Chamada para a Grandiosidade (21)

Na presença do grandioso “Outro”

A 5 de Agosto de 1958, o padre Karol Wojtyla, de 38 anos (futuro Papa João Paulo II), recebeu uma carta do cardeal D. Wyszynsky, solicitando-lhe que fosse imediatamente ao seu escritório, em Varsóvia.

Quando o padre Karol chegou, D. Wyszynsky informou-o que o Papa (naquele tempo Pio XII) o tinha nomeado bispo auxiliar de Cracóvia. Wojtyla aceitou e foi de imediato a um convento de irmãs ursulinas, que ficava ali perto, e perguntou-lhes se podia entrar para rezar. Elas não o conheciam, mas como vestia uma batina deixaram-no entrar e ficou a só na capela.

Passaram-se as horas, e quando as freiras estavam a comer a ceia pensaram oferecer-lhe algo para comer. Quando chegaram à capela, Karol estava prostrado no chão, em frente do tabernáculo. Então perguntaram-lhe se queria comer alguma coisa. Respondeu: «O meu comboio para Cracóvia não sai senão depois da meia-noite. Por favor, deixem-me ficar aqui. Tenho muita coisa para falar com o Senhor».

Vimos na semana passada que a humildade é realismo. Saber quem Deus é e reconhecer o que somos. Quando conseguirmos ter uma pequena ideia do que é a grandiosidade de Deus, e do quão pequenos nós somos, verificaremos imediatamente que não podemos viver sem Deus e que “sempre teremos muita coisa para falar com o Senhor”.

Uma consequência imediata da humildade é o espírito de oração. Um homem humilde reza necessariamente, e um homem muito humilde reza a todo o momento. Já um homem orgulhoso não vê necessidade de o fazer.

Por “espírito de oração” não queremos dizer que se rezem orações, de vez em quando. Rezar não significa fazer barulho em frente de Deus, queixando-nos das nossas frustrações e desilusões, ou enumerando os nossos pedidos e desejos. Rezar significa viver todos os nossos dias numa atitude de escuta da Voz de Deus e de antecipação dos Seus desejos: um homem humilde está atento e é docilmente receptivo à palavra de Deus.

Philip Yancey escreveu: “A maior parte das minhas lutas na vida cristã circunscrevem-se sempre aos mesmos dois temas: porque é que Deus não actua da forma como nós queremos que o faça, e porque é que eu não actuo da forma como Deus quer que eu o faça. A oração é o ponto de convergência exacta destes dois temas” (“E isto faz alguma diferença?”, pág.17).

 

Ouvir

O que podemos fazer para ouvir? O “Compêndio do Catecismo da Igreja Católica” pergunta: “Quais são as fontes da oração cristã?” E responde: “São a Palavra de Deus, que nos dá ‘o conhecimento superador’ de Cristo (Filipenses 3:8); a Liturgia da Igreja que proclama, faz presente e comunica-nos o Mistério da Salvação; as Virtudes Teológicas e as situações da vida quotidiana, porque nelas podemos encontrar Deus” (“Compêndio do Catecismo da Igreja Católica” nº 558).

Quando ouvimos, aprendemos a ver as coisas de um ângulo muito diferente: “Rezar é o acto de ver a realidade do ponto de vista de Deus” (Philip Yancey, “E isto faz alguma diferença?”, pág. 29). Descobrimos que a terra está cheia da Sua bondade (Salmo 33:5). Somos compelidos a exclamar “Sabemos interiormente que Vós fizestes tudo” (Salmo 104:24).

Antecipação. Ouvir faz-nos reconhecer que Deus trabalha sempre para o nosso bem (Romanos 8:28) e para o bem de todos. Quando nos tivermos assegurado deste facto, veremos que é lógico e fácil dizer: “Seja feita a Vossa vontade!”.

A humildade faz-nos deixar de lado as ambições, os nossos sonhos, os nossos projectos pessoais, em favor de um projecto de longe muito maior. Assim como assim, os nossos talentos e dons foram-nos concedidos com uma intenção: para o cumprimento de uma missão que é única a cada um de nós. Mas essa missão não descarta os nossos sonhos, em vez disso eleva-os a um nível mais alto. Ela eleva-nos muito mais acima do que alguma vez poderíamos chegar.

“E eu ouvi a voz do Senhor dizer: ‘Quem poderei enviar, e quem irá por nós?’ Então eu disse: Estou aqui! Envie-me a mim!” (Isaías 6:8).

Pe. José Mario Mandía

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