Tudo em Aberto
“Tudo em aberto”: foram as palavras do piloto brasileiro da Williams Martini Racing, Felipe Massa, que afirmou poderem-se esperar algumas surpresas no primeiro Grande Prémio desta temporada.
Uma coisa é certa, os comentadores especializados apontam os Mercedes Benz como favoritos aos títulos deste ano, repetindo as prestações de 2014, onde apenas não venceram três corridas para a Red Bull Renault, com Daniel Ricciardo a assinar todas elas. Mas não foi um ano “limpo”, pois a equipa alemã sofreu alguma falta de fiabilidade nos seus carros. Nas três sessões de treinos oficiais que decorreram no mês de Fevereiro em Espanha os Mercedes Benz, com os dois pilotos – Lewis Hamilton e Nico Rosberg – a revezarem-se ao volante da única “Flecha de Prata” enviada para Barcelona, fizeram quase o triplo da quilometragem da sua mais directa rival, a Ferrari. A razão para a rodagem de tantos quilómetros terá sido testar, quase em exclusivo, a fiabilidade dos carros em simulações sucessivas de distâncias de corrida.
Os outros putativos pretendentes ao lugar mais alto do pódio, Ferrari, Red Bull, Williams e Lotus, foram consistentemente mais rápidos que os carros alemães… até à ultima sessão. Nos dois últimos dias os Mercedes Benz deram um “banho de água fria” a todos os presentes, ao rodarem na casa de um segundo por volta mais rápido que todos os outros, durante algumas voltas. Pneus super macios? Pouca ou quase nenhuma gasolina no tanque? Um motor para estoirar só para o espectáculo? Ninguém o pode afirmar com absoluta certeza, mas as outras equipas ficaram de pé atrás. No entanto, Toto Wolff, o “patrão” da equipa, diz que nada é 100% seguro e que tudo poderá acontecer.
Outra equipa que se revelou muito competitiva foi a Ferrari, que com os ex-campeões do mundo de pilotos Sebastian Vettel e Kimi Raikkonen mostrou-se muito agressiva e rápida, ainda que, aparentemente, um pouco menos veloz do que os carros alemães. A questão que todos colocam é se mais uma vez a Ferrari, useira e vezeira nestes jogos de ocultação de dados, não terá voluntariamente “segurado” os pilotos para deixar uma imagem diferente da realidade. A chegada da nova equipa de gestão da Scuderia, liderada por Arrivabene (“chega bem”, em Português), parece ter sido a “pedrada no charco” que reavivou a mais antiga equipa da Fórmula 1, a única que esteve sempre presente desde aquele mítico dia 13 de Maio de 1950 no Circuito de Silverstone.
No computo geral, poder-se-á afirmar que a Ferrari, a Red Bull, a Williams e a Lotus estão perto das prestações da Mercedes Benz, e embora tenham tido pequenos problemas, normais nos novos carros, apresentam-se competitivas para o fim de semana que hoje começa.
A Red Bull alinha agora sem Vettel, mas com Daniel Ricciardo (este demonstrou poder ser muito mais competitivo que o ex-companheiro de equipa) que passa a ocupar o lugar de primeiro piloto, sendo secundado pelo russo Daniil Kvyat (subiu um degrau na hierarquia das equipas Red Bull, passando da Toro Rosso para a Red Bull).
Por sua vez, a Toro Rosso inscreveu dois pilotos novatos, dois jovens talentos que passaram por Macau recentemente. Max Verstappen de 17 anos e Carlos Sainz Jr. de 20 foram as escolhas da equipa. O facto de Max Verstappen ter sido contratado para piloto de Fórmula 1 com apenas 17 anos levou a FIA a alterar os regulamentos, para barrar a entrada a pilotos com menos de 20 anos, mesmo que sejam “meninos-prodígio”, como é o caso do filho do ex-piloto holandês Jos Verstappen. Aparentemente todos os olhos estarão focados nestes dois jovens, que prometem um futuro muito interessante.
A Williams continua com os mesmos nomes do ano passado, Felipe Massa e o finlandês Valtteri Bottas, que provaram ser um par muito consistente, veloz e coerente. Massa teve bastantes dificuldades em manter-se na pista, mas quase sempre por culpa de terceiros, o que o coloca na lista dos pilotos mais azarados da F1.
A Lotus, que pela primeira vez na sua história está equipada com motores Ferrari, veremos como se comporta. Quanto à Sauber, de Monisha Kaltenborn, está a braços com um problema. Depois de ter despedido Giedo van der Garde, para dar lugar a Felipe Nasr e este fazer equipa com Marcus Ericsson, teve de o readmitir por decisão de um tribunal australiano. Assim, fica com três pilotos de corrida para apenas dois carros…
E, finalmente, a McLaren. O que se passa? Os problemas com os motores da Honda eram esperados e não espantaram ninguém, mas o acidente de Fernando Alonso deixou muitas dúvidas na forma como foi gerido pela equipa inglesa. Ao longo da sua longa história de 66 anos a Fórmula 1 viu muitos pilotos sofreram concussões graves em acidentes muito mais violentos e com carros que não suportavam o que os carros de hoje suportam. Podemos citar dois casos, ambos da mesma equipa: Nelson Piquet, em Imola, e Nigel Mansell, no Japão. Dois acidentes violentos, mas os dois pilotos voltaram ao circuito no dia seguinte; não participaram nas respectivas corridas, mas também não estiveram em “quarentena” mais de 24 horas. Afinal, o que se passou com Alonso? Todos esperam vir a saber (muito) mais.
Este fim de semana ver-se-á quem é quem na primeira prova do Campeonato, embora a hierarquia só venha a ser realmente estabelecida quando os carros alinharem em Maio para o Grande Prémio de Espanha.
Manuel dos Santos