Circo pega fogo
Esta semana começamos pelo Grande Prémio do México, disputado há quinze dias. Uma vez mais houve grande dualidade de critérios por parte dos comissários, que beneficiaram alguns pilotos e prejudicaram outros. Logo na largada, Lewis Hamilton, com o seu Mercedes, “cortou” as duas primeiras curvas, ganhando uma vantagem muito significativa sobre todos os outros participantes.
Depois do sucedido, alguém apresentou imagens de duas das sessões de treinos livres, em que Hamilton fizera o mesmo, sendo que numa delas nem abrandou o andamento como se estivesse a treinar para o dia da verdade.
Na corrida, o piloto britânico da marca alemã não cedeu a vantagem alcançada ilegalmente e manteve a posição. Curiosamente, não sofreu qualquer penalização. Decorridas mais algumas voltas, Max Verstappen, o menino maravilha, fez o mesmo num outro ponto do circuito e também não cedeu a posição, apesar das indicações da sua “box”. O prejudicado foi Sebastian Vettel, num dos Ferrari. Depois disto, só podemos afirmar que a Fórmula 1 perdeu toda a credibilidade.
No final da corrida, Verstappen foi levado para a sala de repouso, junto com Hamilton e Rosberg. Houve um longo compasso de espera e um funcionário foi buscar o piloto holandês da Red Bull, que entretanto fora desqualificado pelo colégio de comissários. Fizera exactamente o mesmo que Hamilton, mas dizem as “más línguas” que por não ser britânico, nem se chamar Lewis, teve que ser castigado, segundo a letra do Regulamento…. Vettel passou assim a terceiro classificado. Foi preciso correr muito para chegar ao pódio a tempo dos festejos, muito úteis à saúde psicológica da Ferrari.
Mas as “brincadeiras de mau gosto” não tinham acabado. A Red Bull descobriu, numa passagem do vídeo oficial da prova, que o piloto alemão da Scuderia mudara de direcção durante a travagem numa das curvas do circuito, impedindo Daniel Ricciardo de lutar pela posição, e foi Ricciardo que levou o troféu para casa. Não se tratou de mais um caso com dois pesos e duas medidas, mas foi uma fantochada das antigas.
No calor da discussão em redor das manobras de Verstappen, Vettel insultou tudo e todos, incluindo o Comissário Chefe da FIA, Martin Whitaker, o que foi audível nas mensagens via rádio difundidas ao vivo. Muitos foram os que quiseram “crucificar” Vettel. A FIA voltou a surpreender tudo e todos, ao considerar normal que um jovem irritado, por algo que acontecera, recorresse àquele tipo de linguagem em público. Veremos o efeito de todos estes disparates no Brasil, já este fim-de-semana, ou então tudo não terá passado de uma mera tempestade num circuito de corridas.
A Fórmula 1 está a transformar-se num infantário. Depois de Sebatian Vettel ter ostentado durante algum tempo o título de mais jovem piloto na categoria, apareceu no ano passado Max Verstappen e na próxima época será a vez de Lance Stroll, de 18 anos (completados há apenas três semanas), filho de um multimilionário canadiano. É a aquisição da Williams para substituir Felipe Massa.
O menino Stroll andou a testar várias pistas onde são realizadas provas do Mundial de Fórmula 1, num Williams de 2014. Para além de lamentarmos que outros pilotos, aspirantes à Fórmula 1, não possam disfrutar do mesmo “mimo”, parece que a saída do veterano piloto brasileiro não terá sido tão voluntária como se quer fazer crer. É público e notório que o dinheiro não compra talento. Que o diga o brasileiro Pedro Diniz, que passeou a sua falta de jeito, durante dois anos, destruindo carros uns atrás dos outros. Parece não ser o caso de Stroll, que neste ano de 2016 venceu 14 corridas da Fórmula 3, depois de ter obtido 14 “pole positions”, tornando-se no mais jovem vencedor do Campeonato Europeu de Fórmula 3. Não é de espantar que não queira vir a Macau. Aparentemente, não tem nada mais a provar.
Este fim-de-semana a Fórmula 1 regressa ao Brasil, ao Autódromo José Carlos Pace, em São Paulo. Um circuito difícil, onde os Mercedes se têm sentido à vontade, mas onde as condições climatéricas podem pesar muito no conjunto de factores que influenciam a prova. Já vimos, num passado recente, corridas serem interrompidas, reduzidas e canceladas, por problemas climatéricos. As previsões da meteorologia não auguram nada de bom. Para hoje e amanhã, chuva e trovoadas. No Domingo, é esperado céu nublado com possibilidade de chuva fraca.
Em 2015 Nico Rosberg venceu a corrida, com quase oito segundos de avanço sobre o seu companheiro de equipa, Lewis Hamilton. Dava-lhe jeito repetir a proeza! Muitos ficaram com a sensação que Hamilton apenas andou a “cumprir calendário”, pois já tinha o título no “bolso”. Este ano, matematicamente falando, Hamilton ainda pode vir a ser campeão. No entanto, Rosberg tem recebido apoio por parte de alguns nomes sonantes da Fórmula 1, nomeadamente de ex-pilotos, como Villeneuve e Webber, e de pilotos no activo, como Ricciardo e Hulkenberg. Também há comentadores e jornalistas que gostariam de ver o piloto “alemão” coroado campeão do mundo de pilotos. Villeneuve afirmou que «ganhe quem ganhar, este ano será merecido». O que será que quis dizer com isto?…
Manuel dos Santos