Fórmula 1 – Época de 2016

Chegou a silly season

Este fim de semana a Fórmula 1 está de volta à Hungria, à pequena cidade de Mogyoród, mais precisamente ao Hungaroring, o Circuito da Hungria – assim designado porque quando foi construído, em 1986, não se chegou a qualquer acordo quanto ao nome para baptizar o mesmo. Foi uma aposta arriscada de Bernie Ecclestone, mas a loucura de organizar uma corrida de automóveis num país da “Cortina de Ferro”, em plena “Guerra Fria”, deu certo!

O Hungaroring é composto por uma longa recta, duas rectas mais pequenas, uma a descer e outra a subir; e uma sequência de pequenas rectas e curvas onde o apoio aerodinâmico e atracção à saída das curvas é quase mais importante do que a velocidade de ponta na recta da meta. Dizem as más línguas que o traçado original seria outro, mas o aparecimento de vários lençóis de água subterrâneos durante a construção condicionaram o desenho da pista. Também por essa razão a pista ficou estreita, difícil de ultrapassar, sendo conhecida como “Mónaco sem casas”.

Nos primeiros treinos livres o piso está sempre em mau estado devido a uma notória falta de uso. É normal haver batidas com maiores ou menores estragos para os carros. A Mercedes não se tem dado muito bem neste circuito, com uma única vitória em 2013, se bem que Lewis Hamilton já tenha vencido na Hungria por quatro vezes, três delas pela McLaren, em 2007, 2009 e 2012, para além da vitória pela Mercedes em 2013.

Desde o seu primeiro Grande Prémio, em 1986, o Hungaroring foi palco de alguns dos melhores momentos da Fórmula 1. No ano de estreia, o mundo espantou-se com duas ultrapassagens, ambas feitas por Nelson Piquet, da Williams-Honda, ao seu compatriota Ayrton Senna, este num Lotus-Renault. Piquet chegou, das duas vezes, com excesso de velocidade ao final da recta da meta, sabendo que se travasse sairia da pista. Assim, atravessou o carro, numa manobra que ficou na retina de quantos assistiram, não uma, mas duas vezes, na mesma corrida. Autêntico “drifting” a mais de 200 Kph!

Em 1988 deu-se o duelo fantástico entre Ayrton Senna e Alain Prost, ambos em McLaren-Honda, com o piloto brasileiro a vencer por 25 centímetros… Em 2003, um jovem piloto espanhol de 22 anos, quase desconhecido, chamado Fernando Alonso, em Renault, deu um recital de condução, vencendo a corrida e sagrando-se – à época – no mais jovem piloto a vencer uma corrida de Fórmula 1, seguido por Kimi Raikkonen, depois de ter dado uma volta de avanço ao campeão do mundo desse ano, Michael Schumacher, num Ferrari que teimava em não andar.

Por outro lado, em Hungaroring também se registaram momentos menos bons. Em 2005 a Red Bull perdeu os seus dois carros na primeira curva, com Christian Klien a dar vários saltos mortais, cortesia do Sauber de Jacques Villeneuve, enquanto David Coulthard colidia a alta velocidade com uma asa traseira que se soltara do Renault de Alonso. Em 2010, Michael Schumacher, num Mercedes, ao sentir-se ofendido com a velocidade do seu ex-companheiro de equipa, Rubens Barrichello (Williams-Cosworth), “espremeu” o piloto brasileiro contra o muro de protecção, para não ser ultrapassado. O multi-campeão do mundo foi penalizado em quinze segundos. Barrichello acabou no décimo segundo lugar, com Schumi a terminar no décimo quarto. O vencedor foi Sebastian Vettel, num Red Bull-Renault.

Com a aproximação das férias de Verão o “paddock” começa a ferver com histórias e boatos. Sergio Marchionne, o presidente da Ferrari, decidiu que a Scuderia estava mal – e está! – e meteu mãos à obra. Foi ver o porquê das coisas e, diz-se, que há ou haverá “staff” de vários departamentos a mudar de lugar ou a ser capacitado para lugares de maior responsabilidade. Talvez esta seja a concretização do que Maurizio Arrivabene, director desportivo da casa de Maranello, deixara no ar depois de um desconcertante Grande Prémio do Reino Unido. De notar que há muito que a Ferrari já não vê um dos seus dois pilotos, Sebastian Vettel e Kimi Raikkonen, ambos campeões do mundo, no lugar mais alto do pódio.

Na Mercedes fala-se que um dos pilotos deverá ser dispensado para dar lugar a uma equipa menos problemática do que a actual. Se levarmos em conta que Nico Rosberg ainda não assinou o novo contrato com a equipa alemã, poder-se-á pensar que será ele o escolhido para sair. Se Rosberg sair, o substituto poderá ser Alonso, que se encontra descontente com as prestações do motor Honda dos McLaren. No entanto, poderá dar-se o caso de “sair da frigideira para cair no fogo”. Hamilton e Alonso, num passado não muito distante, deram muito que falar, com uma animosidade muito semelhante à de Hamilton e Rosberg. Alonso acabaria por sair apressado para a Ferrari, onde não se deu muito bem, e Hamilton mudou-se no momento exacto para a Mercedes com a saída de Schumacher. O ego do britânico não deverá aceitar de novo a parceria com Alonso. E se quem saísse fosse Hamilton e a nova equipa viesse a ser composta por Alonso e Rosberg? Estamos em crer que dar-se-ia o mesmo, porque o piloto espanhol também é uma “prima donna”, sendo que o dueto poderia acabar mal. Sem soluções aparentes, poderá Toto Wolff dar um violento puxão de orelhas aos seus dois pilotos, ficando tudo na mesma durante algum tempo… Se Hamilton saísse (hipótese remota, embora na Fórmula 1 nunca se saiba) para onde iria? A Red Bull, a Force India e a Ferrari estão fechadas. E não estamos a ver Hamilton na Williams, se Massa sair, o que é muito provável. Será, pois, que Frank Williams tem dinheiro para pagar ao piloto britânico? Se Massa sair há uma fila de jovens que dariam tudo para se sentarem num Fórmula 1 já no próximo ano, isto sem contar com os terceiro pilotos de todas as equipas.

Manuel dos Santos

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *