Singapura: Hamilton ou Rosberg?
O Grande Prémio de Singapura tem vindo a afirmar-se como um dos grandes clássicos do calendário da Fórmula 1, com a sequência de curvas mistas, tanto de alta como de baixa velocidade; a dificuldade em se saber exactamente onde se está, devido às barreiras amarelas uniformes; e um piso com todas as qualidades possíveis, desde o muito bom ao muito mau. Nunca se sabe o que se irá encontrar pela frente, com estilhaços (debris), óleos diversos, correctores de trajectória demasiado altos, as famosas bolas de borracha ultra-aquecidas (desprendem-se dos pneus quando estes se degradam e podem fixar-se no lado errado do pneu), e as lombas e ressaltos que podem atirar com um carro a alta velocidade contra as sempre eternas barreiras. Apesar de todos estes possíveis problemas, ou por causa deles, todos os pilotos, quase unanimemente, consideram o Circuito de Marina Bay, da cidade-Estado de Singapura, um dos seus favoritos, senão mesmo o favorito.
Com apenas nove anos de existência, o traçado foi inaugurado em 2008, depois de uma prova experimental. Com a assinatura do omnipresente Hermann Tilke, foi no entanto alterado e melhorado pela empresa KBR, Inc, a quem se deve o desenho final.
Começando pelos pneus, normalmente a Pirelli, empresa que fornece os pneus para a Fórmula 1, costuma levar para Singapura pneus suaves (soft) e super suaves (supersoft). Apesar de ainda ser cedo para saber quais os pneus que a marca italiana levará este ano e de terem sido introduzidos os pneus ultra suaves (ultrasoft), que se degradam muito depressa, concedendo aos pilotos apenas umas poucas voltas, os soft e supersoft deverão fazer parte do lote de pneus disponíveis.
A estratégia deverá voltar a passar por apenas uma mudança de pneus, começando com qualquer um dos suaves (softs), até cerca de 19/22 voltas, ou um pouco mais, e depois aguentar até ao fim com pneus intermédios.
Os carros em si deverão estar equipados com “areopacs” intermédios, que forneçam um bom apoio à saída das cinco ou seis curvas de baixa velocidade e que não comprometam a velocidade de ponta no resto do circuito.
Os três grandes – Mercedes, Ferrari e Red Bull – podem ser vencedores na cidade-Estado. Como Toto Wolff, da Mercedes, afirmou recentemente, nas oito edições da prova já disputadas ainda nenhuma das equipas da Formula 1 conseguiu uma “dobradinha” no pódio. A Mercedes poderá vir a ser a primeira a ter essa honra, mas tudo depende do comportamento dos seus dois pilotos, Lewis Hamilton e Nico Rosberg. Qualquer picardia poderá significar uma desistência muito embaraçante nesta altura do campeonato. Hamilton tem 250 pontos, mas Rosberg está nos “calcanhares” do seu companheiro de equipa com 248. E não nos podemos esquecer de Daniel Ricciardo (o “Ricardo” de todos os comentadores internacionais, que parecem ser incapazes de pronunciar o nome italiano do piloto australiano da Red Bull) está apostado a ser o melhor “dos outros” e qualquer erro da equipa alemã só o poderá beneficiar.
As outras equipas que se digladiam no meio do pelotão fazem tudo o que é possível para reduzir os estragos e já pensam nos carros do próximo ano. Esperam não sofrer muitos acidentes, que para além de custarem uma quantidade incrível de dinheiro, não são vistos com bons olhos pelos patrocinadores que pagam milhões para terem um pequeno sticker (autoadesivo) com o seu nome, ou o nome de algum dos seus produtos, estampado na carroçaria.
Entretanto, ficou-se saber que a Formula 1 foi vendida por cerca de 9 biliões de dólares americanos. Aparentemente a transacção não irá afectar as provas do campeonato, pelo menos até ao fim desde ano – e talvez mesmo até ao fim do próximo ano – mas os aficionados, espectadores, telespectadores e leitores de revistas especializadas torcem novamente o nariz.
No futuro esperam-se carros com menos apoios aerodinâmicos, áreas mais pequenas e asas traseiras muito mais baixas, que deixam se ser eficazes com o DRS (Dispositivo de Redução do coeficiente de resistência a avanço), necessitando, portanto, de maior apoio mecânico, o que se traduz em pneus maiores e mais largos. A juntar a isto uns pozinhos mágicos, desconhecidos, os senhores que aprovaram os novos regulamentos dizem que os carros da próxima geração serão mais rápidos e produzirão um som «digno da Formula 1». Esperemos que sim, embora pensemos, como muitos outros, que um carro com menor apoio aerodinâmico e com pneus maiores e mais largos terá um coeficiente de resistência a avanço muito superior, logo será mais lento!
Manuel dos Santos