Mercedes sem rival?
Terminou a primeira sessão de testes da temporada de 2016. Este ano, as autoridades que controlam o desporto automóvel pouco ou nada fizeram para melhorar a adesão – leia-se, níveis de audiência e quantidade de espectadores nos autódromos – dos fãs, que suspiram por medidas funcionais que levem a disciplina de volta aos gloriosos tempos de antanho.
Promovem pesquisas mundiais, pedem a alguns milhares de “experts” por esse mundo fora que dêem as suas opiniões, e no fim deitam tudo para o cesto dos papéis, acabando por fazer o que a eles lhes interessa.
Como sempre, a primeira sessão de testes livres em Barcelona não é conclusiva nem – digamos – importante. No entanto, há indícios que não podem deixar de se notar. A Mercedes Benz teve os seus pilotos ocupados desde o primeiro momento. Ao fim dos quatro dias de testes averbaram 675 voltas, sem qualquer tipo de problema. Pelo meio, apresentaram um novo nariz para o carro, que poderá dar-lhes ainda mais vantagem aerodinâmica. À semelhança do ano passado, a marca alemã não se preocupou com a velocidade, mantendo ainda assim os seus carros entre os oito mais rápidos em pista, sem tentar andar muito depressa. Os mais directos adversários, Ferrari, Red Bull e, provavelmente, a Williams, cumpriram menos voltas, revelando carros rápidos e fiáveis. Ver-se-ão as performances destas equipas nos próximos testes. As atenções irão estar igualmente centradas nos motores Honda da McLaren, que em 2015 deram de bandeja o pior resultado de sempre à equipa fundada por Bruce McLaren. Para já, todos – pilotos, mecânicos e responsáveis de equipas – ficaram impressionados com a façanha da Mercedes. 675 voltas é mais do que dez Grandes Prémios de Espanha…
A Red Bull rebaptizou os seus motores com a marca Tag Heuer, nome que acompanhou o sucesso de várias equipas de Fórmula 1 em tempos idos. A Tag Heuer especializou-se em instrumentos de precisão e o seu logo é sinónimo de excelência. Chegará para levar a marca das bebidas energéticas ao esplendor de um passado recente? Surpresa das surpresas foi a prestação da Haas F1, pois a nova equipa norte-americana portou-se melhor do que algumas equipas tradicionais.
A Renault, uma vez mais de regresso (oficial) à Fórmula 1, apresentou um novo motor que, alegadamente, desenvolve 874 Hp (ou 652 Kw), mas os carros ainda não revelaram o seu potencial ou, quiçá, os motores necessitam de mais trabalho por parte dos técnicos da marca francesa.
Em termos puramente técnicos, o posicionamento dos escapes, mais livres e mais grossos, não alcançou o resultado esperado, sendo que os carros continuam a não debitar a som que os fãs tanto desejam.
A Pirelli, apesar de muito contestada por todos os sectores da Fórmula 1, continua como a única fornecedora de pneus. Segundo a fábrica italiana, os novíssimos pneus “ultrasoft” mostraram-se muito rápidos nos testes de Barcelona, mas a verdade é que não impressionaram. Deu-se o caso de pilotos “calçados” com pneus “supersoft” terem registado tempos muito semelhantes. A Pirelli oferece agora três tipos de pneus para cada fim-de-semana, sem contar com os pneus de chuva.
Como escrevemos no início deste ano, o calendário é o maior de sempre, com vinte corridas. Muitos estão contra a inclusão desenfreada de provas, cada vez mais “longe de casa”, levando o Circo a países sem qualquer historial no desporto motorizado. Estranha-se que Bernie Ecclestone, que continua como o patrão absoluto da Fórmula 1, tenha afirmado que não se daria ao trabalho de comprar um bilhete para ver uma corrida, porque são aborrecidas, e continue a adicionar novos Grandes Prémios sempre que pode!?
Cerca de 75 por cento das pessoas consultadas no final de 2015, sobre o que fazer para que a Fórmula 1 volte a ser competitiva, sugeriram que os carros tivessem menos apêndices aerodinâmicos, motores mais potentes e pneus maiores (mais largos e mais altos). Se olharmos com atenção aos actuais tempos por volta, verificamos que os carros modernos são mais lentos entre 3 a 8 segundos. Com tantos apêndices aerodinâmicos os carros só têm a perder. É verdade que são mais rápidos nas rectas, mas mais lentos nas curvas longas, onde a tracção dos pneus não acompanha o esforço aerodinâmico, que só funciona na perfeição quando há uma enorme quantidade de vento induzida pela velocidade do carro. Este mesmo problema sente-se ainda mais quando um carro se aproxima de outro com a intenção de o ultrapassar. Sem aderência, devido ao perfil do carro que o precede, não tem a possibilidade de efectuar a ultrapassagem, o que resulta nas “procissões” enfadonhas em que se tornou a Fórmula 1.
Ainda no capítulo técnico, a Fórmula 1 deverá adoptar a partir de 2017 um equipamento que protege o piloto em caso de acidente. Desde o desastre fatal que vitimou o filho de Sir John Surtees, há quatro anos, que muito se falou sobre tal equipamento, mas nada se adiantou. A morte de Jules Bianchi, no Japão em 2014, levou a mais estudos, estando a ser equacionada a instalação do modelo que apresentamos na ilustração deste texto. Supostamente não interferirá com o desempenho aerodinâmico dos carros, nem com o campo de visão dos pilotos.
O Campeonato do Mundo de Fórmula 1 arranca no dia 3 de Abril, com o Grande Prémio da Austrália, em Melbourne, que será transmitido em Macau pela Fox 2.
Manuel dos Santos