuito de Hungaroring há uns anos? Sou contra o “Halo”, mas também sou contra gozarem com um homem fantástico, que apenas peca por, possivelmente, estar um pouco desfasado no tempo. O que não reduz a minha (e, estou certo, de muitos outros) admiração pelo que conquistou.
Singapura tem o mesmo fuso horário de Macau. A agenda do Grande Prémio de Marina Bay está assim escalonada: Treinos livres 1, hoje, 16 horas e 30 – 18 horas; treinos livres 2, hoje, 20 horas e 30 – 22 horas; treinos livres 3, sábado, 18 horas – 19 horas. Provas de qualificação: Sábado, 21 horas – 22 horas. Corrida: Domingo, 20 horas – 22 horas.
A meteorologia local prevê trovoadas e chuva para sexta e sábado. Trovoadas dispersas e chuva esporádica para Domingo. As temperaturas irão oscilar entre os 29-30 de máxima e os 25-26 de mínima.
Manuel dos Santos